A candidata Harris, apoiadora do genocídio, tenta permanecer discreta

Ela recusou presidir o Congresso que acolheu Netanyahu, e ao mesmo tempo condenou com virulência os manifestantes em frente ao Capitólio

A situação política nos Estados Unidos está extremamente polarizada entre as candidaturas de Trump e Harris. Essas tensões se traduzem nos movimentos contraditórios das direções sindicais. Por um lado, a grande maioria das organizações sindicais anunciou imediatamente o seu apoio à candidatura de Harris. Por outro lado, sob pressão da rejeição maciça dos trabalhadores ao papel que os Estados Unidos desempenham no Oriente Médio, sete destes sindicatos (incluindo alguns muito importantes) enviaram uma carta a Biden pedindo-lhe que pare imediatamente toda a entrega de armas para Israel.

Essa rejeição também se expressou nas grandes manifestações que ocorreram em frente ao Congresso enquanto Netanyahu discursava no local. Milhares de manifestantes se reuniram, gritando “Palestina Livre” e “Netanyahu, você não pode se esconder, você está cometendo um genocídio”.

Harris é candidata a continuar as políticas de Biden, nos Estados Unidos e no Oriente Médio; mas, para ser eleita, não pode endossar abertamente as imagens de crianças massacradas em Gaza. Por isso recusou-se a presidir a sessão do Congresso que deu as boas-vindas a Netanyahu. No entanto, isto não a impediu de denunciar os milhares de manifestantes que protestavam contra a vinda de Netanyahu, condenando os “atos desprezíveis cometidos por manifestantes antipatrióticos e um discurso alimentado pelo ódio”.

Isso também não a impediu de se encontrar com Netanyahu e de declarar o seu total apoio ao direito de Israel a se defender “inclusive contra o Irã”. Claro, ela acrescentou algumas palavras de cautela, expressando preocupação com as mortes de civis inocentes e com a crise humanitária em Gaza, mas garantindo a continuidade do fornecimento de armas a Israel.

Uma manobra para evitar qualquer debate

Da mesma forma, muitos membros democratas do congresso se abstiveram de assistir ao discurso de Netanyahu, tanto que, para não dar a impressão de que o salão estava vazio, muitos externos ao congresso foram convidados a preencher as bancadas desocupadas. O apoio inabalável do aparelho democrata a Israel tenta ser tão discreto quanto possível.

O aparelho democrata conta com o fato de que, agora que Biden desistiu, nenhum outro candidato além de Harris se declarará (ou pelo menos não obterá os 300 patrocínios de delegados necessários para apresentar a sua candidatura), para acelerar o processo da sua nomeação. A indicação poderá ser oficializada já na próxima semana, após uma votação à distância, esvaziando de conteúdo a Convenção prevista para o final de agosto. É uma manobra destinada a evitar qualquer debate, em particular, qualquer debate sobre o apoio dos Estados Unidos ao genocídio em Gaza. Tudo isto não impede que sejam planejadas manifestações diante da Convenção Democrata para denunciar a política de Biden de apoio ao exército israelense.  A carta dos sindicatos a Biden é um novo elemento importante na preparação desse evento. 

D.S.
Publicado no jornal francês Informations Ouvrières ed.819
Tradução Adaias Muniz

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