Em 30 de março, cerca de 30 mil palestinos, vindos em sua maioria dos campos de refugiados da Faixa de Gaza, participavam do lançamento de uma atividade que deveria se desenrolar por seis semanas, a “marcha pelo retorno”, organizada pela coordenação do conjunto de agrupamentos políticos estruturados no território. Seu objetivo era realizar uma manifestação dirigida à barreira de segurança que separa a Faixa de Gaza das fronteiras oficiais do Estado israelense, para marcar a recusa ao confinamento naquela que se convencionou chamar de a maior prisão a céu aberto do mundo, e contra o confisco das terras de seus avós em 1948.
A resposta do exército israelense – cujos soldados estavam fora do alcance de qualquer agressão – foi a de dar ordem a seus atiradores para disparar sobre a multidão, causando a morte de pelo menos 16 palestinos. Centenas de manifestantes de todas as idades foram feridos pelas balas. Gases foram espalhados por drones.
Em um tuíte oficial, o exército reconheceu, num primeiro momento, que a manifestação não oferecia nenhum perigo para a “segurança de Israel”. Em seguida, disse que houve confrontos e – argumento clássico – tentativas de incursões terroristas. Note-se que a maioria das mídias “ocidentais” repercutiu docilmente o termo “confrontos” para qualificar a situação.
Confrontos? De um lado, um exército superequipado. De outro, manifestantes de mãos limpas, num terreno aberto, sem abrigos. Só se forem confrontos entre balas reais e alvos!
Dia da Terra
A “marcha pelo retorno” deveria durar até 15 de maio, dia do aniversário da proclamação do Estado de Israel, em 1948, e início da “Nakba”, palavra que significa “catástrofe”, em árabe, e que se refere à campanha de expulsão em massa de 800 mil palestinos de suas terras e cidades a partir de 1948. Ela foi instituída na data do Dia da Terra, que, desde 30 de março de 1976, homenageia anualmente seis manifestantes palestinos do interior assassinados pelo exército de ocupação durante a greve geral na Galileia, contra o confisco das terras palestinas.
Desde 1976, em sua comemoração anual, os palestinos do interior (isto é, que vivem no interior do Estado de Israel) reafirmam que não são “árabes israelenses”, mas parte integrante do povo palestino, separado desde 1948. Pela primeira vez, o Dia da Terra foi marcado por um evento paralelo na Faixa de Gaza (na Cisjordânia, a Autoridade Palestina bloqueia, tanto quanto pode, qualquer manifestação equivalente).
A atualidade da ligação entre a criação do Estado israelense e a Nakba fica evidenciada, mais uma vez, pelo massacre de 30 de março. Tais abusos pontuam toda a história do Estado de Israel, constituído sobre a negação completa do direito do povo palestino a viver em sua terra. As organizações palestinas do interior, assim como as da Faixa de Gaza, afirmam que nada poderá deter a marcha pelo retorno.
Leia nota do AcIT que exige o fim da repressão
Alertamos os camaradas e as organizações que participam das atividades do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AcIT) sobre os acontecimentos dramáticos que ocorreram na Palestina nos últimos dias.
Em 30 de março, quando se comemora o Dia da Terra, dezenas de milhares de palestinos se manifestaram atendendo ao chamado de um coletivo de organizações sob a palavra de ordem de “marcha pelo retorno”, em direção à rede de arame farpado e de muros que encerra os habitantes de Gaza em um verdadeiro gueto, onde 2 milhões de habitantes sobrevivem em uma área de 360 quilômetros quadrados. Em sua maioria, eles são os netos daqueles que foram expulsos de suas terras em 1948.
Quando essa manifestação pacífica estava ainda a cem metros da barreira, os soldados do exército de ocupação israelense atiraram com balas verdadeiras sobre a multidão de homens, mulheres e crianças, matando 16 pessoas e ferindo centenas de outras.
Essa “marcha pelo retorno” estava prevista para permanecer até o dia 15 de maio, dia da Nakba (“catástrofe”). (…)
A continuidade entre os acontecimentos de 15 de maio de 1948 e esse 30 de março de 2018 é aquela da longa opressão, da repressão e dos massacres cometidos contra o povo palestino. Em outras palavras, a negação do direito do povo palestino a viver em sua terra. Mas não haverá paz na Palestina enquanto esse direito não for concretizado.
De imediato, e conforme a moção unitária adotada pela 9ª Conferência Mundial Aberta de Argel [dezembro 2017], nós apelamos, sob as formas próprias a cada país, a denunciar os massacres cometidos pelos soldados israelenses e a repressão feroz que prossegue e a apoiar a luta legítima do povo palestino para recuperar seus direitos democráticos nacionais.
Os coordenadores do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AcIT)
Louisa Hanoune, secretária do Partido dos Trabalhadores da Argélia Dominique Canut, em nome da Executiva Nacional do Partido Operário Independente (POI) da França.
2 de abril de 2018