O Brasil diante da guerra na Europa

Como não poderia deixar de ser, também no Brasil repercute a guerra deflagrada por Putin no coração da Europa, ao ordenar suas tropas a entrar em território da Ucrânia. Governo, partidos, organizações políticas, sindicais e populares tomaram posição a respeito da guerra em curso nos dias que se seguiram ao início da invasão.

Na cúpula do governo, com Bolsonaro recém chegado de sua viagem à Rússia, houve confusão. O general Mourão, vice-presidente da República, foi o primeiro a falar e, dirigindo-se à Otan, pediu providências mais pesadas do que sanções econômicas contra a Rússia, saudoso, certamente, da tradição dos milicos brasileiros de alinhamento automático com os Estados Unidos. Mas tomou um puxão de orelha do “chefe” e sumiu do cenário. Bolsonaro que, tal como Trump e outros direitistas, admira o “perfil” do presidente russo, afirmou a “neutralidade” de seu governo, negando-se a condenar a invasão da Ucrânia, ainda que os diplomatas brasileiros votem resoluções nesse sentido na ONU.

Confusão também na base bolsonarista. O agronegócio está apavorado, não só com a falta de fertilizantes importados, mas com a crise econômica que vai se aprofundar com as sanções adotadas pelos EUA e União Europeia contra a Rússia. Entre os bolsominions “ideológicos” há divisão entre os que apoiam o direitista Zelensky (talvez a minoria), e os que seguem os conselhos de Steve Bannon (guru de Trump) e apoiam Putin contra o “globalismo”.

“Paz entre nós, guerra aos senhores”
Este verso da “Internacional” foi substituído por parte da chamada esquerda, no Brasil e outros países da região, por uma espécie de saudade da “guerra fria” que leva a posições como: “inimigo do meu inimigo é meu amigo”, “se os EUA estão de um lado, estamos do outro”. Isso sem analisar a natureza das forças que estão em conflito, que a URSS não mais existe e sobre seus destroços se ergueram governos que defendem interesses de capitalistas mafiosos e reprimem o seu próprio povo, como é o caso de Putin.

Tais setores substituem os interesses dos povos e a luta de classes por “campos” que opõem governos no tabuleiro da geopolítica. Por isso se alinham com um inexistente Putin “antiimperialista”, apoiando a sua invasão da Ucrânia. Há os que dizem que é uma “guerra justa”, outros listam nas redes sociais todas as invasões feitas pelo imperialismo dos EUA – que são muitas como sabemos e denunciamos – como se elas justificassem Putin a fazer o mesmo. Mas na hora de dizer “Não à Guerra” travam a língua, pois isso exigiria a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia.

A CUT tirou uma nota no dia do início da invasão russa intitulada “Não à Guerra na Ucrânia”, dizendo “condenar ações militares de quaisquer lados”. O PT, através da sua presidência, tirou uma nota pedindo “o fim das hostilidades”, retirando de circulação nota de sua bancada no Senado que se alinhava com Putin, substituindo-a pela “reafirmação” da posição da presidência. Lula falou contra a guerra, mas alimentou ilusões de que uma ONU “reformada” poderia resolver o conflito.

O que pode abrir uma saída para essa situação terrível é a luta contra a guerra ser abraçada pelos trabalhadores e povos de todo o mundo. É preciso reforçar o movimento que o povo russo já iniciou ao sair às ruas por “Não à Guerra”, desafiando a censura, a repressão e a violência do governo Putin. Essa é uma tarefa também aqui no Brasil. Os povos não estão nem do lado da OTAN, nem de Putin, e nada esperam da ONU, eles estão contra a guerra!

Julio Turra

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