Na tentativa de golpe de 8 de janeiro, milicos confraternizaram com invasores do Planalto
Aquilo que já era evidente para quem acompanhou a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro foi confirmado em depoimento oficial: militares ajudaram os golpistas a fugir do Palácio do Planalto e, assim, escapar da prisão. Ficaram ao lado dos golpistas em vez de barrá-los, como era a sua obrigação. E, como sabe-se que militar não faz nada sem ordem, os oficiais no comando devem ser responsabilizados por essa situação.
O testemunho, dado por um servidor da Polícia Federal (PF) que estava no Planalto, foi obtido pela colunista Carolina Brígido, do UOL. Em determinado trecho, o depoente descreveu o seguinte:
“Um militar orientava a tropa do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) para fazer um corredor e liberar os manifestantes para saírem pela saída de emergência para trás do Planalto: ‘Vamos liberar, fazer um corredor’; que vários manifestantes ficavam no local afirmando que o Exército os estava protegendo; que, então, o Choque subiu a rampa para acessar o Planalto; que um dos militares que tentava organizar uma liberação para os invasores se dirigiu à tropa de choque da Polícia Militar do DF, tentando impedi-los de entrar: ‘aqui não, aqui não’” (UOL, 10/3).
Já na chegada ao local, o servidor havia estranhado a situação, relatando que a guarita de segurança, onde ficam os militares do BGP, “estava abandonada”.
Esse depoimento foi concedido à PF no dia 11 de janeiro. O ambiente que descreve no interior do palácio é de confraternização, não de confronto (leia trechos abaixo).
Sete inquéritos
Pelo menos quatro oficiais tiveram implicação direta nos acontecimentos: o ex-comandante do Exército, general Júlio César de Arruda; o comandante militar do Planalto, general Gustavo Dutra de Menezes; o comandante do BGP, tenente-coronel do Exército Paulo Jorge Fernandes da Hora; e o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Jorge Eduardo Naime Barreto.
Muito do que ocorreu se deve à ação ou à omissão desses militares, inclusive, para impedir prisões no acampamento dos golpistas na noite do dia 8. Quando a PF entrou, no dia seguinte, muitos dos organizadores tinham escapado, com a conivência dos militares, e só sobrou “bucha de canhão”, na expressão de um policial.
No dia 16, o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), finalizou a análise dos pedidos de liberdade dos golpistas presos. Um balanço divulgado indica que, das mais de 2 mil pessoas detidas inicialmente, 294 permanecem na prisão.
De acordo com a Folha de S. Paulo (17/3), há sete inquéritos no STF que apuram os responsáveis pelos atos golpistas, entre eles está os que investigam deputados federais. “Outros dois tentam identificar quem foram os executores, financiadores e pessoas que auxiliaram materialmente os atos. Há, ainda, um que apura os autores intelectuais e instigadores dos atos. Nesse inquérito, Jair Bolsonaro é investigado” (Folha, 17/3). Não basta investigar a “bucha de canhão”, é preciso punir os que deram a voz de comando para a tentativa de golpe.
Cláudio Soares
Trechos do depoimento
“Ao descer ao salão das cerimônias, no segundo andar, o declarante se deparou com centenas de pessoas com camisas da seleção brasileira no local tirando fotos, gravando vídeos, outros conversando com os militares do BGP [Batalhão da Guarda Presidencial]; que, nesse momento já estava tudo destruído no local”; “(…) alguns manifestantes estavam sentados em cadeiras, outros entravam e saíam do local tranquilamente enquanto a tropa do BGP assistia a tudo pacificamente”.
O depoente teria ficado indignado e gritado para os militares “tomarem posição, avançarem contra os manifestantes, mas eles não faziam nada”. Segundo o servidor, “alguns apenas diziam que aguardavam orientações” e “diversos manifestantes entravam e saiam do local livremente”.
Fonte: UOL (10/3).
As joias de Bolsonaro
O escândalo das joias trazidas em 2021 da Arábia Saudita pelo ex-ministro das Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, tem dominado parte do noticiário. É mais um capítulo da repugnante prática política do bolsonarismo e a podridão do episódio fala por si. O triste é saber que Albuquerque dá as cartas ainda hoje no ministério de que era titular, ocupado agora, no governo Lula, por Alexandre Silveira (PSD).