A crise econômica derrotou o chavismo

Direita pró-imperialista ganha maioria de 2/3 na Assembleia da Venezuela

O fator decisivo para o resultado eleitoral de 6 de dezembro é a crise econômica que assola o país. Inflação recorde, recessão e escassez de produtos básicos, especulação, mercado negro e produtos estocados por empresários. O governo Maduro, nesse quadro, não deu respostas concretas à “guerra econômica” e suas consequências.

É certo que houve campanha da mídia, ingerência do imperialismo, diretamente dos EUA e também de seus aliados na região, (governo da Colômbia e o argentino Macri), mas a derrota contundente do Polo Patriótico, liderado pelo PSUV, indica que muitos trabalhadores e gente do povo, que antes apoiavam o chavismo, usaram o “voto castigo” contra o governo nessas eleições.

O resultado final deu à Mesa de Unidade Democrática (MUD) 112 deputados contra 55 do Polo Patriótico. Uma maioria de 2/3 que permite à oposição revisar tratados Internacionais, revisar a Lei Orgânica do Trabalho (LOTT) – que consagra as conquistas dos trabalhadores nos últimos 17 anos – promover reforma constitucional com referendo e até mesmo convocar uma assembleia constituinte e remover juízes e autoridades públicas.

A direita pró-imperialista e patronal teve uma larga vitória não tanto por sua própria força, senão pelo forte desgaste do governo, o que abre o caminho para uma crise política nas cúpulas do chavismo e no PSUV, num ritmo imprevisível.

Um militante chavista, diante do resultado, disse que não se podia esquecer daqueles que, em nome da revolução, aproveitaram seus cargos para apropriar-se de recursos de todos, de militares que “mancharam o uniforme” para traficar influência e roubar recursos do Estado, nem tampouco dos que tinham cargos no PSUV e impunham seus círculos de corruptos, pisoteando a vontade da base. É um sintoma do clima existente na militância.

O que fazer na nova situação?

Os deputados da MUD já declaram que irão ao choque contra os trabalhadores e os setores populares. Eles querem mudanças nas leis que suprimam o controle estatal na prestação de serviços públicos, no sistema de distribuição de moradias, e, principalmente, nas leis trabalhistas: eliminar a redução da jornada de trabalho para 40 horas, a estabilidade no emprego e outros pontos da LOTT. Também querem anistia para os delinquentes políticos presos (como Leopoldo López) e o retorno dos que abandonaram o país após o golpe fracassado contra Hugo Chávez em 2002.

A nova situação coloca na linha de tiro os direitos trabalhistas, as conquistas sociais e a soberania da nação. Vivemos em época de crise internacional do capitalismo, crise econômica e política nos países vizinhos, fruto de um cerco que se aperta do imperialismo para recuperar terreno perdido. Não ter levado até o fim a ruptura com o imperialismo e seus aliados locais, é a explicação de fundo para a derrota eleitoral do chavismo.

É necessária uma plataforma operária e popular para defender nossos direitos e conquistas, que atue num terreno de independência e autonomia dos trabalhadores, contra a ofensiva da direita pró-imperialista. Diante do que se anuncia para 2016, é preciso a unidade de ação do movimento operário, coletivos, movimentos sociais e da Central Socialista Bolivariana dos Trabalhadores (CSBT), levantando um plano de emergência para enfrentar a crise, a especulação e a guerra econômica.

Alberto Salcedo (Coletivo Trabalho e Juventude)

Artigo originalmente publicado na edição nº778 do jornal O Trabalho de 11 de dezembro de 2015

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