Nesta última sexta, 12/02, transcorreu o aniversário (in memoriam) do naturalista Charles Darwin, contemporâneo de Marx, com quem se correspondeu, e de Engels, autor do que Marx considerava a base de sua obra econômica e social na esfera dos estudos da natureza, o clássico A Origem das Espécies.
Em homenagem a Darwin reproduzimos breves passagens do próprio Karl Marx, de Friedrich Engels e de Leon Trotsky acerca do caráter fundamental de sua teoria científica para a compreensão da vida natural, decisiva para aqueles que vêm nesta esfera o fundamento sobre o qual se desenvolve a produção material da vida e, assim, as relações sociais. A teoria da evolução, tal como Darwin a desenvolveu, e que segue sendo a base da biologia moderna, malgrado correções advindas do próprio progresso da pesquisa, foi e é essencial para desvencilhar a humanidade das fantasias e preconceitos ideológicos e religiosos acerca da origem e desdobramento da vida no planeta. Por isso mesmo é imprescindível para uma compreensão materialista da história.
Não é casual que Darwin esteja entre os alvos preferidos do obscurantismo e dos ataques à ciência e à educação que estamos assistindo, expressão extrema da incompatibilidade entre o progresso científico e a persistência do capitalismo
Eudes Baima
Karl Marx: “base, na ciência natural, para a luta de classes na história”
“Embora seja desenvolvido no estilo inglês bruto, este é o livro que contém as bases da história natural para nossa visão” (Carta a Engels de 19 de dezembro de 1860).
“(…) o livro de Darwin é muito importante e me serve de base, na ciência natural, para a luta de classes na história” (Carta a Ferdinand Lassalle, de 16 de janeiro de 1861).
“É notável como Darwin reconhece entre animais e plantas sua sociedade inglesa com sua divisão de trabalho, competição, abertura de novos mercados, invenções e a luta pela existência malthusiana. É o bellum omnium contra ommnes (guerra de todos contra todos) de Hobbes, e lembra a Fenomenologia de Hegel onde a sociedade civil é descrita como um reino animal e espiritual, enquanto em Darwin o reino animal figura como sociedade civil” (Carta a Engels, de 18 de junho de 1862).
Engels: “os organismos da natureza têm as suas leis de população, pouco estudadas..E quem, senão Darwin, deu o impulso decisivo nessa direção?”
“Darwin não sonhou sequer em dizer que a origem da ideia da luta pela existência era a teoria de Malthus. O que ele diz é que a sua teoria da luta pela existência é a teoria de Malthus aplicada a todo mundo vegetal e animal. Por maior que fosse o deslize cometido por Darwin de aceitar, na sua ingenuidade, a teoria malthusiana, vê-se logo, a um primeiro exame, que, para se perceber a luta pela existência na natureza – que aparece na contradição entre a multidão inumerável de germes engendrados pela natureza, em sua prodigalidade, e o pequeno número desses germes que podem chegar à maturidade, contradição que, de fato, se resolve em grande parte numa luta, às vezes extremamente cruel, pela existência – não há necessidade das lunetas de Malthus. E, assim como a lei que rege o salário conservou o seu valor muito tempo depois de estarem caducos os argumentos malthusianos sobre os quais Ricardo (David Ricardo, 1772-1823, inglês, expoente da economia burguesa clássica) a baseava, a luta pela existência pode igualmente ter lugar na natureza sem nenhuma interpretação malthusiana. De resto, os organismos da natureza têm, também eles, as suas leis de população, que estão pouco estudadas, mas cuja descoberta será de importância capital para a teoria do desenvolvimento das espécies. E quem, senão Darwin, deu o impulso decisivo nessa direção? (em Anti –Dühring)
(…) É precisamente a dialética que constitui a forma mais importante de pensar para a ciência natural atual, pois ela oferece o análogo e, portanto, o método de explicar os processos evolutivos que ocorrem na natureza, as interconexões em geral e as transições de uma só vez em um campo de investigação para outro” (em Dialética da Natureza).
Leon Trotsky: “é apenas a conexão interna entre o darwinismo e o marxismo que torna possível captar o fluxo vivo do ser”
“Darwin destruiu o último dos meus preconceitos ideológicos… Na prisão de Odessa, senti algo como um terreno científico duro sob meus pés. Os fatos começaram a se estabelecer em um determinado sistema. A ideia de evolução e determinismo – ou seja, a ideia de um desenvolvimento gradual condicionado pelo caráter do mundo material – tomou posse de mim completamente. Darwin foi para mim como um poderoso porteiro na entrada do templo do universo. Fiquei embriagado com o seu pensamento minucioso, preciso, consciente e ao mesmo tempo poderoso. Fiquei mais surpreso quando li…que ele preservou sua crença em Deus. Recusei-me absolutamente a entender como uma teoria da origem das espécies por meio da seleção natural e da seleção sexual e uma crença em Deus poderiam encontrar espaço na mesma cabeça” (Citado por Max Eastman em Leon Trotsky: The Portrait of a Youth, de 1925).
“Mesmo que Darwin, como ele próprio afirmou, não tenha perdido sua crença em Deus por toda a sua rejeição da teoria bíblica da criação, o próprio darwinismo é, no entanto, inteiramente inconciliável com essa crença. Nisso, como em outros aspectos, o darwinismo é um precursor, uma preparação para o marxismo. Tomado em um sentido amplamente materialista e dialético, o marxismo é a aplicação do darwinismo à sociedade humana. O liberalismo de Manchester tentou encaixar o darwinismo mecanicamente na sociologia. Tais tentativas apenas levaram a analogias infantis ocultando uma apologia burguesa maliciosa: a competição de Marx era explicada como a lei eterna da luta pela existência. Estes são absurdos. É apenas a conexão interna entre o darwinismo e o marxismo que torna possível captar o fluxo vivo do ser em sua conexão primordial com a natureza inorgânica; em sua particularização e evolução posteriores; em sua dinâmica; na diferenciação das necessidades da vida entre as primeiras variedades elementares dos reinos vegetal e animal; em suas lutas; na aparência do ‘primeiro’ homem ou criatura humana, fazendo uso da primeira ferramenta; no desenvolvimento da cooperação primitiva, empregando órgãos associativos; na estratificação posterior da sociedade, consequente ao desenvolvimento dos meios de produção, isto é, dos meios de subjugar a natureza; na guerra de classes; e, finalmente, na luta pela elevação das classes”. (em The Tasks of Communist Education).
Onde ler A Origem das Espécies: a obra se encontra à disposição em diversos sites na Internet. Você pode acessa-la, por exemplo, em https://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/Darwin_-_A_Origem_Das_Especies%5B1%5D%5B1%5D.pdf
Em formato para kindle é possível obter o livro a R$ 2,00.
Em formato físico, livro novo, os preços vão de R$ 35,00 a cerca de R$ 75,00. Uma edição usada pode sair até por R$ 7,00
Marxismo e Darwinismo, texto de Anton Pannekoek está no marxist.org e ajuda a compreender a questão: https://www.marxists.org/portugues/pannekoe/ano/darwinismo/index.htm