Em todo mundo manifestações com milhares exigem o cessar fogo imediato e o fim do bloqueio na faixa de Gaza. Neste próximo sábado dia 13 acontece o chamamento global pelo cessar fogo. Governos diretamente implicados no genocídio do povo palestino (como dos EUA) e governos europeus ditos democráticos defendem o “direito de defesa” de Israel, leia-se direito a exterminar o povo palestino. No Brasil, a grande mídia toca no mesmo tom. A acertada decisão do governo brasileiro de associar-se à petição da África do Sul ao Tribunal Internacional de Justiça contra Israel (em julgamento nestas quinta e sexta feiras) mereceu editorial de repúdio do porta voz mor da elite brasileira e do imperialismo, o Estadão, e um manifesto da Conib (Confederação Israelita do Brasil), na defesa do genocídio. Os ataques não vão parar e cada palestino morto é um tiro no futuro da humanidade. Publicamos aqui dois artigos do jornal francês Informations Ouvrières:
“Não há dúvida de que o governo Biden é cúmplice do genocídio de Israel”
(John J. Mearsheimer, especialista estadunidense em relações internacionais)
A África do Sul acionou o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), órgão judicial da ONU contra Israel, “por violação das suas obrigações relativas à prevenção do crime de genocídio” e pede ao seu presidente que chame Israel a “parar imediatamente todos os ataques militares na Faixa de Gaza e acabar com sua restrição à ajuda humanitária”.
Na petição, ela sustenta que os crimes israelenses em Gaza são cometidos “com a intenção de destruir os palestinos enquanto grupo nacional, racial e étnico”, que constituem, portanto, um genocídio e devem ser considerados no contexto de “75 anos de apartheid, 56 anos de ocupação beligerante do território palestino e de 16 anos de bloqueio de Gaza”. Na sequência desta petição, Benjamin Netanyahu declarou no domingo, 31 de Dezembro, que “continuaremos a nossa guerra defensiva, cuja justiça e moralidade são incomparáveis”. Os meios de comunicação e os dirigentes israelenses protestaram indignados enquanto apelavam ao prosseguimento dos massacres e destruições.
Não é a primeira vez que o Estado israelense é enviado ao TIJ, cuja decisão, que não terá caráter obrigatório, mas essencialmente político, só ocorrerá a partir de março. Até hoje, tinha se recusado a responder às convocatórias dos tribunais internacionais. Desta vez o estado israelense decidiu defender-se. Para isso, mandatou um juiz de seu Supremo Tribunal, Aharon Barak, conhecido por autorizar todas as expansões coloniais na Cisjordânia e em Jerusalém.
“Enormes implicações para os Estados Unidos”
Para John J. Mearsheimer, especialista estadunidense em relações internacionais, o relatório preparado pela África do Sul representa uma descrição precisa do que Israel está fazendo em Gaza e “fornece um conjunto substancial de provas mostrando que os dirigentes israelenses têm intenções genocidas contra os palestinos. De fato, os comentários dos dirigentes israelenses – todos cuidadosamente documentados – são chocantes. Ao ler a forma como os israelenses nas ‘mais altas posições de responsabilidade’ falam sobre como lidar com os palestinos, lembramo-nos da forma como os nazis falavam sobre lidar com os judeus”.
Mearsheimer observa que isso “tem enormes implicações para os Estados Unidos, especialmente para o presidente Biden e seus principais tenentes. Por quê? Porque não há dúvida de que o governo Biden é cúmplice do genocídio de Israel, o que também é um ato punível de acordo com a Convenção sobre o Genocídio”.
“Cúmplice de um crime horrível praticado à luz do dia”
O autor conclui apontando a responsabilidade cúmplice daqueles que sabem e aceitam: “Os Estados Unidos são uma democracia liberal, cheia de intelectuais, redatores de jornais, políticos, especialistas e acadêmicos que proclamam regularmente seu profundo compromisso com a proteção dos direitos humanos em todo o mundo. Eles tendem a ser muito barulhentos quando países cometem crimes de guerra, especialmente se os Estados Unidos ou um de seus aliados estiverem envolvidos. No entanto, quando se trata do genocídio de Israel, a maioria dos defensores dos direitos humanos da corrente liberal pouco falou sobre as ações selvagens de Israel em Gaza ou sobre a retórica genocida de seus líderes. Esperemos que eles expliquem seu silêncio perturbador em algum momento. Seja como for, a história não lhes será favorável, pois não disseram uma palavra quando o seu país era cúmplice de um crime horrível praticado bem à vista de todos.
François Lazar
Na Palestina, é a humanidade que está sendo assassinada
Oficialmente, ocorreram cerca de 23 mil mortes na Faixa de Gaza desde 7 de outubro. Na realidade, é muito mais, porque há todos os desaparecidos que estão sob os escombros. E depois, há dezenas de milhares de pessoas feridos, alguns das quais não conseguirão sobreviver. Cerca de 10 mil pacientes com câncer estão condenados à morte por falta de tratamento disponível.
Homens, mulheres, crianças e idosos estão sendo amputados, muitas vezes sem anestesia. Hospitais foram destruídos. Enfermeiros e médicos foram mortos. Imagens terríveis dessas crianças procurando um pouco de água e comida para tentar sobreviver. A OMS anuncia que, com a falta de água potável, surgem epidemias e que, com a fome, o número de mortes corre o risco de ser superior ao causado pelos bombardeamentos.
Oficiais e soldados israelenses são vistos rindo enquanto destroem casas palestinas. Um soldado diz: “Se alguém tem dinheiro, pode investir aqui”. Outros soldados se divertem mirando crianças, assustando-as atirando perto delas… quando não as matam à queima-roupa… Muitos políticos israelenses pedem a morte de todos os habitantes de Gaza, porque são todos “terroristas”. Dois jornalistas, um da Al Jazeera e outro da AFP, acabam de ser deliberadamente assassinados pelo exército israelense, que justifica sua ação dizendo que eram “terroristas”. Uma deputada israelense explicou no Knesset (parlamento) que os centros da ONU em Gaza devem ser destruídos para combater o Hamas.
Biden, Macron, Scholz apoiam o direito de Israel de se defender, ao mesmo tempo que pedem moderação para com os palestinos. Mate-os, mas não todos. Na Europa, os dirigentes das grandes organizações fecham os olhos ou desviam o olhar do genocídio em curso em Gaza. É efetivamente um genocídio e a maior carnificina do século XXI. Mas sem que os grandes dirigentes chamem, por toda a Europa, às centenas de milhares, aos milhões, as pessoas saem às ruas para dizer “Parem os bombardeamentos. Cessar-fogo. Fim do bloqueio a Gaza!”
Lucien Gauthier
(tradução Adaias Muniz)