Rio Grande do Sul prepara luta contra desmonte do Estado

Movimentos de servidores organizam assembleia para o dia 18 que pode decidir por greve. Parcelamento de salários não é o único problema

Escrito por: Isaías Dalle • site da CUT Nacional

Recentes decisões administrativas do governador do Rio Grande do Sul, Ivo Sartori (PMDB), conseguiram o que muitos imaginariam quase impossível. O pagamento parcelado dos salários dos trabalhadores públicos, anunciado na última sexta-feira e colocado em prática desde ontem, dia 3, conseguiu reunir numa mesma frente desde militantes e dirigentes de correntes consideradas de extrema esquerda a oficiais e praças da Brigada Militar – a polícia do estado.

Outras sinalizações, como uma reforma da previdência dos servidores e a venda de patrimônio público para fazer caixa, colocaram os sindicatos dos servidores e as associações dos militares em estado de alerta. Todos prometem uma assembleia unificada no próximo dia 18, que pode decidir por uma greve de duração indeterminada.

A julgar por ontem, a luta que se inicia promete. Várias cidades gaúchas pararam. A ausência da polícia nas ruas levou bancos e comércio a fechar as portas durante todo o dia, inclusive na capital. Servidores fizeram manifestações de rua e atos políticos para denunciar e debater com a população os planos do governador.

Luta contra ajuste fiscal

A CUT Rio Grande do Sul, que compõe a coordenação unificada dos servidores públicos, tem participado de debates e encontros sindicais em todo o estado, para organizar a assembleia do próximo dia 18. Prepara jornal impresso para atacar aquilo que define como ajuste fiscal, que vai desacelerar ainda mais a economia gaúcha e restringir serviços públicos.

A questão econômica e a prioridade nos pagamentos é uma escolha política, lembra o dirigente executivo da Central Marcelo Carlini. “O governador decidiu parcelar salários dos servidores em três vezes. Ora, toda a folha de salários do funcionalismo soma R$ 1,2 bilhão por mês. E só em isenções fiscais, ano passado, o estado perdeu R$ 15 bilhões”, argumenta o líder sindical.

Carlini conta que o governador prepara uma série de medidas para reduzir políticas públicas e privatizar o que restou dos ativos estaduais, caso do Banrisul. Sartori anunciou o parcelamento dos salários dos servidores – menos os do Judiciário e do Legislativo – na última sexta-feira, via Youtube, e logo depois viajou para Curitiba.

Segundo Carlini, os dias que se seguiram foram de medo na população, por conta da decisão anunciada de os policiais não trabalharem na segunda-feira seguinte, e de perplexidade geral. A mensagem que ficou no ar é a de que o estado está quebrado. “Ausentando-se de cena, o governador deixou que os jornais e emissoras, com a RBS à frente, ficassem dias martelando a ideia de que é preciso privatizar para resolver o problema”, narra Carlini.

Mau exemplo federal

A tarefa dos movimentos sindical e sociais, agora, é se contrapor a essa ideia de ajuste. “A população ainda não comprou esse discurso. As mobilizações de ontem aconteceram no Estado inteiro. Mostraram que temos base social e que existe outra política possível”, diz o dirigente da CUT-RS.

Em resolução publicada ontem, a CUT estadual pede aos partidos populares que se juntem a essa luta. “Só oposição parlamentar não nos basta. Precisamos dos partidos na rua, comprometidos”, diz Carlini. Isso exigirá, na avaliação do sindicalista, criticar e se opor ao ajuste fiscal também encaminhado pela presidenta Dilma, que acabou funcionando como exemplo para governadores e prefeitos usarem o discurso da crise e da explosão das contas públicas para implementar pautas conservadoras.

O estado de coisas no Rio Grande exige também críticas à gestão passada, de Tarso Genro. Segundo Carlini, embora o ex-governador petista não tenha criado a política de isenções fiscais, que equivalem à metade do orçamento estadual, nada fez para mudá-la. Outro elemento da crise é a falta de renegociação da dívida com a União, tentada por Genro, mas nunca concluída.

Aulas de cidadania

O CPERS, sindicato que reúne os educadores estaduais, recomenda que de hoje até o próximo dia 17 seus filiados reduzam o tempo dedicado às aulas tradicionais e reservem esse espaço para debater com os alunos a real situação do Rio Grande do Sul e os motivos que levam os servidores e realizar mobilizações como as de ontem.

Suruagy

Em 1997, o então governador de Alagoas Divaldo Suruagy foi obrigado a renunciar diante de mobilizações que reuniram sem-terras, professores, policiais militares e diversas outras categorias. A origem da crise foi a acordo feito com usineiros pelo seu antecessor Fernando Collor, que prometera aos proprietários de usinas a devolução de uma soma que não era, de fato, dívida do estado.

Sem dinheiro, Suruagy chegou a deixar os servidores sem salários por seis meses.


Confira nota emitida pela Direção da CUT Rio Grande do Sul

“Esta segunda-feira, dia 3, entrou para as páginas mais tristes da história do Rio Grande do Sul. Em todo o Estado, milhares de servidores públicos, indignados com o parcelamento de seus salários e o descaso do governador Sartori com o serviço público, protagonizaram manifestações nas ruas, nas escolas, nos quartéis e em diversas repartições públicas.

Nos rádios, jornais e tevês uma poderosa campanha para convencer a sociedade de que não há saída para o Rio Grande senão retirar direitos, fechar Fundações, reformar a previdência pública e privatizar as poucas empresas estatais que restaram, como o Banrisul, a CORSAN (Estatal da área de água e saneamento) e a CEEE (Estatal de distribuição de energia). No passado a CUT-RS combateu esse projeto e irá combatê-lo na atualidade com toda a sua força, pois sabemos que ele é nefasto para todos os trabalhadores e para a sociedade.

Nós da CUT não apostamos no caos. Temos apresentado publicamente um conjunto de propostas. Nosso primeiro desafio será combater a onda de mentiras acerca da real situação das finanças do Estado que o governo Sartori produz e a grande imprensa reproduz. A saída para as finanças públicas está no combate à sonegação, à renegociação da dívida do Estado junto à União e o fim das isenções fiscais.

O nosso engajamento é total e irrestrito na luta com aqueles que dia a dia garantem a segurança, a saúde, a educação e outros serviços públicos. Conclamamos as entidades sindicais a manterem-se unidas nesse momento crucial, pois não aceitaremos que o governador achincalhe os direitos dos servidores. Destacamos a importância da Assembleia Geral Unificada convocada para o próximo dia 18 de agosto pelo movimento unificado dos servidores.

Exigimos que os deputados estaduais e os partidos populares juntem-se à luta que se desenvolve nas ruas, nas escolas e nos quartéis para derrotar os projetos de retirada de direitos de Sartori e garantir alternativas que caminhem na direção de uma sociedade mais justa e igualitária.”

Direção Executiva da CUT

03/08/2015

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