O escândalo financeiro, chamado de “fraude multibilionária” pela representação dos acionistas minoritários (Abradin), veio à tona nas últimas semanas. A empresa tem como principais acionistas alguns dos empresários mais ricos do Brasil, defensores ferrenhos das privatizações. Entre os principais credores estão os bancos públicos, que podem ter que arcar com cerca de um terço do montante da dívida. E estão sob risco de desemprego 44 mil trabalhadores, caso as demissões sejam incluídas no “plano de recuperação” da empresa.
O caso
Na virada de ano Sergio Rial assumiu a presidência das Americanas. Dez dias depois renunciou. Descobriu um rombo que passava de R$ 43 bi, dos quais 20 bi estavam maquiados: ocorre que a empresa pediu empréstimos para pagar fornecedores (o “risco sacado”), mas foram registrados como despesas, o que camufla as dívidas acumuladas. Quem audita as contas das Americanas é a multinacional PwC, membro do chamado “big four” de empresas de consultoria. Em seus relatórios nada consta de irregular. É possível um rombo de tal proporção ter passado despercebido? Ou a fraude e a pilhagem são regras do “mercado”? Mas os privatistas são sanguessugas do dinheiro publico: pouco antes do escândalo virar notícia, em 21 de dezembro, ainda receberam um empréstimo de R$ 450 milhões, no apagar das luzes do governo Bolsonaro. R$ 6,4 bi das dívidas têm como credores bancos públicos.
Fraude nas Americanas, pilhagem da Eletrobrás
Os bilionários Jorge P. Lemann, Marcel Telles e Carlos A. Sicupira possuem um terço das ações das Americanas. Lemann, que vive na Suíça, é o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna de R$ 80 bilhões. Ele e seus sócios – donos da 3G Capital – atuaram diretamente na privatização da Eletrobrás, da qual também são acionistas. Reportagem de Luis Nassif denuncia que “a forma como [Lemann] se apropriou da Eletrobrás é indecente, fruto de lobby direto na veia do poder público. Entrou como minoritário, no golpe do impeachment passou a ter poder de indicação dos gestores. Estes reduziram investimentos na estatal para garantir dividendos polpudos. A 3G, controlada por ele, produziu uma avaliação do preço da Eletrobrás indecente. O golpe da privatização ocorreu com a empresa emitindo ações, que diluíram a participação estatal, e impuseram um acordo pelo qual a União só tem direito a 10% dos votos, independente de sua participação acionária”. Nassif bem lembrou, também, que o momento é mais do que oportuno para o governo Lula reestatizar a Eletrobrás, fundamental para a soberania nacional.
Tiago Maciel