Mianmar: resistência contra o golpe de Estado militar de 1º de fevereiro

Em 8 de novembro último, a Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi, venceu as eleições legislativas com 258 cadeiras (de 330 em jogo) na Assembleia Nacional, contra 255 durante a eleição anterior, em 2015. O Partido da União, Solidariedade e Desenvolvimento (PUSD), ligado à casta dos generais, obteve apenas 26 (30 anteriormente), aos quais se somam 110 assentos atribuídos automaticamente ao exército, de acordo com a Constituição da Birmânia.

O Tatmadaw (comando do exército) imediatamente invocou uma fraude eleitoral.
Vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi tornou-se presidente do Conselho de Estado em 2016 (equivalente a primeira-ministra), após quinze anos em prisão domiciliar. Ela havia sido criticada internacionalmente por sua passividade durante a limpeza étnica da minoria Rohingya pelo exército.

No entanto, de acordo com o Le Monde (2 de fevereiro de 2021): “O exército nunca deixou, desde a independência em 1948, de ser um Estado dentro de um Estado, mesmo durante os raros anos em que não estava diretamente no comando: entre 1962 e 2011, a Birmânia foi continuamente colocada sob o jugo dos generais, num período pontuado por levantes populares brutalmente reprimidos, por um terceiro golpe de Estado e um expurgo interno”. Isso explica a elevada participação eleitoral observada pelo New York Times (8 de novembro de 2020).

A população de Mianmar votou contra o retorno à ditadura militar. No dia 1º de fevereiro “Os comandantes do exército realizaram um golpe militar, no qual foram presos os principais dirigentes do país, entre eles o presidente Win Myint e a líder da Liga Nacional para a Democracia, chanceler Aung San Suu Kyi. Aung San Suu Kyi foi detida na capital, Naypyidaw, junto com o presidente deposto Win Myint, assim como outros membros do governo. Na quarta-feira, o exército birmanês ordenou às empresas de telecomunicações locais que bloqueassem a rede social Facebook, até 7 de fevereiro, afirmando que ela ‘contribui para desestabilizar o país’”. (Agência AA/Kuala Lumpur, 4 de fevereiro).

E o Myanmar Times (4 de fevereiro) relata que as organizações birmanesas se posicionaram e condenaram a transferência forçada de poder iniciada pelo Tatmadaw (militares). A Confederação de Sindicatos de Mianmar (CTUM), a Federação de Sindicatos de Artesanato e Serviços de Mianmar (Mics) e a Associação de Guias de Turismo de Mianmar expressaram sua indignação e desagrado diante da atual situação política do país.

Tanto a CTUM quanto a Mics disseram que renunciaram e não fazem mais parte da comissão tripartite governo-empregadores-grupos de trabalhadores. E o Secretário-Geral da CTUM, Daw Phyo Sandar Soe, declarou: “Nós reconhecemos os resultados das eleições. O atual governo não foi eleito de acordo com a vontade do povo. Não trabalharemos com o governo formado pelo exército.”

Albert Tarp
Publicado no jornal francês Informations Ouvrières
Tradução Adaias Muniz

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