Sindicalistas israelenses saúdam portuários belgas e espanhóis que bloquearam o transporte de armas

O site da Aurdip (Associação de Acadêmicos pelo Respeito ao Direito Internacional na Palestina) publicou online uma declaração de um grupo de militantes e sindicalistas israelenses em resposta à ação de portuários sindicalizados na Bélgica e na Espanha que se recusaram a carregar navios com munições destinadas a Israel. A declaração diz o seguinte:

“Os Estados Unidos têm uma política de longa data de fornecer a Israel quantidades enormes de ajuda militar (o que, aliás, proporciona lucros enormes para as indústrias de armamento dos EUA). Essa prática foi bastante ampliada e intensificada desde o início da atual guerra em Gaza.

O fluxo constante de munições dos Estados Unidos – e, em menor escala, de outros países ocidentais – é absolutamente essencial para que Israel mantenha sua guerra. A indústria de armamento de Israel por si só não poderia, de modo algum, suprir as necessidades de uma campanha de bombardeio maciço, durante a qual Israel lançou, em poucos meses, numa faixa de terra muito estreita e superpovoada, muito mais bombas do que os próprios Estados Unidos lançaram durante vários anos de guerra no Afeganistão e no Iraque.

O fornecimento de armas a Israel tem sido tradicionalmente justificado como ‘uma ajuda para que Israel se defenda’ e qualquer pessoa que se oponha tem sido ferozmente criticado como ‘querendo que os israelenses sejam expostos ao perigo’. No entanto, a guerra que Israel iniciou – manifestamente como resposta ao ataque mortal do Hamas contra comunidades e postos militares israelenses em 7 de outubro de 2023 – logo se revelou como não tendo a menor semelhança com qualquer tipo de ‘autodefesa’ e nunca teve esse objetivo.

Na verdade, é uma fúria desenfreada, uma orgia de assassinatos e destruição gratuita. Sob uma barragem constante de enormes bombas de uma tonelada – que são continuamente fornecidas a Israel por navios inteiros – escolas, universidades, mesquitas (e algumas igrejas) bibliotecas, instituições públicas de todos os tipos e a maioria das casas particulares na Faixa de Gaza foram destruídas ou severamente danificadas. A Cidade de Gaza está em ruínas, assim como muitas cidades menores ou aldeias. Trinta mil palestinos foram mortos, dos quais mais de dez mil crianças, e o número de vítimas continua a aumentar. Um milhão e meio de pessoas foram expulsas de suas casas para viver ao ar livre em condições horríveis.

O Tribunal Internacional de Haia, o mais alto tribunal criado para tratar de violações da lei internacional, reuniu-se para ouvir a acusação da África do Sul de que as ações de Israel na Faixa de Gaza poderiam culminar em genocídio real – o mais terrível de todos os crimes. Dezesseis dos dezoito juízes – juristas de destaque de diversos países e origens – foram unânimes em considerar muito grave o perigo de genocídio na Faixa de Gaza.

Mais precisamente, o Tribunal Internacional considerou plausível que as ações de Israel pudessem constituir genocídio e adotou seis medidas provisórias: ordenar que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir ações genocidas, impedir e punir qualquer incitação ao genocídio, garantir que a ajuda e os serviços cheguem aos palestinos sitiados em Gaza e preservar as provas dos crimes cometidos.

A resposta dos líderes civis e militares de Israel foi fazer os preparativos para um ataque total à cidade de Rafah – o mesmo local para onde Israel expulsou, nos estágios iniciais da guerra, um milhão e meio de habitantes de Gaza de suas casas. Os líderes israelenses persistem em fazer os preparativos para tal ataque a Rafah, mesmo quando os aliados de Israel alertam que isso poderia levar a uma carnificina terrível e a um desastre humanitário incalculável. No entanto, o fato de o presidente Biden ter feito essas previsões assustadoras não o levou a parar o fornecimento constante de armas e munições a Israel.

Foi nessas terríveis circunstâncias que a Federação Geral de Sindicatos da Palestina (PGFTU) divulgou um apelo urgente conclamando ‘os sindicatos das indústrias envolvidas’ a se recusarem a construir armas destinadas a Israel e a se recusarem a transportar essas armas. Vários sindicatos em diversos países responderam a esse apelo. Por exemplo, cinco sindicatos de transporte belgas emitiram uma declaração conjunta dizendo que se recusam a carregar ou descarregar armas destinadas a uma zona de guerra, e o sindicato dos portuários de Barcelona anunciou que que não ‘permitiria nenhuma atividade, em nosso porto, de navios contendo material de guerra’ e pediu um cessar-fogo em Gaza.

Nós, cidadãos israelenses e militantes de organizações políticas abaixo assinados, que estamos chocados e horrorizados com as ações do governo e das forças armadas israelenses e que desejamos um futuro de fraternidade entre israelenses e palestinos, consideramos as ações mencionadas acima, dos sindicatos belgas e catalães, como uma resposta apropriada e digna de louvor, à terrível carnificina em Gaza.

Conclamamos todos os outros sindicatos do mundo a imitar esse exemplo, para que se recusem a construir armas destinadas a Israel e que se recusem a carregar ou descarregar essas armas”.

Adam Keller para Gush Shalom Yossi Schwartz por ISL, seção do RCIT em Israel/Palestina Ocupada
Publicado no jornal francês Informations Ouvières, ed.798 – Tradução Adaias Muniz

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