Por dois meses, manifestações de massa estão mostrando a força que tem a determinação emancipadora dos povos da Tunísia, do Egito, da Líbia, Iêmen, Bahrein e vários outros.
Eles mostram que a revolução em nossa época é possível. Desestabilizaram completamente a situação no norte da África e Oriente Médio. E já trouxeram um abalo de conjunto na ordem imperialista mundial, encabeçada pelos EUA, sob o fundo da crise capitalista.
2ª ONDA NA TUNÍSIA
O país que deflagrou a revolta vive agora uma 2ª onda.
Após 10 dias de mobilização apoiada nos comitês municipais e regionais de vigilância e proteção da revolução, que reuniram num crescendo 500 mil pessoas na praça central de Tunis, acaba de cair o odiado primeiro-ministro Ganuchi, continuador do governo Ben Ali, do RCD, ao qual serviu.
Reportagem do jornal Informações Operárias, do POI francês, registra a motivação de um jovem na praça, “não podemos ter um governo com traidores dentro”, assim como um professor primário: “precisamos renacionalizar o que as famílias Trabelsi e Bem Ali espoliaram. Há um mês esperamos, mas não mudou nada. Nossa bandeira é clara, uma Assembléia Constituinte”.
Nesse situação, a própria central sindical, UGTT, que chegara a dar certo crédito ao governo de “transição democrática” patrocinado pelo imperialismo, girou. O secretário-geral da UGTT, Hacine El Abassi, pediu a “imediata demissão deste governo, em total contradição com as exigências da revolução. É preciso um governo de salvação pública, e a eleição de uma Assembléia Constituinte Soberana”.
Três horas depois desta posição ser reiterada pela Executiva da UGTT, no dia 27, Ganuchi renunciou, e outros ministros em seguida. No seu lugar, assumiu Essebssi como primeiro-ministro, um velho cacique do tempo de Bourguiba, o fundador do regime do RCD.
Em paralelo, no Egito, ao longo desta semana, também cresceram as mobilizações pela demissão do primeiro-ministro Shafik, que terminou renunciando 4ª feira. Ao mesmo tempo, no Egito como na Tunísia, os trabalhadores se organizam, sucedem-se greves por reivindicações salariais e pela depuração dos prepostos do antigo regime.
PERIGO NA LÍBIA
Mas a revolução não é nem pode ser linear, tem avanços e recuos.
Na Líbia, por exemplo, onde eclodiu um movimento de massa contra o regime do ditador Kadhafi (v. artigo abaixo), o imperialismo tenta efetivamente explorar a situação e retomar a iniciativa perdida na região.
O acionamento pela ONU do Tribunal Penal Internacional contra Kadhafi é uma farsa, o TPI julga quem os EUA quiserem, com uma cláusula que exclui os próprios EUA de qualquer julgamento (quem se esqueceu do que eles fazem hoje mesmo no Iraque ou Afeganistão?). A suspensão da Líbia do Conselho de Direitos Humanos da ONU é outra hipocrisia das potencias que – no ano passado! – recém admitiram o ditador no CDH.
Mas o fato é que os EUA já puseram a sua 5ª Frota em alerta, e barcos seus e de membros da União Européia já rumam para a Líbia, sob pretextos “humanitários”.
Na realidade, por trás da “preocupação” com a Líbia está o controle de uma fonte de petróleo, e uma intervenção ameaçadora a dois países vizinho, justamente a Tunísia e o Egito. Ninguém sabe o que acontecerá nos próximos dias. Há posições de governos da região contrários à intervenção militar, como a Turquia.
Da parte do governo Dilma há a respeito declarações contraditórias de ministros e embaixadores que não ajudam a causa popular e a paz mundial.
Compreende-se que o governo Chávez, ele próprio ameaçado, manobre com iniciativas diplomáticas para evitar uma intervenção que poderia prenunciar outras. Mas nada justifica tratar de “amigo” um Kadhafi privatizador e entreguista, hoje odiado pelo próprio povo, portanto, pelos povos solidários do mundo.
É nesse cenário que, após o Carnaval, vem em visita ao Brasil o presidente Obama nos dias 19 e 10.
De nossa parte, desde já, reafirmamos, como farão outras organizações sindicais e populares, nosso comprometimento com a rejeição de qualquer aventura imperialista, partidários que somos da autodeterminação dos povos.
O que hoje, em nosso continente, implica na defesa da
soberania do Haiti com a retirada das tropas da Minustah, comandadas por generais brasileiros.
SOLIDARIEDADE COM A REVOLUÇÃO NA TUNÍSIA E NO EGITO!
NENHUMA INGERÊNCIA DOS EUA NA LÍBIA!