No dia 17 de julho, o ministro da Educação anunciou a reitores e pró-reitores das universidades, institutos federais e CEFETs (Centros Federais de Educação Tecnológica) o Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras (Future-se). Segundo o governo, o programa “tem por finalidade o fortalecimento da autonomia administrativa, financeira e de gestão das IFEs, por meio de parceria com organizações sociais e do fomento à captação de recursos próprios”. Trata-se explicitamente de um programa de privatização das instituições federais. As medidas decorrentes do programa confirmam isso.
As propostas do Future-se
Transferir a gestão das instituições públicas para Organizações Sociais (OS), alterando a personalidade jurídica das IFES (Institutos Federais de Ensino Superior), que passariam a ser entidades “públicas de direito privado”, com vistas a permitir a alienação do patrimônio, contratar docentes e técnicos ao arrepio do regime jurídico único (sem concurso), subordinar as instituições a projetos privados e incentivar o empreendedorismo, inclusive por meio de remuneração privada de professores, com os já conhecidos mecanismos de premiação.
Subordinar a produção intelectual – patentes, projeto, consultorias e cursos- à possibilidade de comercializá-la com fins de manter o funcionamento das IFES, pondo em questão a liberdade da pesquisa e da produção científica, que passariam a depender de resultados no mercado.
• Estabelecer metas, controles, indicadores e, inclusive, teto de gastos com pessoal.
• Criar um Fundo de “autonomia” para financiar pesquisas, advindo de venda do patrimônio das IFES e da cobrança de mensalidade na pós-graduação, além de recursos oriundos de prestação de serviços, reduzindo ou extinguindo o financiamento público e colocando em quadro de extinção as atividades acadêmicas que não se voltem para o mercado. Decorrente desta visão, comercializar bens, produtos e marcas e colocar seus ativos para girar no mercado financeiro, buscando capitalização.
• Criar um comitê gestor cuja composição não está clara, que definirá a utilização do dinheiro do fundo, seus investimentos e inclusive “definir o critério para aceitação das certificações, para fins de participação no processo eleitoral dos reitores”.
Maior ataque da história ao ensino superior
Segundo o ministro os professores poderão “ficar ricos”, com remuneração e patentes desenvolvidas pela OS. Já os departamentos que atraírem empresas e startups poderão se beneficiar com um percentual de lucro auferido.
Para tanto, o Programa Ministerial pretende extinguir a autonomia, não apenas acadêmica, mas administrativa das IFES, extinguindo ou tirando prerrogativas dos órgãos colegiados, e introduzindo a figura dos executivos como gestores.
Trata-se do maior ataque ao ensino superior público da história e, por isso, já há reação.
Por iniciativa do Renova Andes, o 64º CONAD do ANDES-SN (Conselho Nacional do Sindicato dos docentes do ensino superior) adotou um manifesto de alerta e, a seguir, oito entidades nacionais da educação divulgaram uma nota conjunta convocando o dia nacional em defesa da Educação e da Aposentadoria em 13 de agosto para derrotar o Future-se.
Na base, professores, estudantes e mesmo administrações reagem. Na UFPB (Federal da Paraíba), a partir da convocação pela reitoria de uma assembleia universitária extraordinária, mais de 2000 estudantes, professores e funcionários acorreram ao auditório que não comportou a multidão. A assembleia teve que ser transferida para o Centro de Vivência da Associação de Docentes da Universidade.
Mesmo com a proposta da reitora de conhecer e discutir o Future-se a disposição da assembleia foi de organizar a resistência ao programa, o que levou a reitora Margareth Diniz a concluir sua fala dizendo: “juntos nós somos muito mais fortes, e é nesse conjunto e nessa determinação que nós vamos, certamente, dizer não ao ‘Frature-se’”, referindo-se ao programa.
A Carta de Vitória emanada do Conselho da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais do Ensino Superior (ANDIFES), que reúne reitores das IFES, também conclama, diante da iniciativa do governo, à defesa do caráter público e gratuito das instituições.
Este movimento deve desaguar numa forte paralisação em 13 de agosto, capaz de abrir um período de lutas que derrote a sanha destruidora do Governo Bolsonaro.
Eudes Baima