Violência policial insuportável

Movimento negro nas ruas no dia 24 de agosto em reação à escalada de mortes

Por dia, foram 17 mortos em intervenções policiais em 2022. 83,1% eram pretos e pardos. 75% tinham entre 12 e 29 anos.

Os dados gritam. Não apenas sobre o racismo nas forças policiais, como sobre o racismo arraigado na sociedade que justifica a violência contra a população negra e pobre – e as polícias brasileiras estão entre as que mais matam no mundo.

E vitimam crianças como Eloá da Silva Santos, 5 anos, “achada” por uma bala perdida na sala de casa, no Morro do Dendê, no Rio, durante suposta troca de tiros – é o que alega a PM. Assim como alegou dias antes que “dois homens em uma motocicleta atiraram contra a guarnição”, sendo um deles o menino de 13 anos, Thiago Menezes Flausino, que morreu baleado na Cidade de Deus, também no Rio. Moradores acusam a PM de terem executado Thiago já caído no chão, e terem forjado uma troca de tiros. Há imagens de câmeras de segurança e transmissões ao vivo.

Também a PM de Lauro de Freitas (BA) alega que reagiu a disparos feitos contra policiais, na ocasião em que Gabriel Silva da Conceição Júnior, de 10 anos, foi alvejado e morto na calçada em frente de casa, em julho. A mãe contesta: “foi a polícia que entrou atirando e eu quero justiça.”

É contra uma política a qual, sob o pretexto do combate ao crime, submete comunidades ao confronto permanente e operações que expõem moradores e policiais, que organizações do movimento negro de todo o país decidiram dar uma reposta, nas ruas. Atos em todo o país no dia 24 são organizados pelo fim da violência e racismo policial, por entidades como o MNU, UNEGRO, Coalizão Negra por Direitos, CONEN.

É uma reação a operações que deixaram dezenas de mortos nos últimos dias de julho e no início de agosto, em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Na Baixada Santista, a Operação Escudo da PMSP está já há mais de três semanas aterrorizando moradores e famílias de comunidades pobres. Já são 20 mortos, sendo a operação institucional mais letal em SP desde o Massacre do Carandiru, em 1992.

“A gente teve contato com pessoas do entorno que dizem que de fato o que houve ali foi uma execução. E contam que os policiais estavam tentando arregimentá-los como testemunhas de uma troca de tiros, ao que se negaram”, afirmou o Ouvidor das Polícias de São Paulo, Cláudio Silva, sobre uma das mortes em local no qual ele pôde visitar. Em entrevista ao site O Trabalho, ele falou de um possível movimento de destruição de provas nas cenas do crime, inclusive com a falta de perícias nos locais e as alegações de problemas nas câmeras corporais dos policiais que participam da operação.

Reportagem da TV Globo mostrou ainda a suspeita de que parte dos assassinados foram levados da capital do estado pela PM para morrer no Guarujá.

Na Bahia, foram 30 mortos em menos de uma semana, em operações em Salvador, Camaçari e Itatim. A polícia baiana é, sozinha, responsável por mais de um quinto das mortes em decorrência de intervenção policial em 2022, com 22,7% do total, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. E, em 2021, a cada 100 destes mortos, 98 eram negros, segundo o relatório “Pele alvo: a cor que a polícia apaga”.

Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia, do PT, defendeu de forma enfática após reportagem da TV Globo: “respeitem a nossa polícia militar, o que vocês estão fazendo com a polícia militar é irresponsabilidade(…). A nossa polícia não vai sair da rua, nós estamos cada vez mais fazendo o cerco aos grupos criminosos.” Uma declaração incompatível com a história do PT e com o compromisso que os governos petistas deveriam ter com a vida do povo negro.

Muitos militantes petistas estarão nas ruas no dia 24, pedindo o fim das chacinas, a desmilitarização das policias, câmeras em uniformes de agentes armados. E depois, na luta que deve continuar preparando uma luta ainda mais ampla até o 20 de novembro.

Priscilla Chandretti

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