O drama dos jovens no trabalho dos aplicativos

Pesquisa realizada em São Paulo revelou que 75% das pessoas que trabalham como entregadores para aplicativos como iFood e Uber Eats tem entre 18 e 27 anos. Coordenado pelo Instituto Multiplicidade o estudo entrevistou 270 pessoas e mostra um quadro alarmante.

Esses trabalhadores possuem uma jornada de trabalho em média de 12 horas diárias ganhando em média R$ 936 por mês. O pagamento por entrega é tão pequeno nesse sistema que leva a 57% dos entrevistados a trabalharem todos os dias da semana, sem folga. Chegando à situação de não irem para a casa e dormirem nas ruas do centro de São Paulo para trabalhar ainda mais, como relata Caio Lucas da Silva, de 19 anos, descrevendo sua rotina de virar os finais de semana dormindo na rua para conseguir ganhar mais.

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Desemprego e precarização
O elevado desemprego na juventude impulsiona o “sucesso” desses aplicativos de entrega.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que 25,8% das pessoas entre 18 e 24 anos estão desempregados em setembro. Isto é mais que o dobro do desemprego do resto da população.

Dos jovens entre 18 a 29 anos que estão empregados (cerca de 17,7 milhões de acordo com o IBGE) 7,3 milhões vivem de bicos.

São jovens que estão submetidos a trabalhos similares aos dos entregadores dos aplicativos, sem qualquer direito trabalhista.

Eles não têm direito ao descanso semanal, não tem férias, não tem nenhuma proteção à sua saúde no trabalho. É o que mostra o caso de Thiago de Jesus Dias, que trabalhava de entregador para o aplicativo Rappi. Durante uma entrega em uma região nobre de São Paulo ele se sentiu mal. Ana, a pessoa para quem ele fazia a entrega, o socorreu. Ela afirma que avisou a empresa Rappi da situação e recebeu como resposta apenas que desse “baixa no pedido” e nada mais! Thiago, abandonado pela empresa para qual ele trabalhava, sofreu com a demora em receber atendimento médico e acabou morrendo 2 dias depois das complicações do Acidente Vascular Cerebral que teve.

Mobilizações
Os aplicativos vendem o discurso do “empreendedorismo”, do “faça seu horário de trabalho” para atrair, em especial, os jovens. Na verdade, o que fazem os aplicativos é explorar o trabalho, sem nenhum direito.

A superexploração imposta pelos aplicativos começam a gerar mobilizações.
Em maio ocorreu uma paralisação dos motoristas de aplicativos em São Paulo e outras cidades brasileiras. Eles exigiam um pagamento mínimo maior por corrida e mais segurança. Manifestações similares ocorreram em diversas cidades do mundo. Em Londres os entregadores do UberEats paralisaram as atividades por um aumento no pagamento mínimo por entrega. No final do ano passado a cidade de Nova Iorque, após mobilizações dos motoristas de aplicativos, adotou uma lei que estabelece um pagamento mínimo por hora aos motoristas o que representou um acréscimo médio de 44% em seu pagamento.

Cristiano Junta

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