“Vergonha aos governos que apoiam o genocídio”

Meio milhão saíram às ruas de Londres em 17/5 para marcar o dia da Nakba (“Catástrofe”) e mais uma vez protestar contra o genocídio do povo palestino. Reproduzimos trechos das falas que encerraram a grande manifestação:

“Esses governos, cúmplices
do genocídio, ousam se utilizar
da luta contra o antissemitismo
para reprimir aqueles cujo único
crime é dizer ‘parem o genocídio’”

É uma grande honra para mim estar com vocês e tomar a palavra nesta impressionante manifestação. Trago as saudações da França Insubmissa, que está se manifestando em Paris neste exato momento pelas mesmas razões. Há poucos dias, e 77 anos após a Nakba, Netanyahu declarou: “mais de 50% dos habitantes de Gaza irão embora”. Eles procuram países que aceitariam os palestinos expulsos. E, agora mesmo, a ofensiva está sendo desencadeada. Desde o início, esse tem sido seu objetivo: completar a Nakba, erradicar um povo inteiro, excluí-lo de sua terra.

A população palestina de Gaza enfrenta a fome e o bombardeio incessante. Eles não têm mais nada para comer além de grama cozida e ração animal. Todo mundo sabe, todo mundo vê. Os protestos puramente formais do presidente francês Emmanuel Macron são irrisórios. Ele acabou de dizer que a questão da revisão dos acordos entre Israel e a União Europeia é legítima. Sim, mas a verdade é outra: há apenas um mês, um navio carregado com armas destinadas a Israel estava atracado em um porto francês, como dezenas de navios de carga antes dele. A verdade é que o governo francês, assim como na Inglaterra o governo Starmer, continua, na prática, a apoiar o governo genocida de Israel.

Esses governos são cúmplices do genocídio e se atrevem a instrumentalizar a luta contra o antissemitismo para reprimir e criminalizar todos aqueles cujo único crime é dizer “Parem o genocídio”, como o parlamento francês acaba de fazer para punir os estudantes que se manifestam nas universidades contra o genocídio, e nós apoiamos os estudantes. São os mesmos que, em seus próprios países, fazem declarações e medidas de divisão racistas. Na França, o primeiro-ministro falou em submersão migratória. E aqui na Inglaterra Keir Starmer diz que o país está se tornando uma ilha de estrangeiros. Vergonha!


“Nossos deputados do
Labour (partido trabalhista),
dos Conservadores e do partido
Reform UK, reuniram-se em uma festa oferecida pelo embaixador de Israel”

A cobertura diplomática continua a ser fornecida para o governo extremista de Netanyahu, que deixou claras suas intenções. Nesta semana, o ministro das Finanças de Netanyahu, Smotrich, disse na televisão que Gaza seria completamente destruída e que os palestinos se mudariam em grande número para outros países. E, no entanto, esse governo não fez nada. Que vergonha. Ele é cúmplice dos crimes de guerra mais óbvios e visíveis.

E, no entanto, nesta semana, há apenas três dias, nesta mesma cidade, no Museu Britânico, nossos parlamentares de todos os campos: trabalhistas, conservadores, reformistas do Reino Unido, reuniram-se em uma festa organizada pelo embaixador israelense para celebrar essa limpeza étnica na Palestina, esse roubo de terras, de fazendas e vilarejos.

Os ministros trabalhistas se levantaram para aplaudir o uso dos nossos impostos para enviar a aviação britânica para ajudar nesse genocídio e coletar informações que permitem que os assassinos continuem matando crianças, com armas e peças de reposição fabricadas neste país e vendidas para as forças de defesa de Israel.


Londres 17/5/25

“Keir Starmer descreve
o país como uma ‘ilha de
estrangeiros’: nosso movimento
não conhece ‘estrangeiros’”

É maravilhoso ver tantas pessoas reunidas aqui hoje e eu gostaria de lembrá-los de como esse movimento tem sido importante. Keir Starmer fez um discurso hoje em que falou sobre estrangeiros, descrevendo o país como uma “ilha de estrangeiros”. Quero deixar claro: este movimento não conhece “estrangeiros”. Todos nós fazemos parte do mesmo movimento, não importando nossas diferenças de raça, religião, opinião política ou qualquer outra coisa. Estamos aqui pelo motivo que acabaram de ouvir: solidariedade com o povo palestino. E não permitiremos que Keir Starmer faça de nós bodes expiatórios. Não vamos admitir que ele qualifique essas manifestações como manifestações de ódio; elas são exatamente o oposto.

Na verdade, os que promovem o ódio neste país são aqueles que constroem sua política em acordo com o (partido) Reform UK, com os racistas e com todas as divisões que eles querem criar. Portanto, dizemos com muita firmeza que o Stop the War sempre se opôs à islamofobia e tenho orgulho de estar me manifestando com a comunidade muçulmana e com todas as comunidades que hoje estão aqui reunidas.

Mas eles estão cada vez mais isolados, e Israel nunca esteve tão isolado. Isso se deve à resistência e à firmeza dos palestinos, mas também aos nossos próprios movimentos em todo o mundo, o movimento de solidariedade que tem dito aos sucessivos governos “não vamos deixar isso acontecer” e agora devemos dizer “a Palestina será livre do rio ao mar”, essa é uma exigência fundamental.

Então, quando vemos o que conseguimos hoje, vamos continuar nos organizando, vamos continuar nos manifestando e vamos dizer a Keir Starmer e Donald Trump: “Vocês não conseguem fazer chegar comida para as crianças famintas de Gaza, mas conseguem entregar bombas todos os dias para Israel!


“A Nakba é um
processo que continua”

Como muitos palestinos, nasci com uma cicatriz, ou melhor uma ferida, tão profunda que me acompanha por toda a minha vida. Essa ferida da Nakba tem sido minha professora, minha educadora, minha companheira. 1948 não é apenas um momento na memória coletiva, foi uma catástrofe que deslocou meu povo, que irrigou o pensamento de gerações inteiras de palestinos, uma catástrofe que expulsou meus avós de sua terra, como tantos outros, que nos transformou em refugiados perpétuos.

Nascemos para lamentar, nascemos para lembrar. Nascemos para resistir. Os últimos 77 anos não foram o produto desse momento singular: a Nakba é um processo que continua. Gaza é um capítulo sangrento e brutal no implacável e interminável projeto sionista de expulsar definitivamente de sua terra os seus legítimos proprietários.

Deixe-me lembrá-los de que esse genocídio está sendo perpetrado por Netanyahu, mas que está sendo armado e financiado por Biden e Trump. Ele foi sustentado por operações de inteligência e reconhecimento fornecidas por Sunak e Starmer. Von der Leyen, da União Europeia, lhe deu cobertura diplomática. É um empreendimento conjunto e eles não vão parar porque esta é a Nakba deles.

Reproduzido do jornal francês “Informations Ouvrières” nº 859

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