Urgência na Amazônia

Milhares de pessoas vindas de vários países, a maioria brasileiras (estimam 40 mil), participaram de várias atividades plurinacionais e multiétnicas no começo de agosto, em Belém do Pará. Promovidas ou apoiadas pelo governo Lula, elas foram um destape para colocar problemas de décadas, aqui agravados pelo surto obscurantista. É uma energia. Hoje, já é 60% da população da região que vive em cidades com periferias, em geral, mais precárias e miseráveis que o resto.

A culminância política foi nos dias 8 e 9 de agosto. Na Cúpula, Presidentes da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Seriam nove países, mas Macron, a autoridade colonial da Guiana Francesa desprezou o convite.

Balcanização
Não é um detalhe. Por isso, o Estadão denunciou as descabidas sanções sobre as metas exigidas pela União Europeia (UE), “Protecionismo disfarçado de preservação”, disse em editorial responsabilizando Macron que é o motor da UE na questão. Hipócritas, os países centrais não chegam nem perto do seu compromisso de US$ 100 bilhões de ajuda (compensação pela pilhagem e destruição).

Em seu discurso, Lula defendeu a exploração da “floresta em pé”, com os devidos cuidados.

Os oito presidentes retomaram a OTCA, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, no ostracismo desde 2009, que acompanhou o recuo dos chamados “governos progressistas”. Mas os ambientalistas reclamam que eles não fizeram nada em conjunto.

As decisões passam pela soberania nacional, mas vários problemas ambientais não tem solução dentro das fronteiras: sistema aquático, biodiversidade, incêndios, clima, povos indígenas – alguns transfronteiriços ou isolados -, quilombolas, ribeirinhos, surtos de fome, tráfico de drogas, garimpo ilegal. E, por último, mas não menos importante, os direitos sociais das periferias miseráveis das cidades que geram migrações e muitos outros problemas.

Acontece que cada um dos governos “progressistas” tinha oscilações e aliados próprios nas elites locais, além de relações de mercado com distintos setores do capital internacional.

A região continuou “balcanizada”. É importante porque diferentemente da África, Ásia e da Europa, a América Latina é hoje contraditoriamente “unificada” pela esmagadora dominação na região pelo “império do norte”, os EUA, que deve ser enfrentado em comum.

Agora vai?
As 113 decisões que seguem o preâmbulo da Declaração da Cúpula, podem ser discutidas. Mas qualquer um pode perguntar por que não se fez, qual o(s) obstáculo(s). E todos temos obrigação de questionar de onde vão sair os bilhões necessários.

A súplica às potências capitalistas, com a guerra da Ucrânia comendo os orçamentos, elas mesmas numa longa crise, inclusive ambiental e climática, não vai resolver.

“Discutem milhões de investimentos. Não estão promovendo a Amazônia. Estão promovendo as empresas”, diz Francisco Riyãko, líder ashaminka, povo transfronteiriço Peru-Brasil.

As nações precisam buscar os recursos onde estão, os povos sabem onde. Nesta etapa cada um terá que encontrar o seu meio soberano. Queremos crer que uns aprenderão com os outros.

Markus Sokol


OTAN na área?

Rubens Barbosa, ex-embaixador nos EUA, em artigo (OESP, 22/10/22), advertiu sobre certos planos de Gustavo Petro, da Colômbia. Em entrevista, Petro mencionou que “o objetivo das conversas com a Otan, da qual somos parte, é trazer a Organização do Tratado do Atlântico Norte para cuidar da Floresta Amazônica, para emprestar colaboração tecnológica”. Realmente, a associação à OTAN é uma herança que recebeu junto com sete bases yankees. Mas colocá-las para “cuidar” da Amazônia seria o maior desastre ambiental, social, e da soberania das nações.


Mercado privado do carbono

Apareceu a salvação da lavoura mundial. Basicamente as empresas poluentes (indústrias), comprariam títulos de crédito vendidos por empresas não-poluentes, “verdes”. No Brasil, já foi lançada a B4 em São Paulo, bolsa onde os títulos serão negociados, um novo nicho especulativo. Todos limpam a cara. É inevitável a pressão nos preços decorrente da compra de créditos, dirão que é o custo da “transição energética”. Mas uns (nós) pagam e outros (eles) ganham. Articulam o negócio, entre outros, o banqueiro Henry Paulson, ex-diretor do Tesouro dos EUA, e o notório Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda de Dilma 2, hoje no banco Safra. São ativos nesse mercado iFood e Uber, os maiores destruidores de direitos sociais.


A Amazônia no Forode São Paulo

Quase todos os países da região estavam no Foro, a metade com partidos no poder. Mas não há menção à palavra Amazônia na Declaração Final!

O mais perto é “clamar por uma nova industrialização ecológica e produtiva, a partir do papel indutor do estado em investimentos e da cooperação científica e tecnológica, deixando de ser uma mera exportadora de recursos naturais e de commodities, criando e fortalecendo cadeias produtivas regionais, incrementando as relações comerciais intrarregionais, avançando em mecanismos de estabilização, financiamento e de comércio soberanos. É essencial que essa industrialização ocorra sobre novas bases de proteção ao meio ambiente e uma verdadeira transição ecológica, a partir do avanço da ciência e da tecnologia.”Quem seria contra tão boas intenções? Difícil. Mas o Foro de partidos e movimentos, não deveria ser como a diplomacia dos governos na ONU. Deveria apontar os obstáculos e os meios para superá-los.

Por que esse silêncio de proporções amazônicas? É por falta de “consenso” sobre o mercado de carbono? Ou sobre a exploração predadora do lítio buscada pela Bolívia ou o fechamento dos poços de petróleo pregado por Petro? Ou é só para não constranger a Cúpula dos presidentes semanas depois?

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas