Andes-SN decide lavar as mãos diante da luta eleitoral para derrotar Bolsonaro

Do site do Renova Andes, oposição à atual diretoria do sindicato.

O 65° Conselho de Seções Sindicais do Andes-SN (65° CONAD) se reuniu no fim de semana de 15 a 17 de julho. Foi a maior instância do sindicato a se reunir antes das eleições de outubro. E decepcionou a categoria!

A menos de 3 meses da eleição mais importante em ao menos duas décadas, esperava-se que o sindicato dedicasse parte do tempo deste evento para definir sua atuação em face da batalha de outubro próximo em que o povo brasileiro utilizará o voto para dar fim ao descalabro que foram estes 3 anos e meio de governo Bolsonaro. Uma luta no contexto de uma das maiores guerras já movidas no Brasil contra o conhecimento, ciência e em favor do obscurantismo. Afinal, o que se joga neste momento é se interromperemos ou não a destruição sistemática do país, incluindo a educação e o ensino superior.

De forma frustrante, mas não surpreendente, o 65º CONAD dedicou apenas 25 minutos, (incluindo aí encaminhamentos e votações) a esse debate em plenária final do evento, ao apagar das luzes de sua reunião.

A Diretoria do ANDES-SN não pautou as eleições. Nenhum projeto de resolução da Diretoria foi apresentado sobre o assunto. Apenas docentes do Fórum Renova Andes-SN propuseram um texto de conjuntura defendendo a centralidade das eleições e da importância de uma manifestação do ANDES-SN. Por meio do Texto de Resolução 9, propôs que o Sindicato Nacional escrevesse uma carta-compromisso com demandas da Educação, dos docentes do Ensino Superior, da carreira EBTT e da Ciência e Tecnologia para ser entregue ao expresidente Lula. A proposta perdeu. Os delegados optaram por entregar um documento para todos os candidatos, menos ao presidente Bolsonaro. Todos eles, exceto Lula, sem qualquer chance de vitória.

Além disso, o eixo da Carta não foi discutido, como propunha o TR 9 apresentado pelo Renova-Andes. Seu conteúdo foi remetido para ser adotado pela onipotente Diretoria do ANDES-SN que se baseará no “Caderno 2” que, importante como nossa referência, aprovado há muitos anos, não pode ser o único marco de nossa luta. O que foi aprovado é que a diretoria sozinha decida quais são estes eixos. Onde está a opinião e a discussão com a sua base, tão defendida pela atual direção?

Pelo visto, considera-se que estamos diante de uma eleição como todas as outras e não num combate de vida ou morte.

Difícil omitir o fato de que, no curso das intervenções, havia inclusive um constrangimento na discussão acerca das eleições por parte da força hegemônica no sindicato. Evitou-se até mesmo pronunciar a palavra “Lula”, se referindo ao ex-presidente como “O Candidato”.

É preciso sermos claros: a decisão meramente protocolar do 65º CONAD equivale a lavar as mãos diante da eleição mais importante da nossa história recente e da possibilidade de recrudescimento real do regime, que pode acarretar o silenciamento das IES e mais perseguições às nossas organizações e a pessoas.

Para coroar o total desprezo e alienação diante da luta que se avizinha, da possibilidade concreta de enxotar Bolsonaro e barrar o caminho ao golpe, a Carta de Vitória da Conquista (cidade onde se realizou o 65° CONAD), lida e publicada ao final do evento, literalmente não menciona as eleições de outubro, como se nossa categoria, uma das mais atingidas pela guerra de Bolsonaro contra o povo brasileiro, não tivesse nada a ver com
isso, reduzida a tarefa das eleições a um vago “derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas.”

Trata-se de uma atitude pela qual responderemos diante da história. Em face de uma eleição que aconteceu sob ameaça de golpe, em meio a episódios de violência política, e até assassinatos, o 65º Conad deu 25 minutos ao tema, tão somente para cumprir tabela. Não marcou posição para a eleição, não se dirigiu a Lula, nem indicou a urgência de vencer Bolsonaro no primeiro turno e menos ainda alertou para os riscos de um segundo turno.

Esta atitude infelizmente guarda coerência com a política do grupo dirigente do ANDES-SN, que há longo tempo vem pautando nosso sindicato, que passou pela negação do golpe e pela inércia diante dele (que além de tudo nos isolou das entidades populares que tentavam barra-lo) e que se consolida nesta política que nega a unidade urgente contra Bolsonaro, como denota a defesa intransigente da não-participação do Andes no Fórum Nacional Popular de Educação, chegando ao achincalhe de marcar o 65º CONAD nas mesmas datas da Conferência Nacional Popular de Educação que ocorreu em Natal-RN, conferência esta que reuniu quarenta e oito entidades, mais de mil e oitocentos trabalhadores e trabalhadoras da educação nos mais diversos níveis e não
só do Brasil, mas da América Latina. São atitudes que sempre nos pareceram mais com uma disputa em torno de projetos partidários do que propriamente uma preocupação com a autonomia e com as reinvindicações dos docentes em todo o país.

De novo invocando a Autonomia, que de fato se consubstancia numa neutralidade nas eleições de outubro, o Sindicato Nacional se esconde numa Carta “a todos os candidatos” para se negar ao diálogo com Lula. A Carta propunha sim um reconhecimento claro do papel do Lula nas eleições, o que sinalizaria que o Andes-SN estava entendendo o momento e se manifestava.

Em relação à recente nota da diretoria do ANDES ao jornal da AdUFRJ, manifestamos nosso estranhamento ao tom que foi utilizado para repreender um jornal cuja matéria jornalística está coerente com o debate político ocorrido e que optou por fazer uma charge em sua página de abertura. Podemos gostar ou não da charge, há entre nós as mais diversas opiniões sobre ela, mas emitir uma nota contestando-a é um movimento muito próximo à censura, e por isso repudiamos o modo como a diretoria do ANDES se dirigiu a uma de suas maiores e mais tradicionais seções sindicais.

Em muitas intervenções de membros da Diretoria, o que prevaleceu foi a linha de que cada um atue como achar melhor, mas que o Sindicato Nacional não pode se manifestar. Sindicatos, centrais, movimentos sociais e federações estão sim se manifestando porque entendem a excepcionalidade do momento. Felizmente a categoria docente não ficará neutra entre Lula e Bolsonaro. Temos certeza que a maioria da categoria vai responder com
força ainda no primeiro turno para acabar com este governo o quanto antes. É com esta maioria que o Renova ANDES estará nos próximos meses, erguendo barricadas contra Bolsonaro e marchando para derrotá-lo.

É esta disposição, malgrado a posição o 65º CONAD, que várias Seções Sindicais estão assumindo. Nós, do Fórum Renova ANDES, apelamos às Seções Sindicais a tomarem posição, entrarem na luta pela eleição de Lula ainda no 1º turno e a demandarem do candidato carta-compromisso que contemple as principais reivindicações da Educação, das IES e da docência.

Brasília, 24 de julho de 2022
Coordenação do Fórum Renova ANDES

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