A passagem do PT para o segundo turno destas eleições presidenciais foi uma vitória. Uma verdadeira demonstração do enraizamento partidário, diante de toda perseguição que o partido, e sua principal liderança, Lula, foram e são vítimas. É bom lembrar que até Lula ser retirado das sondagens eleitorais, na última pesquisa Ibope, de 21 de agosto, ele liderava com 37% (contra 18% de Bolsonaro) e na DataFolha, 22 de agosto, com 39% (contra 19% de Bolsonaro), indicando a possibilidade do PT ganhar já no primeiro turno.
A derrota no segundo turno, não anula o fato de que o PT segue sendo o partido mais enraizado junto as camadas oprimidas, com instrumento de sua luta.
Foram 47 milhões de votos em Haddad. Nas três semanas entre o primeiro e o segundo turnos o PT conquistou 15 milhões a mais de votos. Numa campanha dura, pois também foram três semanas que amplificaram as calúnias via WhatsApp, sustentadas por caixa 2, as intimidações, coação patronal e abusos policiais.
Em relação ao segundo turno de 2014, o PT perdeu sete milhões dos 54 milhões de votos que reelegeram Dilma.
Um balanço apurado do mapa de votação deve ser feito. Por que é nos grandes centros, ali onde a classe está mais organizada, que o partido perde mais votos? Por exemplo, no Rio de Janeiro, estão 1,8 milhão dos sete milhões perdidos.
Entender as razões que levaram à derrota do PT nestas eleições, para além da conjugação de forças entre as classes dominantes, as instituições e mídia para disseminar o antipetismo, sem falar do papel deplorável do “muy amigo” Ciro Gomes, é parte da luta que está pela frente.
Avançar no curso indicado pelo 6º Congresso
Depois do golpe do impeachment, nas eleições municipais de 2016, tendo perdido 10 milhões de votos, o PT começou uma reflexão que chegou ao seu 6º Congresso (junho 2017) e resultou em resoluções que apontavam um novo caminho. Tais resoluções indicavam uma política de superação da adaptação às instituições. Adaptação que está na raiz dos erros cometidos pelo PT, em particular medidas políticas e alianças contraditórias aos interesses da nossa base social, cujo ápice foi o último mandato de Dilma.
As resoluções do 6º Congresso, somadas ao combate contra o golpe e a manutenção da candidatura de Lula – num claro questionamento das instituições apodrecidas – até onde foi possível, -revigoraram o partido e ele chegou ao segundo turno.
“Recaídas” no curto combate entre o primeiro e segundo turnos, não ajudaram. Uma semana foi perdida atrás de uma ampla frente que não se concretizou, buscando até o apoio do primeiro algoz da perseguição jurídica ao PT, o ex-ministro do Supremos Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Tampouco ajudou atender ao comando da Rede Globo e jogar para o espaço a proposta de Constituinte que constava do programa de governo e que era a resposta, no terreno da democracia, ao justo e profundo rechaço ao atual sistema. São estes erros sobre os quais o partido deve seguir refletindo.
Nada a ver com a hipócrita cobrança que fazem porta-vozes da burguesia e suas instituições, na cruzada “anticorrupção” que, aqui e alhures, serve de instrumento para o imperialismo remover obstáculos aos seus interesses. É preciso ter claro que não se trata, como a Lava Jato e seu conduto Sergio Moro, de um justo processo, no qual se comete alguns equívocos.
Com tudo e por tudo o PT está preservado. Não ruiu como ruíram os partidos tradicionais da burguesia. Teve 47 milhões de votos para presidência, elegeu 57 deputados federais, a maior bancada na Câmara, elegeu quatro governados. Mas tem, sobretudo, uma militância que, quando chamada, deu o sangue na batalha para virar os votos nas duas últimas semanas antes do 28 de outubro.
Agora é hora de abrir a discussão nas instâncias e junto à base partidária. Fazer o balanço e organizar a luta contra os ataques aos direitos e à democracia!
Misa Boito