Carta de O Trabalho – Aos militantes do PSTU e do MES (Corrente do Psol)

Aos militantes do PSTU E DO MES (corrente do PSOL)

Golpistas acampados na FIESP, em São Paulo acolheram de bom grado cartazes “Fora Todos” afixados pelo PSTU-Conlutas, ao lado de faixas pelo impeachment. Na Folha de S.Paulo, Luciana Genro (do MES, corrente do PSOL que impulsiona o Juntos) ataca Lula, defende a Lava Jato e o juiz Moro; diz que não há risco de golpe e prega eleições gerais, como o PSTU.

Pretendem falar como “alternativa” ou “terceira via” ao enfrentamento de classe aberto na batalha do impeachment.

De um lado está a maioria dos grandes patrões nacionais da FIESP, FIRJAN, CNI, subordinados ao capital financeiro internacional. Eles têm pressa em fazer as contra-reformas para retirar direitos, flexibilizar a legislação trabalhista, desmontar a previdência social, privatizar. Seus agentes principais estão no poder judiciário. Legitimam-se estimulando e se apoiando em atos raivosos, açulados em uníssono pelos grandes meios de comunicação.

Do outro lado está a trincheira da esmagadora maioria das organizações dos trabalhadores: partidos, entidades sindicais independentes, da luta popular do campo e da cidade, movimentos de defesa de reivindicações parciais dos setores sociais oprimidos. Estão os mais importantes artistas, intelectuais, docentes, juristas, organizações da juventude, numa unidade tão ampla que nem o mais tacanho observador seria capaz de tachar de “governista”.

Onde está o PSTU? Onde está o MES-Juntos?

O PSTU não participa dos gigantescos atos unitários contra o ajuste fiscal e contra o impeachment, capitaneados pela CUT. Exige que, antes, “a CUT rompa com o governo”. Para o MES-Juntos são atos “para defender o governo e o Lula”.

Ora, na luta contra o ajuste fiscal e o golpe discute-se livremente a demora da direção em defender o PT (desde a Ação Penal 470 – chamado ‘mensalão”), a nefasta coalizão com o PMDB, a política econômica contrária ao mandato das urnas e todos os erros e contradições que se queira apontar no governo e no PT.

Ofensiva imperialista

Mas ninguém pode ignorar que a ofensiva para destruir o PT não decorre dos erros de sua direção mas, sim, daquilo que representa o partido para a luta dos oprimidos no Brasil e em toda a América Latina. Decorre, também, de um acerto, mesmo limitado, desprezado pelo PSTU e pelo MES: o regime de partilha no Pré-sal. É algo que o imperialismo não poderia perdoar!

O raciocínio de que não se pode lutar contra o golpe por causa das políticas do governo acaba cobrindo a ofensiva imperialista, cuja principal mola propulsora é colocar as mãos no Pré-sal. Serve, ademais, para esconder de militantes e simpatizantes que o golpe foi acelerado justamente quando a direção do PT girou de política.

A ilegal “condução coercitiva” de Lula se deu logo depois que o Diretório Nacional do PT decidiu apresentar ao governo um Programa de Emergência que rompe a lógica do superávit primário! O mesmo DN decidiu defender o Pré-sal, contra o acordo feito pelo governo para votar o projeto Serra! Nesse momento, os golpistas se deram conta de que não poderiam correr o risco de ver a classe trabalhadora voltar a se apoiar no PT para exigir suas reivindicações.

Mas, para o PSTU, “a classe operária e o povo pobre querem colocar para fora o governo Dilma o quanto antes”. Afirmação estonteante, pois no perfil dos atos dominicais anti-PT, quase 40% ganha acima de 10 salários mínimos (e 63% ganha mais de 5 salários mínimos).

“Fora Dilma o quanto antes” é apoio ao golpe

“Fora Dilma o quanto antes” é a política do imperialismo. Dizer que é também a vontade “da classe e do povo pobre” serve para justificar a aliança tácita do PSTU com a direita nas ruas e que é explícita em entidades sindicais (como no judiciário) onde sua “bandeira” é “expulsar o PT e a CUT do sindicato”. Exatamente como querem os reacionários.

“Não estamos diante de uma ameaça de golpe” que “significa a supressão das liberdades democráticas”, diz o PSTU. “Não há risco de assumir um governo que vai restringir as liberdades”, diz o MES. São posições alinhadas com o judiciário, a imprensa, Gilmar Mendes, Aécio, Fiesp, com os “milhões de Cunhas” tirando “selfies” com a PM.

Acontece que as liberdades democráticas ainda não foram suspensas, justamente porque há resistência de massa contra o golpe em curso e cujas ameaças são evidentes: intimidação da PM no sindicato dos metalúrgicos do ABC e depois um diretório do PT; agressões indiscriminadas contra pessoas usando vermelho; ataques às sedes do PT, PCdoB, UNE, CUT; decreto do Ministério Público Federal de Goiás proibindo atividade “política” nos campi universitários; assassinato de sem terras; hostilização de militantes e parlamentares que não se alinham aos golpistas! O que esperam o PSTU e o MES-Juntos? Que o PT seja proscrito e se generalize o ataque para destruir as organizações dos trabalhadores?

Moro e a Lava Jato combatem a corrupção?

Luciana diz não concordar com as arbitrariedades de Moro contra Lula, mas discorda que são sinais de golpe do Judiciário. Argumenta que são excessos cometidos todos os dias “contra os pobres”. E defende Moro (“não é fascista”). Para ela, então, é corriqueiro um juiz de primeira instância articular-se com a imprensa, em nível nacional, para cronometrar vazamentos seletivos, gravações ilegais da Presidente da República ao ritmo dos atos para derruba-la. É normal o autoritarismo bonapartista de Moro, ao emitir nota pública, enviada para a Globo divulgar, visando a capitalizar a imagem de “herói” construída no 13 de março.

Não imaginam o PSTU e o MES-Juntos que esse arsenal jurídico está agora contra o PT, para depois ir contra todo o movimento operário, popular e democrático? Ou acreditam que “quem não deve não teme”? Somente “políticos corruptos” estão na mira da República de Curitiba?

O MES-Juntos lamenta que os “excessos que Moro cometeu” sejam usados para desmoralizar a Lava Jato. Já o PSTU justifica o “Fora todos” dizendo que “não basta avançar na investigação sobre Lula, é preciso apurar também as falcatruas do PSDB, PMDB, DEM”. “Exigência” que só pode ser à Lava Jato, ao seu juiz e seus promotores.

Em ambos, a negação de que há um golpe em curso é para fazer crer que estamos diante da “luta contra a corrupção”!

Eleições gerais sem Constituinte

Para o PSTU, os trabalhadores devem “exigir eleições gerais já”, mas com regras mais democráticas. Só faltou explicar a quem fazer essa “exigência”, quem convocaria as eleições e estabeleceria as novas regras? Para o MES-Juntos basta o Congresso (esse que está aí!) aprovar projetos que já existem de referendo revogatório.

Ambos se desviam cuidadosamente da luta democrática pela Constituinte da reforma política para passar a limpo as instituições herdadas da ditadura, inclusive o judiciário.

Mas pouco importa. Para o MES-Juntos a expectativa de eleições (gerais e municipais) é esperança de “oportunidade de crescimento” pois “a crise tende a radicalizar a classe média que pode ir tanto para direita como para a esquerda”.

E o PSTU explica que sua proposta de eleições gerais não é solução é só meio de propagandear que para alcançar “a verdadeira mudança os trabalhadores precisam lutar por um governo socialista baseado em conselhos populares”.

A raiz dos desatinos

Toda essa política – sobretudo do PSTU, mas parcialmente mimetizada pelo MES-Juntos – parte de um único ponto (PSTU): “Não tem como lutar contra o ajuste fiscal sem lutar contra o governo”. É preciso “derrubar esse governo que só ataca a classe trabalhadora”.

Significa que para defender os trabalhadores (por exemplo, contra o ajuste fiscal) é preciso, antes, que o PSTU derrote o PT, “partido traidor”, para que as massas entendam (finalmente!) que o PSTU é a “alternativa de direção”.

Ocorre que o próprio PSTU reconhece que “não temos essa alternativa”. Quer dizer, uma vez “derrubado o governo Dilma” não virá um “governo socialista baseado em conselhos populares” e, sim, um governo abertamente pró-imperialista. Também o MES reconhece que Temer fará “com mais força ajustes contra o povo”.

Quando milhões engajam uma resistência contra a ofensiva golpista que visa a destruir o PT, uma vitória contra o golpe poderia abrir uma nova situação favorável aos trabalhadores e setores populares, que passariam à ofensiva. Mas a “estratégia” do PSTU e do MES-Juntos coloca seus militantes de costas e contra essa possibilidade real, pois sua orientação prioritária é combater o “PT traidor”, acreditando que vão poder se aproveitar da situação de derrubada do governo Dilma por forças a serviço do imperialismo.

Não é por acaso que desaparece o imperialismo como inimigo principal e a própria noção da frente única anti-imperialista. A palavra “imperialismo” sequer existe na entrevista de Luciana e no artigo de Zé Maria na Folha de São Paulo.

E, no entanto, desde o 4o. Congresso da Internacional Comunista, os revolucionários aprenderam, com Lênin e Trotsky, que, nos países coloniais ou semi-coloniais (como o Brasil) é um “oportunismo da pior espécie”, a atitude de dirigentes “defender exclusivamente o interesse da classe operaria”, algo que os desacreditava face às amplas massas, incapacitando-os para a revolução.

Quando se abre um enfrentamento entre as classes fundamentais dias valem semanas, semanas valem meses.

Na instável situação em que se encontra, o Brasil o país pode inclinar-se para a direita ou para a esquerda, com impacto por muitos anos na situação do conjunto da América Latina.

Com toda independência e liberdade de crítica, que o movimento operário brasileiro conquistou no processo de construção do PT e da CUT contra a ditadura, os militantes do PSTU e do MES-Juntos tem seu lugar na ampla frente que se constituiu contra o golpe.

Ocupar esse lugar equivale a impedir que o PSTU e o MES-Juntos continuem a contribuir para o Brasil virar à direita.

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