A Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo retomou as mobilizações. Nesta terça feira (7), na Capital, litoral e interior aconteceram carreatas em defesa da vida dos professores e alunos. A reivindicação da mobilização era clara “volta as aulas presenciais somente com redução drástica da pandemia” e com escolas em condições sanitárias apropriadas como ventilação e disponibilidade de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Retomada das mobilizações
Para Regina de Sena, da subsede Sudeste-Centro da Apeoesp “Nossa carreata em Defesa da Vida hoje foi um sucesso. Mais de 40 carros pararam um trajeto da região da Ana Rosa, Av. Paulista e Av. Consolação. Várias subsedes da Capital e grande São Paulo responderam ao chamado do sindicato: sudeste-centro, norte, sudoeste, oeste-Lapa, Penha, Tatuapé e Diadema.”
A professora Marina Inês do Nascimento, conselheira da subsede de Diadema da Apeoesp explica o motivo da manifestação “Não sou a favor do retorno as aulas presenciais neste momento, pois quem vive a realidade das escolas públicas e de periferia sabe as condições de seus alunos e que nas escolas não tem nem papel, quem dirá álcool gel. Sabemos que nas primeiras semanas é um faz de conta, depois cada um por sua conta e risco. Enquanto não superarmos a situação da pandemia não voltaremos pois é a vida dos trabalhadores, dos alunos e de suas famílias que estará em risco. Não concordamos com a necropolitica (política de morte) implantada por Doria. Não é momento de retorno uma vez que o continua crescente e alarmante o índice de mortes em SP. A periferia está pagando um peço muito alto com a falta de planejamento por partes dos governantes. Retornar neste momento em que o índice de mortes por Covid-19 continua alarmante. Voltar as aulas sem condições é direcionar os que mais sofrem com a desigualdade social ao matadouro.”
Volta as aulas apenas com condições sanitárias adequadas
O professor Roberto Guido, secretário de imprensa da Apeoesp foi claro ao explicar “Os professores e professoras da rede estadual, através da Apeoesp, demonstraram sua rejeição ao retorno às aulas sem o fim absoluto da pandemia que ora assola nosso país. A carreata contou com a presença de representação de várias subsedes da capital e de Diadema e mostrou que a nossa posição está em sintonia com a população que aplaudiu por toda a paulista a mensagem da Apeoesp em defesa da vida.”
Ao longo das manifestações aplausos, gritos de “fora Bolsonaro” e acenos de apoio eram recebidos pelos professores. Trabalhadores de aplicativos, que acabaram de fazer uma greve no último dia 01 de julho e preparam outra greve dos APPs para o dia 25 sinalizavam para participantes da manifestação. Nos carros ao longo da manifestação buzinas se solidarizavam com nosso carro de som e com faixas e bandeiras apregoadas nos veículos.
A cada farol faixas eram estendidas nos cruzamentos.
Para o José de Arimatéia, mais conhecido como professor Ari da subsede da Apeoesp de Diadema “A escola é um local que favorece um alto grau de contágio, colocando em risco a vida de estudantes e professores. A carreata organizada pelo sindicato foi importante para chama atenção de toda a comunidade escolar para os perigos que é a retomada das atividades escolares presenciais anunciada pelo governo Dória. A população deve estar atenta a mais essa armadilha preparada pelo governo.”
As escolas são um dos locais chaves para transmissão em epidemias. Mal ventiladas e com salas superlotadas, produto de fechamento de escolas, turnos e turma para redução de professores e implantação desmedida de escolas de tempo integral que reduziram o número de turmas drasticamente, as escolas acabam por ser locais ideais para alto índice de transmissão. Um estudo espanhol divulgado pelo site do jornal El País (17.06) demonstra que uma turma de 20 alunos estabelece uma rede potencial de contágio de 808 pessoas em 48 horas de aulas. Em São Paulo a maioria das turmas tem mais de 40 alunos.
Situação das escolas
O relato de Valmir Siqueira, o professor Val da Diretoria Estadual e docente na zona norte da cidade explica “propor uma volta as aulas, mesmo em 8 de setembro, sem nenhuma perspectiva de melhorias nas escolas é um absurdo. Sabemos que por mais que o governo afirme que haverá equipamentos de proteção, os famosos EPIs, não vai dar conta. Não haverá distribuição em quantidade de máscaras e de álcool gel para uso individual de cada aluno. Tivemos o exemplo da H1N1 anteriormente e sabemos da fragilidade. Sabemos que há problemas graves de falta de itens de higiene. Em muitas escolas não há papel higiênico, não há sabonete. Alunos muitas vezes sofrem humilhação e constrangimento para ter acesso. Não há solução dessa precariedade do Estado em dois meses. O governo do PSDB não tem preocupação com a escola. Não será esse governador que está fingindo que é bonzinho, mas não esquecemos que é Bolsodória. João Doria cancelou os contratos e por isso demitiram os homens e mulheres que enfrentavam o trabalho de limpeza das escolas. Quem vai cuidar da zeladoria e manutenção? Gestores, coordenadores e trabalhadores administrativos das escolas estão sendo obrigados a trabalhar na sorte para não acontecer nada. Não dá para falar que vamos voltar para sala de aula em setembro sem segurança. Apenas com investimento para garantir a segurança sanitária é possível o retorno às aulas. Mas sabemos que é muito difícil isso acontecer com esse governo.”
Continuidade
A retomada da mobilização continua com a organização dos Encontro de professores das categorias O, S e V (categorias contratadas e precárias) no dia 8 de julho para buscar ajudar na defesa dos professores mais vulneráveis, muitos sem renda desde o fim das aulas, por receberem apenas aulas dadas como eventuais.
Alexandre Linares