Vladimir Putin foi reeleito presidente da Rússia, sem surpresas. A imprensa fala em plebiscito, em fraudes, mas de todo modo ele teria sido reeleito. Putin aparece para a população russa como um mal menor, depois do período de anarquia vivido pela Rússia nos anos 1990. É visto como aquele que restabeleceu a autoridade do Estado e sua soberania frente aos Estados Unidos e às grandes potências.
A natureza do regime autoritário de Putin tem uma particularidade: após a queda da União Soviética (URSS), a Rússia era um barco à deriva. As privatizações se multiplicavam, o roubo da propriedade social era evidente. Putin e seu grupo, vindos em sua maioria do aparelho do Partido Comunista da URSS, assumiram o controle do Estado, recentralizando-o e reintegrando no setor público ou nacionalizando as empresas que haviam sido privatizadas.
Atualmente, 70% do setor industrial está sob controle estatal. Uma oligarquia dependente do aparelho de Estado coloniza essas empresas públicas, das quais retira suas riquezas. Essa oligarquia mafiosa é constituída de bilionários, enriquecidos graças a ações de pilhagem, mas que dependem do aparelho de Estado chefiado por Putin.
Depois da miséria dos anos 1990, por medo da explosão social, Putin teve de liberar algumas coisas à população trabalhadora. Ao mesmo tempo, reforçou o caráter autoritário do regime, contra as liberdades democráticas e sindicais. Mas, desde 2012, a renda média dos russos caiu 12%, e a taxa de pobreza oficial é de 14% da população.
Uma das bases dessa oligarquia é a economia de armamentos. A pressão exercida pelos Estados Unidos por meio da corrida armamentista pesa fortemente sobre a Rússia. Em 2010, o orçamento militar equivalia a 40 bilhões de euros; atualmente, é de 60 bilhões de euros, 6% do PIB do país. O aumento desses gastos levou a cortes nos orçamentos da educação e da saúde, que representam 3,5% do PIB cada um.
Reforma da economia
Os especialistas defensores do capital financeiro fingem se preocupar com a dependência da economia russa em relação ao petróleo e ao gás. Todos consideram necessário reformar a economia russa. As bases da reforma estão sobre a mesa: dizem que o sistema de aposentadorias, em virtude do envelhecimento da população, é insustentável.
A idade de início da aposentadoria é a que prevalecia na URSS: 55 anos para as mulheres, 60 anos para os homens. Alguns defendem o aumento gradual do início da aposentadoria até 63 anos. Mas “mexer nessa conquista social da época soviética poderia se mostrar impopular” (AFP, 19/3).
Entre os planos de reforma da economia, há o apelo aos investimentos estrangeiros. Outro caminho é, evidentemente, o aumento da produtividade do trabalho. A reforma do direito do trabalho levaria a uma acentuação da degradação das condições trabalhistas na Rússia. Isso implicaria, para Putin e sua oligarquia, um choque violento e frontal com a classe operária russa, que ele até o momento tentou evitar.
Lucien Gauthier, do jornal “Informações Operárias”, da França