A jornada nacional do tradicional Dia do Estudante da UNE (apoiada pela Campanha Fora Bolsonaro) ficou aquém do necessário no enfrentamento da ameaça de Bolsonaro às eleições.
Quem esperava uma maré humana ao redor da Carta aos Brasileiros de 2022 no Largo de S. Francisco se frustrou com os 8 mil presentes (segundo o Estadão).
A grande mídia destacou o ato do Salão Nobre com a Fiesp e a Febraban, onde o orador oficial, José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça de FHC, anunciou o “capital e o trabalho juntos”. Fato tristemente confirmado no site da CUT (“união de sindicatos, empresários e sociedade civil”).
Eventos em outras faculdades de Direito foram simbólicos. Os demais atos da agenda da UNE foram tensionados por divisões internas, e não atraíram o povo.
Como a campanha de Lula não assumiu até agora o enfrentamento da ameaça às urnas, o vazio foi ocupado por uma conjunção inédita: juristas e empresários de peso (mas não todos), com o discreto apoio da administração Biden, se juntaram às entidades populares em defesa da Constituição e pelo “respeito do resultado das eleições”.
A elite associada ao capital internacional fala de democracia, mas esvaziada de direitos sociais – afinal, apoiou as contrarreformas para reduzir o custo do trabalho – e mesmo sem real soberania popular, pois apoiou a deposição de Dilma e a prisão de Lula. As entidades calaram sobre isso em nome da defesa da Constituição emendada 120 vezes e desfigurada. No fim, foram elas que mobilizaram um setor magro para essa elite sem povo discursar. A elite mesmo não empolgou e não mobilizou nem as classes médias.
O Diálogo e Ação Petista decidiu participar dos atos de rua com panfletos e pirulitos dizendo o que tem que ser dito, mas sem se engajar na “defesa da Constituição”. O único ponto de unidade é o “respeito do voto popular”. Teria sido um momento, apesar das contradições, para começar uma oportuna campanha pelo respeito do voto; é discutível saber se foi.
Lula, maior interessado no respeito ao voto
Falando para a elite, Bolsonaro pediu que o julguem pelo que “está fazendo”. De fato, a privatização e a desregulamentação são apoiadas pelo empresariado, e não só do agro. Quanto ao eleitor popular, Bolsonaro espera o efeito das benesses paliativas que começou a distribuir. E ele ainda maneja o efeito da tutela militar sobre o TSE acovardado, avançando numa “apuração paralela”, já possibilitada pelas recentes normas do TSE.
Então, se as benesses não fizerem o efeito desejado, se uma manipulação de pesquisas de véspera não causar confusão suficiente, ainda lhe resta o recurso ao tumulto da apuração. Quem garante que é blefe?
Nessa situação, o interesse maior do povo é que a campanha de Lula encha as ruas dialogando com a massa sobre os direitos sociais e o respeito ao voto popular ameaçado. Lula vai nesse sentido quando recusa “a privatização do SUS”, mas confunde sua base falando que vai ter “reforma administrativa, sim” e, sobretudo, quando afirma que “os militares são mais responsáveis que Bolsonaro”. Quem garante? E qual o preço pedem os militares?
Estão previstos comícios no dia 18 em Belo Horizonte e no dia 20 em São Paulo, numa programação que continua até outubro, com banquinhas e panfletagens, a qual deveria incluir a resposta ao 7 de setembro bolsonarista numa jornada nacional no dia 10.
Candidaturas nas ruas
É nessa agenda que se engajam os candidatos a deputados apoiados pelo DAP nos vários estados em que estão presentes. Eles lutarão pela vitória de Lula para abrir caminho às medidas de emergência – aumento de salários, emprego, recomposição do orçamento social – e às reformas estruturais através de uma Assembleia Constituinte Soberana para terminar com a tutela militar e revogar as contrarreformas da previdência e trabalhista.
Tudo passa pelo respeito do voto popular em Lula. A campanha de Lula tem uma responsabilidade enorme para esclarecer e rechaçar as pressões dos militares.
João Alfredo Luna