O plano da primeira ministra britânica, Theresa May, para o Brexit (saída da Grã-Bretanha da União Europeia-UE, aprovada em plebiscito popular de 23.06.2016 NdT) busca manter uma relação econômica estreita com a UE, por meio da criação de uma zona de livre-comércio para os bens industriais e os produtos agrícolas.
Mas ele foi rechaçado nos dias 19 e 20 de setembro, em Salzbourg, na Áustria, durante uma reunião informal de chefes de estado europeus. Para eles, o plano May é uma grave ameaça ao mercado único pois um país do exterior aproveitaria as vantagens desse mercado sem cumprir com suas obrigações.
Por outro lado, dentro do seu próprio Partido Conservador, Theresa May enfrenta dura disputa com a ala pro-Brexit que considera seu plano por demais conciliador com a União Europeia.
Os dirigentes conservadores se atropelam para assumir o controle do Partido a poucos dias da cúpula oficial de chefes de estado, em Bruxelas, em 18 e 19 de outubro, quando deveriam se concluir as negociações sobre o Brexit. Como registra o jornal The Observer “a ameaça de ver a Grã-Bretanha sair de maneira catastrófica, sem acordo com a União Europeia, cresce a cada dia”.
O Partido Trabalhista pronto para substituir o Governo May
Em 30 de setembro, o Partido Trabalhista (Labour Party) realizou sua Conferência, em Liverpool, com a histórica presença de 13 mil pessoas (o partido cresceu de 200 mil filiados em 2010 para cerca de 540 mil agora).
A direita, alinhada com o ex-primeiro ministro Tony Blair, esperava dividir a Conferência com a proposta de novo referendo sobre o Brexit.
Mas a ampla maioria dos delegados aprovou resolução afirmando: “O plano de Theresa May para o Brexit ameaça o emprego, a liberdade de circulação, a paz na Irlanda do Norte, o Serviço Nacional de Saúde. Ele prevê futuros acordos comerciais duvidosos e a desregulamentação ao estilo estadunidense, ameaçando nossos direitos, nossa liberdade, nossa prosperidade. A Conferência definiu seis pontos fundamentais sobre o Brexit. Os deputados trabalhistas devem votar contra qualquer acordo conservador que não cumpra esses critérios (…).”
“Votaremos contra toda redução de direitos”
Em seu discurso de encerramento, Jeremy Corbyn lembrou: “Nossa prioridade é clara: pretendemos obter o melhor acordo possível sobre o Brexit em matéria de empregos e de nosso padrão de vida a fim de reforçar nossos planos de recuperação econômica. Nós votaremos contra toda redução de direitos, normas ou proteções e vamos nos opor a um salto à frente na desregulamentação. No estado atual das coisas, o Partido Trabalhista votará contra o plano May e se oporá à ideia de sair da UE sem acordo.”
Dirigindo-se a May, ele concluiu: “Se vocês não podem negociar um acordo que proteja o emprego e os direitos, abram espaço a um partido que pode fazê-lo.”
A direção indicada é clara: mobilizar todo o partido para tirar os conservadores e acabar com “oito anos de austeridade destrutiva e terceirização obsessiva”. Mobilizar por um governo do Partido Trabalhista que renacionalize as ferrovias, a água, a energia e os correios. Um governo que realize “a maior extensão de direitos trabalhistas deste país”, isto é, que termine com os contratos zero hora, com a precariedade do auto-empreendedorismo e as leis antissindicais. Um governo que restabeleça um serviço de saúde pública e que ponha fim ao programa de privatização chamado de “escolas livres” e retome o controle das escolas privatizadas que estão em situação de falência.
Correspondente