“Que país é esse?”

Temer insiste em ter 3% de apoio popular. Na Câmara, porém, 52% dos deputados o apóiam contra investigar uma segunda denúncia. No Senado é igual, senão for pior.

3% contra 52%? Que representação do povo é essa no Congresso Nacional?

“Que país é esse”, perguntava a canção lan­çada em 1987, que começava denunciando “Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado” (Legião Urbana).

Na época eram “300 picaretas, Luis Inácio falou”, segundo outra canção (Paralamas). Hoje, são “300 golpistas”, disse Lula na Ca­ravana.

São eles que mantêm Temer, por enquanto, não tem o que colocar no lugar (o Judiciário acompanha).

Esse Congresso não é cara do Brasil, é a cara repugnante da sua classe dominante.

E não porque o povo “vota errado”. Afinal, por quatro eleições, esse mesmo povo deu a vitória a Lula e Dilma, do PT. O qual nunca passou de 18% na Câmara e, somando a es­querda (num sentido amplo), não dava 25%.

Por que? Um grande problema reside nas regras institucionais da representação, que é desigual, bicameral, individualizada e finan­ciada pelo poder econômico. São coisas que uma reforma política – um eleitor, um voto; fim do Senado; voto em lista; e financiamento publico exclusivo – tem que mudar. Se não, as regras seguirão distorcendo a vontade popular. Um pé-de-chumbo para o PT. Pode ganhar, mas para governar tem que compor com adversários – isso não é democrático!

Por mais que o PT e as forças populares se esforcem – e devem se esforçar ao máximo – esta é a dura realidade do Congresso domi­nado pela minoria oligárquica.

Agora, o Ibope contratado pelo Globo foi a última pesquisa a reconhecer: Lula lidera para presidente com 35%, na pesquisa espontânea tem mais que todos candidatos somados, ganha no 2o turno, se não levar no 1o turno.

Nós não somos eleitoralistas. Faltam 11 me­ses para as eleições. Mas temos a dimensão do que significa, após o golpe do impeachment, o PT voltar a passar dos 20% de preferência partidária, e seu candidato, condenado a quase 10 anos de cadeia, liderar a pesquisa! São as atuais instituições que estão em jogo.

A Caravana de Lula em Minas confirma, não é um fenômeno do Nordeste.

A campanha eleitoral começou, de fato. Porque não há outra saída a curto prazo ao desmanche dos golpistas bancado pelo Judi­ciário, a Presidência e o Congresso, à serviço do capital financeiro. E porque uma crescente massa popular enxerga no perseguido Lula do injustiçado PT, a saída política palpável.

Mas estão mantidas aquelas regras de re­presentação, que fazer?

Buscar compor uma coalizão para ter 51% de parlamentares nas duas casas do Con­gresso, seria a repetir o erro dos governos anteriores do PT!

É preciso mergulhar a fundo nas lutas de resistência – como o projeto da CUT de anu­lação da reforma trabalhista -, para tirar daí a força para eleger o máximo de parlamentares e a mais ampla aliança possível com “setores antiimperialistas e radicalmente democrá­ticos” (resolução do 6o Congresso do PT) com um programa: Lula eleito puxar a luta para convocar uma Constituinte exclusiva e soberana que mude as regras do jogo – para aí revogar as contrarreformas dos golpistas, reformar a representação, o judiciário e a mídia, fazer a reforma agrária, auditar a dí­vida e desmilitarizar a Polícia Militar, entre outras urgências – para que se tenha o Brasil que o povo quer.

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