O Diretório Nacional face à história

Nesse momento crucial, seria o PT capaz de se reencontrar?

A reunião do Diretório Nacional (DN) de 19 de abril, adotou uma resolução contra o golpe e uma moção a Jean Willys.

Aberta de manhã por João Paulo, do MST em nome da Frente Brasil Popular, a discussão foi calorosa. Alguns parlamentares até questionaram a participação legitimadora do impeachment na Câmara, levantando alternativas para o Senado, inclusive resistir “em Palácio” no último momento.

Todos chamavam à luta, vários apontavam o reencontro do PT com os movimentos ou a própria história, nessa onda de mobilizações. Embora outros identificassem um difuso “novo ator”.

Markus Sokol, da Corrente O Trabalho, destacou a paralisação nacional para a vitória e propôs três emendas à resolução, integrando o papel do Judiciário, a construção de comitês contra o golpe e o apoio a novas formas de luta em debate nas centrais, todas incorporadas pelo presidente Rui Falcão.

Antecipação das eleições é acordo com o PSDB

Do DN também fez parte a longa e emocionada fala de Lula que, apesar de dizer que “minha cabeça ainda não processou” e que “a luta de classes está de volta“, de fato, jogou pra baixo ao concluir que “não há mais o que fazer”, flertando com a antecipação das eleições presidenciais. Tanto que alguns dirigentes choraram.

Registre-se que à tarde coube a Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), em nome da Frente Sem Medo, dar cobertura “combativa” de Diretas-já à antecipação. Ela teve pouco espaço na direção, desde a Executiva na véspera. Sokol desqualificou a antecipação, por ser uma renuncia negociada, por cima do PMDB, com setores mais pró-imperialistas, PSDB/DEM e Marina.

Ao final, o DN adotou uma resolução rompendo a aliança com o candidato golpista a prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo (PMDB), e postergou sem data os encontros setoriais para se concentrar na luta contra o golpe.

O DN adiou uma decisão sobre alianças eleitorais nos municípios porque, apesar do justo questionamento aos”partidos golpistas”, há confusão sobre o que sobrou da “base aliada” como também do chamado “campo democrático-popular” – o PSB, como partido é golpista, apesar do governador da Paraíba, por exemplo, lutar contra o impeachment. Mas excluir das alianças os “golpistas”, ainda incomoda setores da direção aliados, como na Bahia, com gente do PMDB, PP, PSD etc. que não votou o impeachment (mas apóia a entrega do pré-sal…).


 

“Se não for a paralisação, o resultado é o impeachment”

Markus Sokol no Diretório Nacional

A primeira coisa que proponho, companheiros, à parte da resolução, é uma moção de solidariedade com Jean Willys, deputado do PSOL, cuja atitude digna na votação domingo precipitou uma reação institucional contra ele. Nossa bancada seria a portadora dessa moção para sua defesa.

De fato, a transmissão de TV escancarou o que é esse Congresso – uma vergonha nacional! Daí, volta como nunca a necessidade da reforma política das instituições, Judiciário inclusive, que só uma Constituinte pode fazer. Não é para hoje, certo, mas é para já, a cada dia atitudes concretas, como tijolos na construção do que será a Constituinte no país.

A situação é gravíssima. O dono do Itaú tirou uma nota congratulando-se com a Câmara e chamando ao “entendimento nacional” nessa base.

Então, é importante o editorial do New York Times tomar distancia do impeachment, ainda mais a campanha internacional feita contra o golpe – com nossa ajuda pelos meios que temos, como vocês sabem (v. pág. 12), com delegações a embaixadas, junto com outros setores e instituições, o que ainda deve crescer – mas não nos enganemos.

Quem manda é o capital financeiro internacional. Ele, hoje, na maioria está pelo golpe, alinhando os demais. Por isso é grave. Falaram de uma coalizão maior do que no golpe de 1964, acho que não, pois além de divisões internacionais, a CNBB não está no golpe como em 64 [vários da sala – “mas tem os evangélicos!”]. Verdade, mas respeitando as opções de fé, estrutura de poder é a Igreja Católica. E mesmo a coalizão de 64 podia ser enfrentada.

Mas, enfim, é preciso analisar com realismo a ameaça do golpe que se desenha para ver como enfrentá-la.

Valorizo a passagem da resolução que aponta para um novo governo de recomposição a partir de forças contra o golpe. Seria a forma de mudar, na prática que é o que conta, a atual “política de alianças” que desmoronou, e traria mais apoio ao enfrentamento.

Valorizo muito o trecho que indica medidas econômicas urgentes para o governo tomar. O tempo é curto, mas Dilma tem a caneta e ainda dá para mostrar ao povo para que quer continuar, com propostas de emprego e programas sociais e também retirar, como disse a deputada (Moema, PT-BA), medidas como o PLC 257.

Mas o principal, companheiros, é compreender a centralidade de prepararmos uma paralisação nacional.

Porque os atos talvez tenham batido no teto da capacidade das entidades nesta etapa, ao redor do milhão. Para entrar mais gente tem que parar a produção. Afinal, para a família trabalhadora, não é fácil encher as praças de domingo, tem as dificuldades da vida doméstica e outras, que os coxinhas não tem pra passear e lotar a Paulista, por exemplo.

Essa é a uma forma de luta que ainda não usamos. Se não for a paralisação mostrar à nação a força dos trabalhadores, o resultado do impeachment no Senado não será melhor que o da Câmara.

Sem ilusões, o Judiciário – a resolução deve retomar isso – está no golpe tangendo o voto dos parlamentares corruptos que imaginam poder se safar. O Cunha mesmo só está lá, porque o STF decidiu deixá-lo para depois, afim de comandar o impeachment. Não esperemos outra coisa do Senado, a menos de uma forma de luta mais avançada.

Eu sei que não se decreta greve aqui, numa resolução. Isso tem que ser discutido com a CUT, as centrais e sindicatos. Sei também da situação complicada nas fábricas. Mas é o que é necessário. Não é fácil a paralisação, mas não é impossível. Podemos derrotar o golpe.


 

Resolução do Diretório Nacional do PT de 18 de abril:

A admissão do processo de impeachment viola a legalidade e abre caminho para um governo ilegítimo.

Apesar de minoritária na Câmara, a resistência ante golpista cresceu formidavelmente nas últimas semanas.

Fazendo autocrítica na prática, o PT tem reaprendido, nesta jornada, antiga lição que remete à fundação de nosso partido: o principal instrumento da esquerda é a mobilização, pela qual a classe trabalhadora toma em suas mãos a direção da sociedade e do Estado.

Um evento incentivador nesta direção podem ser jornadas de luta em todo o País, culminando com um 1º de Maio unitário de repúdio ao golpe, defesa da democracia e de bandeiras da classe trabalhadora.

O PT recomenda à presidenta Dilma que proceda imediatamente à reorganização de seu ministério, integrando-o com representantes comprometidos com a luta ante golpista.

Também indicamos que o governo reconstituído dê efetividade aos projetos do Minha Casa Minha Vida, iniciativas a favor da reforma agrária, bem como medidas destinadas à recuperação do crescimento, do emprego e da renda dos trabalhadores.

O PT jogará todas as suas energias, estimulando os Comitês pela Democracia e contra o Golpe. Em cada cidade e Estado, em cada local de trabalho e estudo, vamos nos mobilizar para deter a aventura golpista.”

Para ler a resolução na íntegra, clique aqui.

Artigos publicados na edição nº 785 do jornal O Trabalho de 28 de abril de 2016.

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