Justiça para Guilherme!

Guilherme, um jovem de 15 anos, foi assassinado dia 15. A investigação da polícia civil aponta como principal suspeito um sargento da PM, Adriano Fernandes de Campos, de acordo com matéria publicada no Uol, nesta quarta (17). Além de dois tiros na cabeça, Guilherme tinha marcas de agressão por todo o corpo. Tortura.

Em resposta ao assassinato, moradores da Vila Clara fizeram uma manifestação no mesmo dia 15. Foram violentamente reprimidos pela polícia, e contaram com a criminalização da grande mídia que mostrava preocupação… com um ônibus queimado.

No dia 16 um novo protesto foi realizado, organizado por moradores, com a participação da mãe de Guilherme. (Foto acima).

Abaixo publicamos uma crônica extraída do site www.ponte.org

Guilherme 2
Um menino de 15 anos foi assassinado com tiro na cabeça e na mão; será que em Alphaville um jovem seria assim penalizado?

Uma mãe perdeu um filho aqui na Vila Clara, na zona sul da cidade de São Paulo. Isso aconteceu no fim de semana. Guilherme Silva Guedes era um menino de 15 anos descrito por muitos como educado e amoroso com a mãe Joice Silva.

O moleque pegava a bike emprestada pra entregar marmita. Próximo à casa dele há um depósito da Sabesp [a companhia disse à Ponte que o local não pertence a eles, mas é usado como canteiro de obras] onde houve um furto dias atrás.

Os vizinhos disseram que dois homens abordaram Guilherme quando ele andava de bicicleta e o levaram. O corpo dele foi encontrado na avenida Alda, em Diadema, na Grande São Paulo.

Imagens gravadas no momento que Guilherme foi abordado mostram os dois homens vestidos à paisana. Eles seriam policiais de folga fazendo bico de segurança privada do tal depósito. Guilherme foi morto com tiros nas mãos e na cabeça.

Moro na Vila Clara há 24 anos e aqui sempre houve protestos contra as mortes de pessoas inocentes, só que a mídia nunca chegava. Nesta segunda-feira (15/6), os mesmos protestos aconteceram. Tinham helicópteros, policiais em vários pontos e muita gente perdida voltando do trabalho em horário de pico.

Sim, a favela não parou em tempos de pandemia. Uma mãe foi televisionada chorando no chão a morte do filho. A favela gritava por justiça. Mas de onde virá a justiça, se ela nunca nos abraça? Para quem estamos gritando? A polícia vem para apaziguar o caos, mas acaba espancando quem passa pela rua. Muitos voltando do trampo, muitos perdidos!

A população tenta mais uma vez ser ouvida. A Polícia Militar vem com “sangue nos zóio” para evitar acabar com o que já está destruído. Sim, porque as nossas ruas são acabadas, sem infraestrutura. A maior preocupação são com os ônibus queimados. Ônibus esses que lucram muito com as altas tarifas. E então constatamos que em Alphaville o velho rico grita pelo direito de espancar a própria mulher, afinal, ali não é a favela!

No final, há um jovem de 15 anos que teve sua vida ceifada e uma mãe chorando no chão. E, sim, precisamos encontrar os culpados para que a justiça seja feita! Será que se tudo isso fosse em Alphaville, mesmo que o jovem fosse infrator, seria penalizado com tiros nas mãos e na cabeça?

Justiça para Guilherme!

Valter Rege é cineasta, creator, tem um canal no YouTube que fala sobre homossexualidade, negritude e periferia.

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