Meio Ambiente: o inimigo é o capital

Hoje todo mundo se diz ecologista. Mas o que é ecologia? Devemos distinguir a ecologia, que é uma ciência, da ecologia política, que é uma corrente ideológica e, portanto, não científica.

Sobre este assunto, aconselhamos fortemente aos nossos leitores a leitura do excelente documento publicado em 1979 sobre ecologia por Gérard Bloch, cientista e dirigente da 4ª Internacional (1). É inegável que as mudanças climáticas aumentaram nos últimos anos. Mas a atitude geral daqueles que se reclamam da ecologia política é responsabilizar os seres humanos pelas mudanças climáticas e danos ambientais em uma vasta campanha de culpabilização.

Nós, ao contrário, não questionamos os seres humanos, mas o sistema capitalista. Com efeito, desde que os homens vivem em sociedade, estabelecem relações entre si na produção e na vida social, isto é, relações sociais, no quadro de um determinado modo de produção. São sociedades divididas em classes, e vivemos na era do capitalismo moribundo. Portanto, não são os seres humanos que decidem, mas a minoria capitalista, que detém a propriedade privada dos meios de produção e que, na crise de sua agonia, multiplica a destruição. Só o socialismo acabará com as consequências destrutivas do capitalismo sobre o meio ambiente.

No entanto, isso não significa que não haja nada a ser feito até o estabelecimento do socialismo. Mas, para isso, é necessário não se confundir sobre quem é o inimigo. É o capital e não o ser humano o responsável. Muitas fábricas poluem. Existem meios técnicos para reduzir essa poluição, mas é caro, e o capital não tem interesse nisso para preservar seus lucros. E quanto aos governos? Há anos, tanto os de esquerda como de direita cortam funções na Dréal (órgão público responsável pelas normas ambientais, na França), dificultando ainda mais o controle das normas.

Quem é o responsável pela explosão da Lubrizol em Rouen e da AZF em Toulouse? As populações da cidade ou os patrões que não respeitaram um mínimo de normas de segurança? Após a explosão em Lubrizol, vinte e dois postos Dréal na Normandia foram extintos! Também poderíamos citar essas empresas, como as fábricas de papel por exemplo, que despejam suas águas residuais nos rios, poluindo-os e matando os peixes que ali vivem.

Não foram todos os sucessivos governos que iniciaram uma política de destruição do frete SNCF (empresa pública de ferrovias na França) em benefício das grandes empresas privadas de transporte por caminhão, que é poluente ao contrário do trem? Não foi o governo de Hollande, com Macron como Ministro da Economia, que continuou a atacar a SNCF desenvolvendo os “bus Macron”, que também são poluentes?

Quem é responsável pelo fato de tantos habitantes deste país, especialmente nas zonas rurais, diante da falta de médicos, do fechamento de serviços públicos ou a eliminação de pequenas linhas de trem, não terem outra opção senão usar o carro para ir ao trabalho ou ao médico, ou mesmo levar os filhos à escola, por falta de transporte escolar?

Não foi a mudança para a China e o Sudeste Asiático que lançou muitos trabalhadores no desemprego na França, resultando na produção de quase tudo na China e, portanto, no transporte de todos essas mercadorias por gigantescos porta-contêineres operando com combustível de péssima qualidade, tóxicos e emitindo grandes ​​emissões de poluentes? Milhares e milhares de navios porta-contêineres gigantes navegam nos mares do planeta.

Quem é responsável pela distribuição do plástico na natureza ou no mar, senão as grandes empresas fabricantes de plástico que generalizaram o uso em toda parte, inclusive para frutas e vegetais! Os seres humanos não têm qualquer responsabilidade por serem forçados a comprar esses produtos.

Quem é responsável pela criação de fazendas industriais de mil vacas ou granjas industriais de frangos, poluindo e privando a agricultura tradicional de participação no mercado, em detrimento da qualidade desses produtos?

Quem é o responsável pelo desmatamento, principalmente na Amazônia? As populações indígenas, que vivem da caça e da coleta e que derrubam algumas árvores, ou os grandes trustes capitalistas que organizam o desmatamento maciço da floresta amazônica (2)?

Por isso, a luta pela defesa do meio ambiente exige o combate contra o capital. E é por isso que, quando você ouve Biden, Macron, o FMI e os grandes empresários falando por uma transição energética, você não deve se enganar.

Eles não estão se convertendo à ecologia, estão usando essa questão para um único objetivo: reorganizar a produção com a liquidação de setores inteiros, com centenas de milhares de demissões, com o objetivo de se abrir novos mercados, como, por exemplo, o do carro elétrico, quando sabemos que hoje não conseguimos processar as baterias.

Para isso, por meio de intensa propaganda, os governos e o capital buscam em nome da defesa do clima criar um consenso que reúna governos, patronato, sindicatos, ONGs, políticos, por um “capitalismo verde”, ou seja, na realidade a defesa do sistema, repintando-o de verde (3).

Mais uma vez: não vamos enganar de inimigo. A luta pela defesa do meio ambiente não pode ser separada da luta contra o capitalismo e, portanto, isso exige opor ao consenso a independência de classe e a luta de classe.

Lucien Gauthier
publicado no jornal francês Informations Ouvrières, tradução Adaias Muniz


(1, 2 e 3) O número 109 de La Vérité, de setembro de 2021 e atualmente disponível, contém um dossiê de 44 páginas sobre a transição energética, incluindo em particular o texto de Gérard Bloch sobre ecologia, vários artigos sobre finanças e economia verde e um artigo sobre o desmatamento da Amazônia por nossos camaradas brasileiros.

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