O semanário francês “Informações Operárias” (do Partido Operário Independente, POI), que normalmente sai às quartas-feiras, soltou um suplemento na segunda-feira, 30 de novembro, sobre as manifestações ocorridas em todo o país no dia 28, desafiando o confinamento e o estado de emergência decretado pelo governo Macron. Abaixo a matéria principal desse suplemento, com intertítulos da redação.
“Neste sábado, 28 de novembro, ocorreram manifestações de massa em todas as cidades do país. Em Paris, uma multidão impressionante, compacta, de mais de 200 mil pessoas, concentrou-se entre a Praça da República e a Bastilha, com as ruas vizinhas abarrotadas. Em todas as partes, a imensa maioria é de jovens, jovens assalariados e estudantes. Nas numerosas passeatas, cartazes e balões de sindicatos que decidiram estar presentes.
O que eles querem é a retirada da lei de “segurança global”, o fim da escalada autoritária do poder, da violência e da repressão do Estado. Alguns dias antes, centenas de refugiados foram expulsos brutalmente da Praça da República e circulou um vídeo que mostrava o espancamento racista de um homem negro por vários policiais. Fatos insuportáveis que provocaram uma onda de indignação. O governo, assustado, se disse preocupado pelos atos de “violência policial”. Mas quem é que há dois anos multiplica leis arbitrárias e liberticidas? Quem ordenou a repressão aos Coletes Amarelos, aos estudantes, aos manifestantes? Quem instaurou, com o estado de emergência, um regime de exceção continuamente renovado há meses? Quem dá as ordens aos policiais, senão o chefe de polícia, o ministro do Interior, o chefe do governo?
Cartazes expressam a raiva acumulada
Neste 28 de novembro, milhares de cartazes feitos pelos manifestantes eram contra Macron, contra seu governo e sua política. Eles expressam a raiva acumulada na população, na juventude, levadas ao limite pelo estado de emergência e pelo confinamento que o governo, que segue destruindo a saúde pública e fechando milhares de leitos hospitalares, decidiu e os utiliza para questionar todas as liberdades e melhor continuar a sua política destruidora a serviço do capital financeiro. Uma política que é responsável pela liquidação em massa de postos de trabalho, para dar maiores lucros ao capital financeiro e às multinacionais, às quais o governo dá de presente centenas de bilhões. Decisões tomadas em meio ao pânico, por um governo no impasse e que navega sem rumo.
Crise sem precedentes
No mesmo momento, uma crise política sem precedentes desde o início do governo Macron dilacera as altas instâncias do Estado, aterrorizadas pela revolta que surgiu em particular entre a juventude, apesar do estado de emergência e da multiplicação de medidas de intimidação. Na semana passada, Castex (primeiro ministro, NdT) anunciou sua intenção de confiar a uma comissão, dirigida pelo presidente da Comissão Nacional Consultiva de Direitos Humanos, a tarefa de modificar o artigo 24 (que proíbe a “filmagem de membros das forças de segurança com a intenção de prejudicar sua integridade física ou mental”, NdT) da lei de “segurança global”. Imediatamente o presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, e o presidente do Senado, Gérard Larcher, se opuseram à decisão do primeiro ministro. Dois dias depois de ver a amplitude da mobilização do sábado, os líderes da maioria parlamentar acabaram de anunciar nesta segunda-feira, 30 de novembro, que vão reescrever completamente o artigo 24 da lei de “segurança global”.
Todos esses acontecimentos são a expressão de um poder, de um regime, que se desagregam. É a razão de que eles estejam nesta fuga para adiante autoritária e que queiram aprovar a lei de “segurança global”. Uma lei que as massas exigem ser retirada.
A amplitude das manifestações de 28 de novembro marca uma modificação e fará história.”