Há um mês a situação dos moradores da Ocupação Vitória, em Diamantina, interior de Minas Gerais, ultrapassou o extremo. Por mais de 30 dias, as cerca de 150 famílias que vivem no Bairro Cazuza, na cidade histórica, ficaram sem acesso à água, que foi cortada pela Copasa, empresa mineira de saneamento, sob comando do governador Zema (Novo), sem nenhum aviso prévio.
O corte foi feito no dia 12 de julho, sob alegação de irregularidades no serviço, que já era fornecido há pelo menos 7 anos. Enquanto faziam mobilizações populares na cidade e uma campanha de denúncia em todo o estado, os moradores questionaram junto a empresa que se negou a receber uma comissão e recorreram ao Ministério Público, o qual ajuizou uma ação civil pública em que obteve uma decisão liminar no dia 16 de julho para que o fornecimento de água fosse restabelecido em 10 dias.
O prefeito de Diamantina, Juscelino Roque (DEM), se comprometeu a fornecer água potável à ocupação nesse período, mas não cumpriu a promessa. Preferiu utilizar os caminhões pipa para lavar as pedras do centro histórico da cidade. A ocupação sobreviveu de forma precária à base de doações dos moradores da cidade e da região que se solidarizaram com a situação, e no limite, utilizando de uma mina de água que acabou se mostrando imprópria para consumo.
A questão foi denunciada pela moradora Daniella, mãe de um bebê de sete meses, que explicou que viu sua “condição de insuficiência renal piorar em função do consumo impróprio da água da mina”, e se via desesperada porque não tinha como “oferecer água para o bebê, que também sofre do mesmo quadro, inclusive fazendo tratamento em Belo Horizonte”.
Além de sofrer com a falta de água, a comunidade também começou a enfrentar o problema da fome. O funcionamento da cozinha comunitária da ocupação, que serve cerca de 160 refeições diárias, também foi prejudicado diante da ausência do item básico para cozinhar.
Mesmo com a decisão liminar tomada a Copasa se recusou a religar o fornecimento de água e entrou com recurso, mas foi novamente derrotada judicialmente no dia 9 de agosto.
Com a empresa se recusando a cumprir a decisão judicial, os moradores da Ocupação organizaram mais uma manifestação fechando a BR 367 e se dirigindo até a sede da Copasa no dia 11 de agosto, onde conseguiram ser recebidos pela empresa e finalmente foi restabelecido o fornecimento de água no mesmo dia.
Para a coordenadora da Ocupação, Marcia Melo, “o cenário só mudou após muita luta dos moradores, desde campanhas de expor a situação da população até o nosso grande ato com interdição da BR 367 exigindo o cumprimento da decisão judicial”.
No mesmo sentido o deputado Betão (PT MG), que acompanhou e apoiou a luta, denunciando na Assembleia Legislativa e cobrando o governo do Estado, considerou que “trata-se de uma vitória da luta dos moradores”. Betão, no entanto, ressaltou que a luta deve continuar, “porque a Copasa só aceitou instalar um hidrômetro único para registro de todos os moradores, diante da reivindicação de hidrômetros individuais”.
Leonardo Iung