Febre Amarela: regressão nas condições de saúde

A febre amarela, assim como as outras doenças transmitidas por mosquitos, tem sua história baseada no controle que conseguimos fazer através de políticas públicas de Estado. A última ocorrência dessa doença dentro das cidades, antes da catástrofe de agora, é relatada na década de 40. Em 2014 e 2015 foram registrados os primeiros casos dessa doença fora da zona amazônica, e em 2017 o Ministério da Saúde divulgou números alarmantes: 545 casos e 164 óbitos no período de 1º julho de 2017 a 20 de fevereiro de 2018! Número maior de casos do que somados os dos últimos 20 anos!

Em 2015, o crime da quebra da barragem da mineradora Samarco em Mariana, alterou os ecossiste­mas ao longo da bacia do Rio Doce em Minas Gerais. Há a teoria da extinção dos predadores naturais do mosquito que transmite a febre amarela nas matas, gerando a cres­cente transmissão da doença, o que explica o início da epidemia em 2016 em Minas Gerais.

Cortes na Saúde impedem a prevenção

Combina-se a esse desequilíbrio o aperto das políticas de ajuste fiscais após o golpe, com corte de gastos em políticas de saúde e prevenção, provocando a explosão da doença, em cujo combate o fator primordial é a prevenção.

Por exemplo, em São Paulo, o prefeito Dória programa fechar 50 Unidades Básicas de Saúde e reduzir o tempo de funcionamento em diversas outras. As últimas duas unidades fechadas são em plena área de risco da expansão da Febre Amarela, e são unidades responsá­veis tanto pela prevenção quanto pela vacinação! Não surpreende, no auge do desespero, vermos a invasão de uma Unidade na Zona Leste – UBS Jardim Santa Helena em janeiro desse ano, pois as 300 doses disponíveis no dia não davam conta do contingente que aguardava no portão. Depois disso o prefeito disse para população não mais pro­curar as UBS e aguardar em casa as senhas, que chegam muito aquém da necessidade. Como uma cidade como São Paulo, que já em 2017 possuía uma combinação de estar ao lado dos estados em epidemia e com a população sem vacinar não se programou para prevenção?

Com a falta de planejamento faltou vacina no início de 2018. A vacina é produzida pela FioCruz que é alvo de processo escancarado de sucateamento! Nos primeiros dias de 2018 o ministro da Saúde anuncia a implementação do fracionamento de doses para os estados da BA, RJ e SP, tendo como base seu uso na África (Congo), para aumentar o contin­gente de pessoas vacinadas em um curto prazo de tempo.

Segundo o ministro da Saúde es­tão aguardando uma nova fábrica da Libbs farmacêutica, dentro de um acordo com transferência da produção que antes era do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos – Bio-manguinhos, da Fiocruz, utili­zando essa epidemia para privatizar a produção federal de vacinas.

A única estratégia para evitar a propagação da doença é a vacinação, pois não há tratamento direciona­do, apenas suporte a vida de quem adoece. Com a cobertura vacinal adequada- mais de 80% de pessoas vacinadas- existiria um risco muito menor do surto em curso acontecer.

A realidade é que estamos frente a uma incapacidade de resposta do Estado, cuja tragédia foi anunciada, e é fruto das políticas de privatizações junto a redução dos gastos em polí­ticas públicas e preventiva de saúde, e temos os trabalhadores adoecendo e morrendo dentro dos hospitais.

Juliana Salles

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