O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) adiou as eleições presidenciais na Venezuela, incialmente previstas para 22 de abril, para 20 de maio. Na mesma data ocorrerão também eleições para os conselhos legislativos estaduais e municipais.
A decisão foi tomada após a assinatura do “Acordo de garantias eleitorais” entre o partido de Maduro, PSUV, e um setor da oposição que em 28 de fevereiro havia formalizado a inscrição de Henri Falcón como candidato presidencial, o Avançada Progressista (AP) e os tradicionais partidos MAS e COPEI.
O acordo inclui a abertura de registro eleitoral para venezuelanos que estão no exterior e o pedido de uma missão de observação eleitoral para a ONU, sendo similar ao acordo final obtido na República Dominicana, rompido pela oposição representada por Julio Borges atendendo a uma ordem vinda de Washington.
Assim, no vazio deixado por Julio Borges e a Mesa de Unidade Democrática (MUD), um setor da oposição vai participar das eleições, criticando a agenda de violência e caos impulsionada pelos extremistas da MUD.
O candidato Henry Falcón já está sofrendo forte campanha de seus antigos parceiros, associados ao governo Trump e ao Grupo de Lima (governos pró-imperialistas da América do Sul), além da OEA, por participar das eleições.
Os partidos “Primeiro Justiça” (PJ) e “Vontade Popular” (VP), não cumpriram as regras para legalizar-se para as eleições, pois sua linha é boicotá-las. Só lhes resta os cargos que mantém na Assembleia Nacional eleita em dezembro de 2015, cujo poder está esvaziado com a existência da Assembleia Constituinte eleita no ano passado, e agora vão apelar para ações violentas de rua que complementem as sanções econômicas aplicadas pelos EUA.
Trump não desiste
Em 2 de março, Donald Trump estendeu por mais um ano o decreto que declara a Venezuela como ameaça à segurança dos EUA “por erosão das garantias aos direitos humanos e corrupção governamental”. Continua assim a agressão estadunidense com o objetivo de derrubar o governo Maduro, estando prevista uma viagem de Trump em abril ao Peru para participar da Cúpula das Américas organizada pela OEA, e, em seguida à vizinha Colômbia.
A política do imperialismo, além de sabotar as eleições de maio na Venezuela, inclui pressões sobre a ONU para que não envie observadores e operações de “inteligência” para dividir as Forças Armadas venezuelanas tendo em vista um golpe de Estado.
O governo Maduro reagiu anunciando em 10 de março a prisão de nove oficiais da Força Armada Nacional Bolivariana por traição e instigação à rebelião.
Em conclusão, as pressões internacionais serão brutais, bem como as agressões econômicas, sobretudo as que atacam diretamente as condições de vida do povo trabalhador. O que exige medidas emergenciais do governo Maduro para atacar a hiperinflação e o desabastecimento.
No que diz respeito à candidatura de Henri Falcón, se obtiver um bom resultado isso não vai convencer o governo Trump e seus aliados de que as eleições foram limpas. Ao contrário, preparam-se para não reconhecer os seus resultados. O que faz do enfrentamento entre o imperialismo e a nação venezuelana algo que concentra a situação política na América Latina, com reflexos mundiais.
Alberto Salcedo, 11 de março
Cerrar fileiras diante do ataque imperialista!
Tomando posição pela reeleição de Nicolás Maduro nas eleições remarcadas para 20 de maio, foi divulgado um documento de iniciativa do Coletivo Trabalho e Juventude, firmado por dirigentes sindicais, trabalhadores e militantes políticos de várias origens, que levanta uma plataforma de emergência.
“Para nós, trabalhadores, não haverá possibilidade de defender nossa nação e nossas conquistas sem derrotar o imperialismo e seus lacaios. Se eles conseguem derrubar o governo do presidente Maduro, será a classe trabalhadora que será derrotada”, enfatiza o documento que parte da defesa das organizações sindicais e cobra da Central Bolivariana Sindical dos Trabalhadores (CBST) que “centralize todas as demandas dos trabalhadores”.
Medidas de emergência
Para defender o salário contra a hiperinflação e o desabastecimento são apresentadas medidas imediatas que deveriam ser decretadas pelo governo Maduro ainda antes das eleições. Dentre elas:
– Aumento imediato do vale alimentação e refeitórios nas empresas com mais de vinte trabalhadores; extensão do vale para os aposentados que não tem esse benefício (aumentar o preço da gasolina para este fim);
– Vale-transporte para todos e criar rotas para os trabalhadores chegarem aos principais centros de trabalho público ou privado;
– Pagamento de 120 dias de abono obrigatório para os trabalhadores em todas as empresas privadas de fabricação, distribuição e comercialização de alimentos, as quais aumentaram lucros através da especulação com os preços;
– Que os aumentos de salários se apliquem a toda a grade de trabalhadores do Estado, obrigando as empresas privadas a fazerem o mesmo;
– Incorporar os abonos aos salários no cálculo dos passivos trabalhistas e outros benefícios (aposentadoria por exemplo);
– Que todos os empregados públicos e entidades sindicais tenham acesso a Comitês Populares de Abastecimento e Preços (CLAP), relançamento da Rede Mercal (mercados populares) em convênio com pequenos produtores:
– Que se garanta a recontratação dos que perderam o emprego, inclusive nos casos de terceirização ainda pendentes;
– Revisão da lei do fundo de pensões e aposentadoria de empregados públicos, estabelecendo 20 anos de serviço para o direito ao benefício.
“Sobre essa base”, conclui o documento, “convocamos todos os trabalhadores a construir em cada local de trabalho comitês independentes de apoio à reeleição presidencial de Nicolás Maduro, apresentando essas medidas (…) Apenas os trabalhadores e setores populares organizados de forma independente podem garantir a soberania da nação”.