Israel reforça dispositivos de repressão aos palestinos

Publicada originalmente no jornal “Informações Operárias” do POI francês, a reportagem que reproduzimos abaixo foi enviada por correspondentes palestinos do Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI).

A polícia e os serviços de segurança israelenses acreditam que as manifestações, que surgiram em cidades e vilas árabes, bem como em cidades ‘mistas’ nos territórios de 1948 (termo usado pelos palestinos para designar o Estado sionista) em maio de 2021, em oposição à guerra na Faixa de Gaza e aos ataques aos árabes em Jerusalém, podem ser retomadas a qualquer momento. Essas manifestações foram apoiadas, à época, inclusive por centenas de militantes judeus-israelenses.

Avaliando que, a qualquer momento, tudo pode voltar a acontecer, o parlamento (Knesset) votou, em 27 de dezembro, um plano preventivo para reprimir manifestações. Deputados árabes do movimento islâmico votaram a favor desse plano, denominado Shabtai (nome do inspetor geral da polícia israelense), o que só aumentou a raiva na população palestina do interior.

Os órgãos de segurança de Israel apontam que as principais áreas críticas são as cidades “mistas”, como Haifa, Acre, Jaffa, Lod e Ramallah, onde há uma população palestina minoritária, mas significativa. O plano prevê: aumentar a quantidade de guardas nos muros que separam parcelas de territórios controlados pelos palestinos; formar novos batalhões de reserva que possam agir como brigadas táticas de intervenção rápida dentro dos territórios de 1948 para reabrir estradas bloqueadas por manifestantes; recrutamento de 350 guardas de fronteira adicionais. Tudo para “segurar” a situação interna nas cidades mistas onde vivem juntos judeus e árabes.

A posição da juventude palestina
Entrevistamos três shebabs (jovens), mulheres, em três regiões distintas do interior, sobre estas novas ameaças.

Aya Mahasen Abd Elhadi, de Nazaré: “Não é surpreendente que Israel organize novos instrumentos de opressão e assassinato contra o nosso povo, seja nas áreas de 1948, na Cisjordânia ou em Gaza. Israel sabe muito bem que está enfrentando uma nova geração de palestinos. É a geração mais jovem que não conhece o medo, que está pronta para enfrentar e lutar pela liberdade. Eles não vão nos intimidar e não vamos recuar. A resistência e a luta vão continuar geração após geração até a liberdade e a libertação”.

Suhair Badarneh, de Haifa; militante pelos direitos dos prisioneiros palestinos e das mulheres: “A Intifada (rebelião) de maio passado acendeu o alerta vermelho para as autoridades israelenses. Palestinos do interior fecharam todas as principais vias do país. Protestos e greves paralisaram a economia. A polícia israelense ficou atordoada e nem entrou em dezenas de aldeias árabes por medo de enfrentar a determinação de nosso povo. Sobre esse novo plano, acho que os palestinos romperam a barreira do medo. No passado era a fase de autodefesa, hoje estamos na fase de desafio e contra-ataque. O tempo do medo de Israel acabou. Podem preparar planos de opressão e morte todos os dias, mas não vão quebrar a nossa vontade. Continuaremos a luta até a liberdade e a eliminação do regime de apartheid”.

Hanane Khatib, advogada, da aldeia Shaab, em Acre: “Considero, tendo em vista minha experiência na defesa dos detidos da Intifada em maio passado, que essa geração de jovens não conhece o medo, tem moral elevada, não tem medo de ser presa. Eles não têm medo de espancamentos ou tortura. É uma geração que tem muita vontade e patriotismo, uma geração que quer liberdade, uma geração de jovens inabaláveis ​​nos inquéritos da polícia israelense e do Shabak. Eles não confessam as acusações contra eles e desafiam a tortura psicológica e física durante o período de detenção. O plano de segurança aprovado pelo Knesset será derrotado diante da vontade da juventude palestina. A repressão e o terrorismo aumentam a força e a unidade do povo. Em 1976, no Dia da Terra, o governo israelense mandou as forças armadas para reprimir os manifestantes árabes nas aldeias da Galileia, o que deu origem à primeira Intifada pelos palestinos nos territórios de 1948, para defender sua presença em suas terras e também a sua identidade palestina. Diante da repressão, todas as pessoas nas aldeias saíram e expulsaram o exército israelense com pedras e coquetéis molotov, e essa cena se repetirá na próxima vez, se eles implementarem esse plano e fizerem entrar o exército nas aldeias e cidades árabes da região de 1948. Acredito que todos os tanques, todas as armas avançadas nunca serão capazes de superar a vontade do povo que anseia por liberdade, independência, libertação da ocupação, da opressão e da escravidão”.

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