Inflação dispara e achata salários

Enquanto a mídia e o mercado comemoram uma suposta recuperação do PIB (algo sem fundamento; em boa medida ilusório), trabalhadores sofrem pesado. Isso pode ser notado na maior aceleração da inflação às rendas mais baixas da população do que às mais altas.

Os preços de alimentos subiram muito mais do que os demais (serviços, incluindo salários) nos últimos 12 meses. Isso essencialmente por quatro motivos: 1- a alta do dólar, 2- o boom de preços internacionais de commodities (bens primário-exportadores, como grãos, alimentos e minérios/petróleo/gás), 3- desarranjo nas cadeias de oferta (incluindo o abandono do sistema público de regulação de abastecimento) e – agora – 4- a estiagem.

Os alimentos têm um peso relativo muito grande na cesta de consumo de quem é pobre. Quanto mais pobre maior tal peso, já que a renda (ou o salário) é muito baixa, quase não sobra dinheiro para consumir qualquer outra coisa que não seja comida. Assim, a inflação sentida pelo pobre (de 5% a 8% nos últimos 6 meses) tem subido muito mais do que a dos mais ricos (2% a 4,5%).

E essa inflação (medida pelo IPCA, do IBGE), particularmente dos itens mais sentidos pelos pobres, só não subiu mais até agora, porque com tanta gente desempregada, subempregada, informalizada, precarizada e, assim, com renda achatada, o consumo das famílias (a demanda) está muito fraco.

Isso limita a capacidade dos varejistas (lojistas e supermercados) em repassar por completo a alta dos preços no atacado. Entre abril de 2020 e abril de 2021, enquanto os preços agrícolas no atacado (medidos pelo IPA-FGV) tiveram alta de 52,3%, os preços de alimentos no varejo (item alimentos do IPCA) subiram 12,3%. O que significa que ainda tem repasse por vir, mesmo que defasado no tempo.

É um quadro de crescente rebaixamento do valor real do salário, ou seja, (para usar a expressão de Marx) de “redução do salário abaixo de seu valor”, “elevando a mais-valia absoluta”. Algo intenso como há tempos não se via.

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