“Juntos podemos defender a justiça e um futuro melhor para os trabalhadores em todo o mundo”.
Sete sindicatos nacionais estadunidenses acabam de anunciar a formação de uma Coalizão Sindical Nacional pelo Cessar-Fogo, que inclui também várias estruturas locais. A coalizão representa 60% dos sindicalistas do país. Entre os membros desta coalizão encontram-se os três maiores sindicatos nacionais dos Estados Unidos (o sindicato dos professores NEA, o sindicato do setor de serviços SEIU e o sindicato dos professores AFT, o maior sindicato da confederação americana AFL-CIO). No total, os sindicatos que pertencem a esta coalizão reúnem 9 milhões de membros, ou 60% dos sindicalizados nos Estados Unidos.
Este é o resultado de uma batalha levada passo a passo nas organizações sindicais. Desde o início do ataque de Israel a Gaza, os sindicatos tomaram posição a favor de um cessar-fogo imediato: sindicatos locais de professores, de estivadores, etc.
O sindicato dos eletricitários (UE) tomou a iniciativa de um apelo nacional pelo cessar-fogo, onde aponta o papel do governo Biden na situação da Faixa de Gaza, e conclui: “É agora a vez do movimento operário fazer ouvir a sua voz e exigir um cessar-fogo. Juntos podemos defender a justiça e um futuro melhor para os trabalhadores em todo o mundo”.
Este apelo foi assinado pelo sindicato dos trabalhadores do setor automobilístico (UAW), que acaba de obter aumentos substanciais para os trabalhadores do setor após quarenta dias de greve, pelo sindicato dos comissários de bordo (AFA), pelo sindicato dos enfermeiros (NNU); estes são sindicatos combativos, que frequentemente recorrem à greve para defender os interesses dos seus membros.
O apelo se apoiou na tomada de posição de 13 membros do parlamento dos EUA que, tendo à frente Rashida Tlaib, deputada democrata e membro da organização socialista DSA, exige do governo Biden o cessar-fogo. Essa batalha nos sindicatos também levou a NEA, o SEIU e a AFT a tomarem posição, embora de forma menos explícita sobre o papel dos Estados Unidos e do seu governo e, finalmente, obteve uma declaração da confederação sindical AFL-CIO a favor do cessar-fogo.
Um elemento de ruptura com o Partido Democrata
O desenvolvimento desta coalizão é um novo passo nesta luta: mesmo que estes três grandes sindicatos não tenham assinado formalmente o apelo iniciado pelo sindicato dos eletricitários, eles participam numa organização que apela à sua assinatura e realizou, em 22 de fevereiro, uma videoconferência com os presidentes do UAW e da NEA, e também com as deputadas democratas Rashida Tlaib e Summer Lee, apoiadas pelo DSA.
O Partido Democrata de Joe Biden depende dos sindicatos para as suas campanhas eleitorais: precisa das suas finanças, da sua capacidade de mobilizar os sindicalizados para fazer a sua campanha e da base eleitoral que representam; a maioria dos sindicatos se prestou voluntariamente a este papel há décadas, seja a confederação AFL-CIO, ou sindicatos como a NEA ou a AFT.
Embora não constitua, nesse momento, uma ruptura propriamente dita com o Partido Democrata, esta denúncia da política do governo Biden sobre uma questão internacional é uma cunha introduzida no sistema habitual de apoio sindical aos democratas.
Numa situação em que Biden é candidato à reeleição, e tem como único oponente à nomeação democrata um parlamentar (Dean Phillips) que votou a favor de todas as medidas do seu governo, Rashida Tlaib apelou ao voto em branco nas primárias democratas como forma de se opor ao governo Biden. O apoio dado pela coalizão sindical à sua posição sobre Gaza reforça a ruptura com o governo.
O Partido Democrata está em crise. Não conseguiu encontrar nenhum outro candidato além de Biden, enfraquecido pela idade; embora retenha o apoio formal dos principais sindicatos, as suas bases não confiam nele e levam as suas direções a tomar distância do governo.
É impossível prever os desenvolvimentos que ocorrerão daqui até as eleições presidenciais de novembro próximo e os que delas resultarão. Mas a própria existência desta coalizão é um importante ponto de apoio para a independência sindical nos Estados Unidos.
Devan Sohier
Publicado no jornal francês, Informations Ouvrières, ed.797, tradução Adaias Muniz