A pandemia da Covid-19 escancarou a faceta cruel do capitalismo. Para a população negra, seus impactos são ainda piores. A ONU destacou que há um impacto desigual em todo mundo entre negros e brancos em relação aos óbitos pela Covid-19, apontando o Brasil como exemplo. Os negros em São Paulo têm 62% mais de chance de morrer que os brancos.
Segundo dados do Ministério da Saúde analisados pela Agência Pública, dos 10 bairros de São Paulo (epicentro da pandemia no país) com mais mortes, oito tem mais negros que a média da cidade. Considerando-se 100 mil habitantes na capital paulista, a taxa de mortalidade por idade é de 9,6 para brancos, de 15,6 para negros e de 11,88 para pardos.
E essa realidade não é uma particularidade brasileira, como destaca a ONU. Países como EUA, Inglaterra, País de Gales, dentre outros, também apresentam uma taxa de mortalidade para negros muito maior que os brancos.
Letalidade policial é uma ameaça constante
Se por um lado a letalidade da Covid-19 atinge principalmente os negros, por outro, a violência policial segue aplicando sua política de genocídio da população negra. A série de manifestações e protestos desencadeados pela morte de George Floyd nos EUA demonstram que não é mais possível tolerar não apenas a violência policial contra a comunidade negra, mas também toda desigualdade na saúde, educação, emprego, habitação, dentre outras.
O caso de Goerge Floyd não foi o primeiro que gera revoltas, porém a dimensão da explosão social em todo o país e pelo mundo demonstra que passou de um confronto das comunidades negras contra a polícia para um enfretamento de diversas componentes da população, como negros, latinos, jovens brancos, sindicalistas contra o sistema falido do capitalismo.
E, assim como na pandemia, os EUA e Brasil apresentam números desproporcionais em relação a assassinatos de negros pela polícia. Nos EUA, um negro tem 2,9 vezes mais chances de ser morto pela polícia que um branco; no Brasil, esse número é 2,3 vezes maior. A polícia brasileira é mais letal. Só o estado do Rio de Janeiro em 2019 matou quase o dobro do que policiais americanos em todo país. Mesmo quando por exemplo, levamos em consideração a população de negros no Brasil, que é três vezes maior, percebemos como os números aqui são gritantes quando a polícia brasileira mata 18 vezes o número de negros que os policiais americanos mataram. Casos como o do menino João Pedro, de 14 anos, assassinado em casa durante uma operação policial, não é algo isolado em nosso país.
O governo Bolsonaro, com o intuito de seguir essa sua politica genocida, excluiu a violência policial do balanço anual sobre violações dos direitos humanos, jogando para debaixo do tapete todos os dados, como tentam fazer com a Pandemia.
Queremos respirar!
A explosão social em todo mundo por conta da morte de George Floyd é um sinal que não é mais tolerável sobreviver nos marcos da sociedade capitalista e racista, como bem elaborou Steve Biko “racismo e capitalismo são duas faces da mesma moeda”. E essa revolta, unindo os oprimidos em torno da pauta racial, vai muito além dela – não é um problema local ou nacional, mas tem sua dimensão mundial.
Joelson Souza