A íntegra do discurso de Mélenchon após o resultado das eleições

Discurso de Jean-Luc Mélenchon na celebração do resultado do 1º turno presidencial na noite de 10 de abril de 2022, no Cirque d’Hiver, Paris, França.


A luta continua!

Uma nova página na luta está se abrindo. Vocês se aproximarão dela, e nós a abordaremos com o orgulho do trabalho realizado. Esta imensa força que construímos com nossas mãos, tantas vezes sob desprezo e insultos, ela está aqui. E para cada etapa, ela estará aqui, se vocês decidirem preservá-la, cuidar dela como até agora, apesar de tudo.

Esta manhã, foi um lindo dia em Marselha. Os raios do sol saltavam de onda em onda, sobre o mar. Esta manhã, enquanto me preparava para entrar neste evento do qual nada sabia, os ecos do Oiapoque, fronteira francesa com o Brasil. E depois, os do Maroni. E depois, os da Martinica. E depois, os de Guadalupe. E depois, os da Reunião. Quem, no primeiro turno, me elegeram como seu presidente. Eu vi em suas decisões, o que elas significavam plena e completamente. O estado em que o país e seu povo se encontram, em todas as partes do território: um estado de exasperação e o sentimento de que entramos em um estado de emergência, ecológica, social e, agora, outra vez vemos esta noite, um estado de emergência política.

Porque o quadro que vocês tem diante de vocês, como foi pretendido, não por nós, nem mesmo pelo povo francês, mas pelas instituições da Quinta República, e por este estranho sistema de sorteio que resulta em pedir-lhes que escolham entre dois males, que vocês sentem que são, ambos, terríveis para vocês e que não são da mesma natureza. E cada um de vocês se depara com a parede de sua consciência, na decisão que deve tomar. É da condição humana ser constantemente confrontado a decisões que muitas vezes são difíceis de tomar.

Bem, da última vez, o que aconteceu? Eu lhes disse o que lhe direi novamente: não, eu conheço sua raiva, meus compatriotas, de todos vocês com quem falei há pouco. Eu conheço sua raiva. Não deixem que isso os faça cometer erros que são irreparáveis. Enquanto a vida continuar, o combate continua! E é meu dever dizer-lhes, como o mais velhos entre vocês, que a única tarefa que temos para nos dar, é aquela que o mito de Sísifo realiza: a pedra cai barranco abaixo, então a puxamos para cima.

Vocês não são fracos e nem desprovidos de meios. Vocês estão aptos a travar esta batalha, e a próxima, e a próxima, tantas quantas forem. Olhe para mim: eu nunca desisti, nunca cedi, nunca olhei para baixo, e foi assim que construímos esta força.

Portanto, agora é com vocês. Na batalha que se avizinha, construímos o polo popular. Porque ele estava lá, todos os tipos de pessoas puderam aproveitá-lo para votar e nos levar a este ponto.

As batalhas estão chegando. Não vamos cometer o erro de nos desviar, assim que chegarmos lá. Sabemos em quem nunca votaremos. E para o resto, como eu lhe disse há cinco anos, você se lembra que houve algum dano após nossa declaração? Quem eles pensam que são os franceses? Eles são incapazes de saber o que fazer? Eles são capazes de decidir o que é bom para o país. Nunca perderemos nossa confiança na democracia. Portanto, você não deve dar um voto à madame Le Pen.

Por isso, sei bem disso, repito, porque às vezes, mesmo quando digo coisas, é como se eu não as tivesse dito. Por isso, começo novamente neste ponto do filme: você não deve dar um único voto à madame Le Pen. Você não deve dar um único voto à madame Le Pen. Você não deve dar um único voto à madame Le Pen. Acho que a mensagem nesta parte foi ouvida. E agora, o que vamos fazer? Abriremos a página e as 310.000 pessoas que me patrocinaram, darão seu ponto de vista.

Isto dito, não vamos esconder a violência da decepção. A violência da decepção é, antes de tudo, pensar em tudo o que teria sido feito, e o que não será feito. E isto, mais do que qualquer outra coisa, me preocupa. O que eu estava me preparando para fazer, o que eu pensava estar imediatamente ao nosso alcance, as belas equipes que tínhamos à nossa disposição, e que estavam prontas para assumir todas as tarefas que tinham que ser realizadas.

Sim, é uma decepção. Mas, ao mesmo tempo, como posso me esconder? Eu sou como você. Como você pode esconder o orgulho do trabalho realizado? O polo popular existe. Se não estivéssemos aqui, o que restaria? O que nós teríamos? Nós não teríamos nada. E nós construímos esta força. Estou falando com vocês, que estão aqui nesta sala, não para lhes dar as palavras calmantes de conforto, ou falar sobre a boa aparência que deveriam ter. Não tenho boa aparência e não quero ser consolado, só conheço meu dever e peço que vocês façam o mesmo. A luta continua. A luta continua!

Dizemos a todos aqueles que, até agora, não o quiseram ouvir, aqui está a força. Nós temos uma estratégia: o polo popular. Nós temos um programa. Temos outras eleições à nossa frente. Manteremos nossa posição em todas as etapas. Pensem nisso. Claro, os mais jovens me dirão: “bem, ainda não chegamos lá?”. Não está muito longe, hein. Façam melhor. Obrigado.

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