A médica Julia Rocha, colunista do portal Uol, defendeu em texto publicado nesta quarta (26) a ida às ruas neste dia 29, quando partidos, movimentos e sindicatos estão convocando atos “Fora Bolsonaro”.
“Sim, eu sou médica e, sim, eu estou há praticamente 14 meses em casa, saindo somente pra trabalhar e comprar comida. Com exceção da última semana que passei no meio do mato, quase incomunicável e sem contato com outras pessoas que não fossem a minha família, estou esse tempo todo indo da UPA para a minha casa, da minha casa para o consultório, do consultório para a o quintal da casa da minha mãe, onde eu e meus pais nos falamos a quatro metros de distância e ainda usando máscara(…)”, diz ela.
“E, sim, eu estou participando ativamente da organização dos atos que ocorrerão no próximo sábado, dia 29 com objetivo de resistir a este morticínio.” completou.
Em outro trecho ela avalia “Ocorre que a realidade é outra e ela é duríssima para milhões de brasileiros que não só não podem trabalhar como também não sabem o que vão comer nas próximas horas. Há irmãos e irmãs nossos, gente trabalhadora que constrói esse país há séculos e que ou está trabalhando 14 horas por dia para sobreviver ou não tem trabalho e espera ansiosamente por uma vaga em uma empresa que vai explorá-lo 14 horas por dia, sem vínculo trabalhista para lhe pagar um salário insuficiente. Há, entre estes irmãos, pessoas que perderam três, quatro familiares, amigos, amores para uma doença que poderia ter tido seus impactos ao menos reduzidos com medidas relativamente simples. Há brasileiros e brasileiras que estão sendo despejados em ações criminosas que os deixam sem abrigo em meio à maior crise sanitária que veremos na vida.”
“Não se briga com a realidade e com os fatos. Eles se impõem. É nosso dever avaliar cuidadosamente o que acontece e escolher com sabedoria e responsabilidade a melhor forma de construir alternativas para uma reação organizada a este estado de coisas” considerou Julia Rocha.
Julia ainda ressaltou que “Não é razoável e nem honesto comparar um ato de resistência a este genocídio com uma aglomeração aleatória, sem máscara, distanciamento ou qualquer cuidado frequentemente promovidas pelo morador da casa de vidro.”
Ela também analisou os cenários: Uma parte da esquerda brasileira parece ter escolhido o caminho de aguardar os 19 meses que faltam para o desligamento desta câmara de gás que se tornou este país. É uma escolha possível, contudo ela demanda que consideremos aceitável a morte de outro meio milhão de pessoas.”
Em outro trecho da coluna ela sentenciou “Por trás da decisão de ocupar as ruas há a convicção de que uma manifestação ao ar livre, com uso de boas máscaras, máximo afastamento e higiene das mãos é infinitamente menos perigosa para a saúde do povo brasileiro do que mais dezenove longos meses sob o comando de um governo assassino e incrivelmente incompetente. Ou seria competentíssimo em destruir o país e matar pessoas?”
Julia terminou sua Coluna com uma conclusão “Ficar em casa e deixar que Bolsonaro siga arquitetando outras centenas de milhares de mortes hoje me dá mais medo que ir às ruas para lutar por vacina, por comida e pelo nosso direito de viver.”