“Ela em breve inundará o mundo (…). Mas, enquanto isso, o mundo está sobretudo inundado de dólares.”. É com estas poucas palavras que o jornal Parisien Dimanche (22 de Novembro) abre uma página dupla sobre o negócio da vacina Covid-19. Começa com a informação de que, antes mesmo da produção de qualquer vacina, a União Europeia já concedeu a diversos laboratórios 2,15 bilhões de dólares e os EUA 9 bilhões, para financiar a sua investigação (1 bilhao de dólares, por exemplo, apenas para a Johnson & Johnson) e contratos de fornecimento.
No entanto, se os fundos públicos dos Estados têm sido usados para investigação, desenvolvimento e futuro fornecimento, este é, de fato, um enorme mercado que se abre para os laboratórios farmaceuticos na venda de vacinas… para estes mesmos Estados.
“A Pfizer comprometeu-se a praticar preços ‘próximos do seu custo’”, nosdizem. Mas será assim? Claire Baudot, dirigente da ONG Global Health Action, recorda que, na realidade, “os preços estão desconectados dos custos”, citando como exemplo o Sofosbuvir – medicamento contra a hepatite C – “que custava 75 a 100 dólares para fabricar e que a Gilead vendia por 90 mil aos EUA, 45 mil à França e 400 ao Egipto”. É assim que a Pfizer acordou fornecer à União Europeia 200 a 300 milhões de doses da sua vacina anti-Covid-19 a 15,50 euros por unidade, mas os EUA já aceitaram pagar-lhe 21 euros por dose…
“MAIS RENTÁVEL QUE O PETRÓLEO”
“Sabemos que o negócio das vacinas é o mais rentável do mundo, mais rentável do que o do petróleo”, insiste Claire Baudot. E se isto é verdade em geral, “com 8 bilhões de pessoas em todo o planeta, é o mercado do século. Especialmente, tendo em conta que a sua investigação é subsidiada pelos governos, bem como o transporte.”
Portanto, mesmo antes de alguém ser vacinado, “os lucros já são enormes. (…) A empresa norte-americana de biotecnologia Moderna registou apenas 60 milhões de euros de volume de negócios em 2019, mas espera-se que atinja quase 3 bilhões em 2021 (…). Viu o seu valor em Bolsa subir 399%, desde Janeiro. A BioNTech – a parceira da Pfizer da Alemanha – aumentou a sua cotação em 207%. A empresa americana Novavax foi a que teve o melhor desempenho: o preço das suas ações aumentou 2.075%, em cerca de 11 meses. Todas estas empresas são pepitas de ouro para os especuladores e dão a perspectiva de suculentos dividendos aos seus acionistas (…).”
É um mercado extremamente lucrativo… sobretudo tendo em conta que os riscos são limitados para os lucros. Como prova, tomando apenas o exemplo da Europa, “os laboratórios tomaram medidas para assegurar, no caso de haver processos judiciarios por efeitos secundários graves, que seja a União Europeia a pagar as indenizações aos doentes”.
Bingo!
Adrien Duquenoy, no semanário Informações Operárias nº 632, Paris, 25 de Novembro de 2020 .