Nos meses de março, abril e maio deste ano 7,8 milhões de trabalhadores perderam suas ocupações segundo a pesquisa PNAD-IBGE. Pela primeira vez na história (desde o início da pesquisa), mais da metade (50,5%) da população em idade para trabalhar (14 anos ou mais) estava desocupada.
Neste mesmo período de março a maio, empresas brasileiras destruíram (demitiram mais do que contrataram) 1,4 milhões de postos de trabalho com carteira assinada segundo dados do Caged (Ministério da Economia). Foi o pior desempenho para o mês desde o início da série histórica.
Política de Guedes
O fato é que a política de corte de gastos públicos de Guedes-Bolsonaro impede a recuperação do mercado de trabalho. Ela já começava a provocar uma retração na atividade ao final do ano passado. “O país já dava sinais que entrara em nova recessão econômica antes mesmo do coronavírus chegar ao país” explica o estudo divulgado em junho pelo conservador Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da FGV. Explica ainda que não há sinais de melhora do emprego nos próximos meses mesmo que a flexibilização do isolamento social permita um retorno dos informais às ruas. Pois a expectativa é de manutenção das dispensas nas empresas no próximo trimestre.
As medidas aprovadas no Congresso, como o auxílio renda emergencial de R$600, são muito insuficientes e temporários. Não permitirão recuperar a renda, muito menos a atividade econômica nos próximos meses.
Os dados do IBGE mostram que o número de trabalhadores “subutilizados” – ou seja, desempregados, desalentados e semi-empregados (tempo parcial, insuficiente) – saltou para 30,4 milhões em maio. Eles eram 15,2 milhões em 2014.
Neste último trimestre findo em maio, o setor mais atingido foi o do comércio, que demitiu 2 milhões de trabalhadores (redução de 11,1% ante o trimestre anterior). Trabalhadores da indústria, da construção e de serviços domésticos também sofreram demissões expressivas – respectivamente 1,23, 1,08 e 1,17 milhão.
A despeito disso, a taxa de desemprego nacional cresceu relativamente pouco: de 11,6% no trimestre até fevereiro para 12,9% no trimestre. Isso simplesmente porque nove milhões de pessoas em idade de trabalhar tornaram-se inativas no período. Ou seja, embora desempregadas, nem tentaram procurar vaga no último mês – e por isso não aparecem na estatística do desemprego. Sem essa “debandada” (um recorde jamais visto na história do país), o desemprego teria atingido 20 milhões de pessoas e sua taxa estaria em 18,9%.
Com a flexibilização da quarentena, trabalhadores devem voltar a procurar emprego neste mês. Mas é provável que empresas sigam fechando vagas em junho/julho, ainda que em ritmo menos dramático.
Alberto Handfas