Em 22 de julho, depois de uma maratona na Câmara e no Senado, um novo triunfo dos trabalhadores põe ainda mais em questão a política do presidente Piñera, com a aprovação do projeto que permite a retirada de 10% do fundo de pensão acumulado nas AFPs [administradoras do sistema privado de aposentadoria no Chile, de poupança individual, NdT].
Quanto mais se aproximava a votação do projeto, mais crescia o apoio da população a ele, como forma de aliviar minimamente a grave crise econômica que, somada à pandemia, toma conta do país.
A direita, desesperada, tentou vários truques, mas não conseguiu derrubar a oposição, que há muito tempo não atuava em conjunto, além de ter sofrido uma deserção de vários de seus membros, insatisfeitos com a forma de atuar do governo.
Nesta quinta, 23 de julho, no terceiro trâmite legislativo na Câmara de Deputados, o governo sofreu, novamente, uma acachapante derrota. Com 116 votos a favor, 5 abstenções e só 28 contra, terminou a maratona, deixando o conglomerado oficialista cambaleante e buscando saída ao caos interno refletido na divisão interna de seus principais partidos: União Democrática Independente (UDI) e Renovação Nacional (RN).
Luta de mais de uma década
Agora falta que o projeto aprovado seja promulgado como lei pelo presidente, o que é o mais provável, pois a alternativa de recorrer ao Tribunal Constitucional está bloqueada pelo resultado da última votação (23/07), que superou o quórum de dois terços. A opção de veto presidencial é remota já que significaria um colapso do governo e abriria as portas para grandes protestos da população o qual já se fizeram sentir nestes dias, com panelaços e mobilizações em diversas cidades.
É notável o reconhecimento ao trabalho de mais de uma década da Coordenadora No + AFP [campanha pelo fim da capitalização individual imposta na ditadura de Pinochet, NdT], em sua luta pela Seguridade Social, por uma Previdência Pública e Solidária. Tal reconhecimento vem da população, de organizações sociais e sindicais, além dos próprios congressistas. A unidade da oposição se deveu, em grande parte, ao trabalho feito pela Coordenadora No+AFP nos distritos, comunas e regiões de cada senador e deputado, confrontando-os à questão de que se apoiariam o povo e os trabalhadores ou defenderiam os interesses dos conglomerados empresariais e financeiros.
Sabemos que este é só um triunfo parcial, já que não termina com a crise nem com o problema das pensões dignas para as e os chilenos e Seguridade Social para todos e todas. A luta pelo fim da capitalização individual continua!
Javier Márquez, Santiago 23 de julho