Renato Freitas: “Ao contrário dos que torciam pela vitória do fracasso, estamos de volta”

No fechamento desta edição, o vereador Renato Freitas, do PT, reassumia seu lugar na Câmara de Curitiba. No dia 5 de julho, ele conquistou uma liminar no Tribunal de Justiça do Paraná, a qual anulou a sessão de 22 de junho que havia cassado seu mandato.

Renato, jovem negro e periférico, enfrenta uma perseguição política, em um processo desproporcional e recheado de irregularidades. E a Câmara já anunciou: o julgamento será retomado em agosto. Apesar disso, Renato comemorou a vitória parcial em suas redes sociais, citando a banda de Reggae brasileira Natiruts: “ao contrário dos que torciam pela vitória do fracasso, estamos de volta, ao contrário dos julgamentos infelizes e hipócritas, estamos de volta!”.

O Trabalho conversou com ele em 2 de julho, antes da liminar, após sua participação no Ato Nacional “Constituinte com Lula”.

OT – Quais são os elementos que nos permitem afirmar que essa cassação é, na verdade, uma perseguição política?
Primeiro, a quebra do princípio da isonomia: tratamentos iguais a pessoas iguais. Eu sou vereador como qualquer outro vereador. E nós temos outros vereadores que responderam por corrupção ativa e passiva, por desvio de R$ 38 milhões, por assédio sexual… Por exemplo, o caso da vereadora Katia dos Animais, que foi condenada a 41 anos de prisão, saiu algemada da Câmara, mas o Comitê de Ética decidiu suspender suas prerrogativas, não achou que cassação seria a medida adequada. Nunca na história centenária da Câmara, houve uma cassação. Comigo teve, pela primeira vez.

Segundo, o áudio que vazou do vereador Marcio Barros, que fazia parte da Comissão de Ética, e estava conspirando com outros vereadores que também seriam julgadores do meu caso. Terceiro, a pressa, o açodamento. Não respeitaram nem o prazo de 24 horas entre a intimação e a sessão de julgamento, uma garantia mínima no direito brasileiro.

E há outros elementos. Por exemplo, quando a Guarda Civil me deu um tiro na mão e outro nas costas, antes de eu chegar ao hospital, o prefeito Rafael Greca (DEM) já havia declarado que confiava na Guarda, ou seja, declarou uma guerra contra mim. Ele controla 2/3 dos vereadores da Câmara.

Você falou da Guarda Civil de Curitiba, que já havia te detido duas vezes, e agora esse processo na Câmara. Qual o motivo que você enxerga para isso?
Eu venho das ruazinhas de terra, das ocupações irregulares, minha mãe é uma empregada doméstica, eu não tive o convívio com o meu pai, o contato que eu tive com o Estado, não foi com o Estado romântico, ou com a projeção que ele faz de si mesmo em forma de propaganda. Quando eu tive contato com a polícia, foi a polícia matando no bairro onde eu morava, agredindo, humilhando, ameaçando. Da mesma forma eu conheço o transporte, a saúde por esse prisma. O Malcom X tem uma frase que diz: “a criação mais perigosa em qualquer sociedade é uma pessoa sem nada a perder”.

Houve, no PT, uma insuficiência no combate para defender o seu mandato. Como que você enxerga isso?
As ovelhas egoístas, ignorantes, acreditam que quando o lobo vier, voraz, faminto, ele se contentará com apenas uma das ovelhas. E aquelas outras que assim pensam, que sacrificam a mais fraca (segundo a avaliação delas) estarão a salvo, que ele terá saciado sua fome. Mas o lobo voltará, sua voracidade é sem limites. É da natureza do lobo devorar as ovelhas uma por uma.

A atitude covarde, lamentável, da direção do PT Paraná, foi nessa crença. Que sacrificando a mim, jovem negro e periférico, para o capital, para a elite curitibana, trariam uma satisfação para eles a ponto de deixarem o PT funcionar normalmente nesse período eleitoral. Obviamente ocorre o oposto. Se eu cair, abre uma brecha para que outros como nós caiam.

Mas muitos e importantes companheiros como do Diálogo e Ação Petista, O Trabalho, Articulação de Esquerda e outros agrupamentos políticos dentro do PT compraram essa briga desde o primeiro momento, é importante que se diga. E, principalmente, quem me salvou de fato foi a base do Partido dos Trabalhadores, formada pelas “tiazinha”, pelos “tiozinho”. Essa galera, que conta só como garrafa na hora da eleição para essa direção, se mostrou mais do que número, se mostrou vida. E uma vida política potente, a ponto de consolidar e salvaguardar nosso mandato.

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