Os presidentes de seis centrais sindicais – CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB – a secretária geral da Intersindical e o presidente da Pública (entidade de servidores) publicaram uma nota conjunta por ocasião dos atos em desagravo ao intento golpista de 8 de janeiro ocorridos em Brasília.
O primeiro parágrafo da nota atribui à eleição de Tancredo Neves no Colégio eleitoral da ditadura militar a abertura de “um novo período para o Brasil e seu povo trabalhador: a redemocratização”.
Recordemos que o PT, que jogou um papel central junto com a CUT na campanha pelas “Diretas Já” em 1984, boicotou o colégio eleitoral imposto pela ditadura, chegando a expulsar de suas fileiras os deputados federais que votaram em Tancredo contra o “mal maior” que seria Maluf. Tancredo morreu sem tomar posse, e apesar disso seu vice, José Sarney, num golpe branco, assumiu a presidência da República como homem de confiança dos militares.
A chamada “Nova República”, como corretamente denunciaram a CUT e o PT na época, foi o resultado do abandono das ruas que ferviam na campanha das “Diretas Já” por parte dos políticos da classe dominante, em favor de um arreglo com os generais da ditadura via eleição indireta no Colégio eleitoral.
Mas para os presidentes das centrais sindicais, a eleição indireta de Tancredo “redemocratizou” o Brasil. Que dirigentes sindicais ligados à herança de políticos que defendiam a “transição negociada por cima” que ocorreu na época falseiem a história, faz parte da ordem natural das coisas, mas como é possível que o presidente da CUT assine uma nota com esse teor?
Foram as mobilizações populares e, em particular, a onda de greves que a partir do ABC paulista se espalhou por todo o país, que solaparam as bases da ditadura militar, cujos generais decidiram entregar o poder aos civis, mas mantendo a tutela militar das instituições.
A Constituinte convocada por Sarney em 1986, que não era exclusiva e nem soberana, tampouco terminou com a tutela militar, que está presente no artigo 142 da Constituição de 1988. Essa tutela militar é o pano de fundo inclusive da intentona golpista de 8 de janeiro de 2022.
A nota faz uma defesa vazia de conteúdo social da democracia e das instituições atuais, as quais teriam derrotado “grupos” ligados ao “bolsonarismo saudoso da ditadura militar” que tentaram desconhecer o resultado eleitoral de 2022, escondendo o papel dos generais e das Forças Armadas em toda a trama golpista.
Sua conclusão é que é preciso “fortalecer os partidos políticos” – todos eles, inclusive os da direita golpista? – “o movimento social, as organizações de trabalhadores e as instituições que organizam nosso país” – instituições que incluem as Forças Armadas, um Judiciário sem qualquer controle democrático da sociedade, um Legislativo das emendas parlamentares bilionárias que consomem o orçamento público em favor de interesses particulares de deputados e senadores?
Enfim, uma nota pífia que ignora a luta da classe trabalhadora pelo fim da ditadura e em defesa de uma verdadeira democracia, luta que continua sendo necessária e não se limita ao plano político e institucional, mas se estende aos planos econômico e social para dar satisfação às demandas do povo trabalhador.
Julio Turra