Há 32 anos morria C.L.R James

Há exatos 32 anos, em 31 de maio de 1989 falecia C.L.R James.

Militante marxista nascido em Trinidad y Tobago, James esteve na origem da IV Internacional, tendo contribuído significativamente com as primeiras elaborações dos trotskista sobre a questão do povo negro e da emancipação das nações sob julgo colonial na África e na América Latina. James desenvolveu um importante dialogo com Trotsky sobre estes problemas.

Depois de se separar da IV Internacional, C.L.R.l James, sem nunca assumir posição hostil ao marxismo e ao movimento operário, dedicou sua vida ao estudo e ao combate ao imperialismo sob o signo do pan-africanismo.

Para lembrar de sua vida e obra, republicamos este pequeno texto saído no Jornal O Trabalho em 2010, indicando a leitura de sua obra-prima, Os Jacobinos Negros, uma monumental história da primeira revolução negra, que levou o Haiti à independência. O texto foi reproduzido no blog da Editora Boitempo.

Os jacobinos negros – Épica e tragédia na obra de CLR James

(Publicado Jornal O Trabalho e no Blog da Editora Boitempo)

O Haiti sofre há quase 10 anos uma ocupação militar das tropas da ONU lideradas pelo Exército Brasileiro. A ocupação vem se somar à pobreza extrema a que a maioria absoluta está submetida e que se agravou com a catástrofe provocada pelo terremoto ocorrido em janeiro de 2010. O desastre deixou a nu a decomposição do Estado haitiano, a liquidação dos serviços públicos que transformou o país em livre zona de caça das ONGs das diversas latitudes. A ocupação, de outro lado, vem cumprindo a tarefa de perpetuar este estado de coisas.

Para compreender como se chegou a isso, uma sugestão de leitura essencial é Os jacobinos negros – Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos (Boitempo, 2000), obra de 1938 do militante antilhano CLR James. Aparecido no momento da ascenção do nazifascismo e das ideologias da superioridade racial, a obra de James retomava a épica revolução negra de São Domingos, liderada por Toussaint L’Ouverture, que resultou na declaração de independência do Haiti em 1804.

São Domingos se constituía, na segunda metade do século XVIII, na pérola das antilhas, a mais próspera das colônias européias nas Índias Ocidentais (a ilha de São Domingos foi colonizada em parte pelos franceses, e em parte pela Espanha e pela Inglaterra). Rica em cana-de-açucar, anil e outros produtos agrícolas, seus negócios comerciais eram movimentados, em última instância, pelo trabalho dos escravos negros, eles mesmos objeto de intensa atividade comercial.

A última década do século XVIII, sob o impulso da Grande Revolução Francesa, vai conhecer em São Domingos uma extraordinária aceleração das lutas emancipacionista dos negros escravizados, num contexto de uma sociedade colonial complexa onde os interesses das diversas camadas e etnias se encontravam e desencontravam com os dos sucessivos partidos dominantes ao longo dos anos revolucionários na França.

De maneira geral, como James mostra ao longo de seu livro, entretanto, o grande impasse colocado é o fato de que a burguesia francesa, uma vez assenhorada do poder, impõe uma era reacionária de recuo das conquistas da Revolução, inclusive da abolição da escravidão, decretada em pleno domínio dos Jacobinos em 1794.

O livro de James, um relato de rara riqueza e vivacidade, além de amparado em farta e profunda pesquisa bibliográfica e documental, segue o fio dos acontecimentos e a ascenção e queda do principal dirigente revolucionário haitiano, Toussaint L’Ouverture, um homem gestado pela revolução e que cai em desgraça exatamente porque os homens da revolução e as ações revolucionárias se tornaram intoleráveis à nova burguesia que se ergueu sobre o chão do refluxo revolucionário francês e se projetou na figura de Napoleão.

O martírio de Toussaint, entretanto, não foi suficiente para impedir a vitória dos negros haitianos na guerra de independência de 1804, “pecado” pelo qual o imperialismo faz a nação hatiana pagar ainda hoje.

Os Jacobinos Negros é uma obra para quem quer entender o que se passa hoje no Haiti.

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Eudes Baima- é professor da Universidade Estadual do Ceará

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