Vem aí eleições na Colômbia

As eleições presidenciais na Colômbia em 29 de maio têm como favorito o candidato do “Pacto Histórico”¹, Gustavo Petro, que lidera as pesquisas com mais de 43% da intenção de voto. O ex-prefeito da capital Bogotá deve disputar um 2º turno, em 19 de junho, com o direitista Federico ‘Fico’ Gutiérrez (27%). Depois da posse de Boric no Chile há dois meses e cinco meses antes das eleições no Brasil, as atenções da região se voltam para a possível vitória de Petro.

Há décadas a violência é a ferramenta predileta da classe dominante colombiana contra a maioria do povo. A guerra interna, o deslocamento forçado de populações, o assassinato impune de lideranças populares, sindicais e de esquerda e inclusive de candidatos presidenciais, o narcotráfico e a ingerência militar dos Estados Unidos, estiveram, no país vizinho, sempre à serviço de uma obscena concentração de riquezas. A pandemia aprofundou a pauperização e precarização do trabalho, o desemprego e insegurança alimentar, levando à aceleração dramática da crise estrutural do país, o que se expressou em 2021 no “Paro Nacional” de mais de 40 dias contra o governo de Iván Duque e o uribismo².

Na campanha eleitoral o terror voltou ao cenário urbano, com atentados com maletas-bomba em Bogotá. Em 30 de abril, Petro denunciou ter sofrido ameaças de morte de um grupo paramilitar. É o regime uribista, ferido de morte pela mobilização popular, que se recusa a sair de cena.

A chapa Petro e Francia
O avanço da consciência e da luta de amplos setores populares é o que está por trás do favoritismo de Petro. Sua candidatura acaba sendo o receptáculo das lutas que tiveram o seu ponto culminante no Paro Nacional de 2021, uma greve de massas que jogou nas cordas o governo Duque, provocando uma crise nos partidos tradicionais, liberal e conservador, e nos de direita e extrema-direita que se alternavam no poder.

Nas eleições legislativas de março passado, o “Pacto Histórico” obteve 17 cadeiras no Senado e 25 na Câmara, o melhor resultado já obtido pela centro-esquerda, enquanto o grande perdedor foi o Centro Democrático uribista que era a principal força até então. Depois, nas primárias para formar a sua chapa, apesar dos esforços de Petro para oferecer a vice-presidência a um político liberal, a pressão das bases deu mais de 800 mil votos à militante negra Francia Márquez, que representa aspirações de uma ampla massa do povo pobre, discriminado e radicalizado que protagonizou as grandes jornadas de luta contra Duque.

Um governo Petro-Francia, uma vez eleito, estará submetido a fortes pressões contraditórias. Empresários vão exigir mais subsídios, menos impostos e maior precarização do emprego, contando com as pressões externas do imperialismo dos Estados Unidos que vai querer manter a Colômbia como sua base de operações na região.

O povo trabalhador, ao revés, exigirá que os ricos paguem mais impostos, aumento de salários, desmantelar as contrarreformas que nos últimos 30 anos atacaram direitos trabalhistas e as aposentadorias, a reversão de privatizações e a melhoria dos serviços públicos prestados pelo Estado.

Seguiremos atentamente esse processo.

Alberto Salcedo

¹ Pacto Histórico: coalizão composta por partidos e movimentos políticos de esquerda e centro-esquerda.
² Uribismo: coalizão de governo formada em torno das políticas do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2022), além de partidos como o Conservador, mantém laços com o narcotráfico e os paramilitares.

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