Sobre o retorno de Marta ao PT

Em meio às notícias e articulações de dirigentes do partido para indicar Marta Suplicy como vice de Guilherme Boulos na chapa para as eleições da Capital, cabe fazer nesse momento algumas considerações para o conjunto dos militantes, muitos deles perplexos pela forma e conteúdo dessas articulações. 

Marta Suplicy abandonou o PT em 2015, quando nossos dirigentes, instâncias e militantes eram atacados de forma orquestrada pela classe dominante sob a acusação de corrupção. Não é preciso lembrar aqui a virulência das acusações nem as falsidades e sujeiras vindas de Moro/Dalagnol e sua operação lava-jato empinada pela Globo e todos os órgãos da chamada grande imprensa. O objetivo era destruir o PT, apesar de suas limitações e erros, representa a maior instrumento político construído pela classe trabalhadora brasileira.

Marta embarcou nessa canoa, sem pestanejar fez coro com todos os ataques e apostou no fim do partido, no fim de Lula, no fim das conquistas que até então a classe, como todas as dificuldades, havia alcançado. Ao se desfiliar do PT, Marta afirmou: “É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou, sendo certo que mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos episódios a envolver a sua direção nacional.”  Não foi uma posição de um militante de base confuso. Marta tinha mandato no senado, mandato que havia conquistado na legenda do PT em 2010. Rompeu com o partido e usou ilegitimamente o mandato que era do PT para destruí-lo. Assim a senadora, de forma objetiva, fez parte de toda a operação de retirada de conquistas do povo brasileiro que começou com o golpe de 2016.

Marta votou a favor da PEC do Teto de Gastos, maior golpe desferido contra a população brasileira que limitou durante anos os orçamentos de saúde, educação e todos os serviços públicos.

Marta votou a favor da Reforma Trabalhista, instrumento que desregulamentou as leis e garantias, conquistas de 70 anos da classe trabalhadora. Essa “reforma”, ainda em vigor, jogou milhões de trabalhadoras e trabalhadores na informalidade, ampliou a precarização na contratação da mão de obra, reduziu salários, deteriorou as condições de saúde e segurança no trabalho e enfraqueceu os sindicatos. Ou seja, Marta Suplicy se alinhou com o que de pior havia no Congresso Nacional, alimentou toda a operação do maior ataque aos direitos do povo brasileiro em décadas.

E como morango em cima do bolo, como todos sabemos, votou no golpe contra Dilma, com direito a flores para a Dra. Janaina… Marta ajudou a legitimar o golpe, deixando os petistas perplexos e atacando frontalmente as companheiras do partido que, nesse momento dramático, faziam a linha de frente de defesa de Dilma. 

Eleitoralmente ainda Marta será questionada por ter feito parte de um governo bolsonarista de Nunes até a semana passada. Uma credencial nada positiva para nossa chapa eleitoral.

Não somos adeptos do “pecado mortal”. Todo mundo pode errar e reconhecer seus erros. Mas a refiliação de Marta Suplicy, sem qualquer balanço de seu passado pregresso é um elemento de desmoralização não dela, mas do partido.

Nesse quadro, perguntamos: não cabe ao Partido, discutir esse “retorno”? Não cabe discutir se um dirigente, depois de se passar com armas e bagagens para o lado dos patrões, não teria que discutir aberta e publicamente como pretende rever suas posições e erros? Para nós, esse caso emblemático não encerra uma discussão somente de chapa e conveniência eleitoral. Trata-se de discutir mesmo que programa político os militantes do partido entendem como legítimo e se os dirigentes estão ou não obrigados a cumprir com esse programa. Além de considerarmos que o PT deveria indicar um nome do partido como vice de Boulos, não nos parece que “passar pano” nesse caso seja o caminho correto.

Barbara Corrales – membro da Executiva Municipal do PT, Carlito Pires – membro do Diretório Municipal do PT e Henrique Ollitta – membro do Diretório Estadual do PT de SP.

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