Entre 22 e 28 de janeiro ocorreu em Salvador o 37º Congresso do ANDES-SN.
Num momento em que Lula era julgado pelo TRF-4, a atual direção do sindicato esforçou-se para manter o ANDES isolado da realidade do país e dos próprios docentes.
Com o falso argumento de que a defesa da democracia e do direito de Lula se candidatar seria apoiar a candidatura do ex-presidente, a direção, coerente com sua posição de negar que houve um golpe no Brasil, tentou evitar o tema. Mas isso caiu por terra já na plenária de abertura, quando o representante da Conlutas (à qual o ANDES é filiado) pediu a prisão “de todos os corruptos do PMDB e do PT”, sendo respondido por sonora vaia e pelo coro de “golpista”.
Por iniciativa do Fórum Renova ANDES, foi antecipada a discussão de uma moção apoiada por mais de 600 docentes em defesa da democracia e do direito de Lula se candidatar. A diretoria opôs a ela uma nota divulgada dias antes em que se posicionava “contra a justiça seletiva”. Já os delegados ligados ao PSTU, na linha do “fora todos”, defenderam uma terceira moção. A proposta do Renova obteve cerca de 100 votos (25%), a do PSTU cerca de 20 votos, sendo aprovada a da diretoria, o que não deixa de ser um avanço num sindicato que se ausentou da luta contra o golpe.
Note-se ainda que a própria defesa das universidades atingidas pela ação discricionária da justiça, como a UFSC e a UFMG, foi aprovada com a oposição da diretoria, numa votação apertada que rachou os delegados identificados com ela.
A orientação sectária que domina há anos o sindicato se mostrou com clareza na discussão acerca da adesão ou não do ANDES-SN à Conferência Nacional Popular de Educação (CONAPE), convocada por 28 entidades, centrais sindicais, confederações e associações científicas. Com o argumento que o sindicato não tem acordo com as posições das demais entidades, foi defendida a não participação nesse fórum. Diante da proposta do Renova, a direção deu meia volta e, mesmo com muitas restrições, apresentou nova proposta que admitia a participação, para depois aprovar uma cartilha denunciando as posições das entidades da CONAPE, enfraquecendo a decisão anterior.
Um formato anti-sindical
A concepção de “sindicato revolucionário” que predomina na atual direção, não apenas isola a categoria do conjunto da classe trabalhadora, como impede tratar com seriedade as questões sindicais de interesse da categoria. Temas como os planos de luta do setor das federais e das estaduais foram relegados aos trabalhos da madrugada do último dia do congresso, com plenário esvaziado e quórum duvidoso.
O formato do congresso praticamente impede que o docente que quer lutar pelos seus direitos e participar das decisões se expresse: uma maratona de seis dias onde só os mais resistentes chegam ao final. Gastam-se horas e horas em discussões terminológicas e as lutas sindicais são jogadas para a madrugada. As emendas indesejadas pela direção são travadas em grupos mistos. Um formato que é um obstáculo à democracia sindical.
Surge uma alternativa
Expressando a insatisfação que vem da base surgiu uma alternativa a esse estado de coisas. No dia 23, ocorreu a Convenção do Fórum Renova ANDES-SN com cerca de 100 docentes.
Num clima de entusiasmo foi decidido o lançamento da Chapa Renova ANDES-SN e indicados seus encabeçadores: Celi Taffarel (UFBA), para presidente, Lurdinha Nunes (UFPI), para secretária-geral e Everaldo Andrade (USP), para 1º tesoureiro. Chapa em construção, cuja inscrição definitiva se dará até 27 de fevereiro.
Eduardo Vargas (UFRJ), na convenção, sintetizou a necessidade de renovar: “especialmente em relação à Conlutas, achamos que o ANDES se apequenou e obstaculizou o nosso papel na luta dos trabalhadores do nosso país. O tamanho que o nosso sindicato tem não comporta o tipo de sectarismo que existe nessa central e também na direção do nosso sindicato”. Benerval Santos, presidente da AD da Federal de Uberlândia afirmou: “queremos um ANDES diferente, que agregue, que traga a base a participar, não esse ANDES aparelhado pela CSP-Conlutas”.
Ao apresentar a chapa em plenário, Everaldo Andrade disse: “O Renova responde a problemas concretos da nossa categoria, da universidade, que a atual diretoria do ANDES-SN não vem respondendo”.
Agora é organizar a campanha e o apoio à chapa. Conheça as suas posições acessando:
– https://renovaandes.org/
Contato: renovaandes@gmail.com
Eudes Baima
PSTU FORA DA SITUAÇÃO
Uma das consequências do crescimento do Renova foi a exclusão do Coletivo Andes em Luta (ligado ao PSTU) da chapa da situação. Em face do setor mais estridente da linha sectária predominante no congresso, é provável que a maioria da atual situação não quis tê-los em sua chapa. Contudo na votação de moções ficaram juntos para impedir o repúdio à condenação de Lula e a defesa da Venezuela contra a agressão imperialista.