Nos EUA trabalhadores exigem direitos e proteção

A pandemia do Covid-19 atingiu os EUA em cheio de forma surpreendente. A ausência de um sistema de saúde público e integrado, a conectividade com áreas do mundo com alta incidência de casos, como China e Itália, e também semanas de vacilações por parte do governo (sobretudo o federal) contribuíram para que o país seja o campeão no mundo: 212 mil casos, 4,7 mil mortes até 1o de abril. (Os últimos dois dias registraram quase duas mil mortes por dia. NdE).

Além do impacto direto na saúde, a crise do Covid-19 interrompeu a atividade econômica no país. Milhões de trabalhadores perderam o emprego e seu sustento ou estão sendo postos em situações de extrema vulnerabilidade (risco de desemprego, adoecimento ou morte). 3.3 milhões de pessoas estão solicitando seguro-desemprego, superando em quase cinco vezes o recorde prévio de quase 700 mil solicitações em 1982. As estimativas (do banco central – FED) é que a taxa de desemprego salte dos 4% aos 30% de janeiro a abril.

Pacote de medidas é mais generoso com os bilionários
Como resposta à crise, foi aprovado pelo Congresso em 26 de março um pacote de estímulos econômicos de US$ 2,2 trilhões, quase 10% do PIB e quase 50% das receitas orçamentárias do governo. Dentre as medidas, destacam-se: pagamento de US$1.200 a todos os indivíduos com renda anual inferior a US$75.000; aumento do seguro-desemprego em US$600 semanais por até quatro meses.

Mas o pacote não mexe na legislação trabalhista, que não garante direito a afastamento por saúde com manutenção de salário. Cerca de 25% dos trabalhadores estão em tais condições e são forçados a se manter trabalhando expostos à contaminação. Ao contrário, o pacote abre ainda mais margem para empresas suspenderem salários dos afastados por saúde.

Ademais, ele é muito mais generoso com os bilionários do que com o povo pobre. O pré-candidato democrata Bernie Sanders havia proposto que cada família recebesse até US$2.000 dólares mensais (não um pagamento único) por toda a duração da crise. E critica o fato do pacote dar US$500 bilhões para grandes empresas e corporações sem quase impor condições ou supervisão sobre como será usado. Essas corporações tendem (como fizeram na crise de 2008) a usar a ajuda não em empregos e salários, mas na remuneração de acionistas e em doações às campanhas eleitorais.

O pacote foi aprovado com apoio oficial dos partidos Republicano e Democrata. Joe Biden, o favorito Democrata, foi rápido em elogiar o pacote

Luta por segurança no trabalho
A despeito das dificuldades em mobilizar, dado o isolamento social imposto pela pandemia, setores da classe trabalhadora mostram resistência. Protestos em frente aos locais de trabalho de setores essenciais exigem EPIs (máscara, luvas etc). No dos não essenciais, a luta é para fechá-los garantindo salários e benefícios. Este é caso da empresa de tecidos Jo-Anne (Colorado), ou dos trabalhadores do estaleiro Bath Iron Works (Maine), que entraram em greve e exigem de Trump que considere-o como não-essencial. Em alguns lugares os sindicatos puxam os protestos, em outros há ação espontânea, sobretudo na indústria automobilística com greves forçando Fiat-Chrisler e Honda a suspenderem a produção momentaneamente.

Motoristas de ônibus no Alabama se recusam a cumprir determinadas rotas até que a empresa reduzisse a lotação máxima. Na Pensilvânia, lixeiros cruzaram os braços exigindo EPIs. Trabalhadores da Amazon, do maior bilionário do mundo, Jeff Bezos, também paralisaram.

A onda de mobilizações promete continuar nas próximas semanas, enquanto o povo trabalhador do país se vê pressionado entre condições precárias de trabalho e risco de desemprego, riscos à saúde e demora em efetivar os pagamentos às famílias que foi aprovado pelo Congresso dos EUA. Trabalhadores da Instacart (serviço de delivery que contrata trabalhadores no estilo Uber para fazer as compras em supermercados e entregá-las a clientes) também estão se mobilizando. A empresa anunciou “várias medidas” de proteção aos trabalhadores mas nenhuma responde às demandas feitas. A luta dos trabalhadores da Instacart continua com um indicativo de paralisação.

Correspondente

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