A resistência cresce e se aprofunda

Depois do dia 18, aumentam as manifestações contra o golpe

Nas ruas, em assembleias de trabalhadores, em manifestos, atos e panfletagens, cresce a mobilização para barrar o golpe em marcha. No fechamento dessa edição se preparavam as manifestações de 31 de março. Enquanto o Judiciário, com o justiceiro Moro à frente, avança como ponta de lança do golpe e o Congresso Nacional, comandado pelo reacionário e desqualificado Eduardo Cunha, se agita para votar o impeachment, nos bairros, fábricas e universidades organiza-se a luta contra o golpe.

É esse trabalho na base que pode desmontar a manipulação do Judiciário – desde a “República de Curitiba”, passando pela sede da Fiesp em São Paulo e chegando ao Congresso Nacional – e frear a escalada golpista.


“SIM, contra o golpe, pelos direitos”

Metalúrgicos da Ford e da Vokswagen de São Bernardo mostram-se disposto à luta

Convocada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, duas assembleias reuniram os quatro mil trabalhadores da Ford, no último dia 22. As primeiras, da rodada de assembleias que o sindicato irá realizar na sua base.

“As assembleias aconteceram entre 9h e 11h. A primeira foi realizada na unidade de caminhões e estamparia. A segunda, na planta de montagem de carrocerias e pinturas.

Dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC debateram com os trabalhadores e trabalhadoras os riscos de quebra da ordem institucional, caso Dilma perca seu mandato sem provas de ter cometido crime e que Lula continue sendo perseguido pela Justiça – também sem provas.

‘O golpe já está acontecendo”, narrou o secretário-geral da CUT-SP, metalúrgico João Cayres. “Se ele se consumar, o passo seguinte será o ataque aos nossos direitos trabalhistas e individuais’, completou.

Cayres lembrou que já existem no Congresso Nacional projetos que pretendem generalizar a terceirização no mercado de trabalho, entre outros, e que representantes da oposição vêm sistematicamente defendendo a redução do salário mínimo e a flexibilização das leis trabalhistas. “Com o golpe, o caminho para a concretização desses ataques estará livre, argumentou Cayres”.

Ao final, foi feita à assembleia pergunta: “Vocês querem lutar contra o golpe e em defesa dos direitos trabalhistas? ”. “Sim”, responderam os trabalhadores com as duas mãos erguidas.

Na Volks, barrar o golpe, mudar de política

Na assembleia da Volks, os trabalhadores manifestaram o descontentamento com efeitos recessivos do ajuste fiscal. “O Sindicato sabe que existem críticas à presidenta Dilma e à condução da política econômica entre os trabalhadores”, reconheceu Rafael Marques, presidente do Sindicato, diante dos metalúrgicos. Está aí uma demonstração viva que a luta contra o golpe coloca a responsabilidade do governo Dilma mudar a política econômica que prejudica os trabalhadores. Rafael conclamou “’os metalúrgicos a uma jornada para resistir e avançar. O Sindicato é e sempre será dos trabalhadores e o nosso compromisso maior é zelar pelos direitos de todos”, disse. “Os companheiros aprovaram a união e disposição de luta contra qualquer tentativa de ameaça”.

Fonte: site da CUT



Manifestos e abaixo-assinados repudiam o golpe

Professores, escritores, artistas, editores, juristas e sindicalistas se pronunciam

As forças vivas do país, comprometidas com os interesses da maioria do povo, da democracia e da nação, se posicionam contra o golpe.

Um abaixo-assinado encabeçado pelo professor da USP, Antônio Cândido, lançado com centenas de adesões, afirma que “o impeachment, instituto reservado para circunstâncias extremas, é um instrumento criado para proteger a democracia. Por isso, ele não pode jamais ser utilizado para ameaçá-la ou enfraquecê-la, sob pena de incomensurável retrocesso político e institucional”.

O abaixo-assinado, dirigido ao Congresso Nacional, afirma também que “por julgar que o processo de impeachment iniciado na semana passada pelo presidente da Câmara dos Deputados serviria a propósitos ilegítimos, em outras ocasiões muitos de nós nos pronunciamos contrariamente à sua deflagração (…) O que está em jogo agora são a democracia, o Estado de Direito e a República, nada menos. Acompanharemos tudo com olhos vigilantes e esperamos que, ao final do processo, a presidente da República possa terminar seu mandato”.

“Dizemos sim à democracia”

Outro abaixo-assinado, diz: “nós que escrevemos, produzimos, publicamos e fazemos circular o livro no Brasil, vimos nos manifestar pela defesa dos valores democráticos e pelo exercício pleno da democracia em nosso país, de acordo com as normas constitucionais vigentes, no momento ameaçadas (…) Ainda podemos nos recordar facilmente dos tempos obscuros da censura às ideias e aos livros nos 21 anos do regime ditatorial iniciado em 1964. (…) Ao percebermos as conquistas democráticas ameaçadas pelo abuso de poder e pela violação dos direitos à privacidade, à livre manifestação e à defesa, combinadas à agressividade e intolerância de alguns, e à indesejada tomada de partido por setores do Poder Judiciário, convocamos os profissionais do livro a se manifestarem em todos os espaços públicos pela resistência ao desrespeito sistemático das regras básicas que garantem a existência de um Estado de direito.

Dizemos não a qualquer tentativa de golpe e, mais forte ainda, dizemos sim à Democracia”. Assim que lançado, este abaixo-assinado contava com mais de duas mil adesões.

Advogados contra a OAB

Um grupo formado por renomados juristas e advogados, como Fábio Konder Comparato, Celso Antônio Bandeira de Mello e Dalmo Dallari, reagindo à decisão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de apoiar o impeachment de Dilma e entrar com novo pedido, entregou ao presidente da Ordem, Claudio Lamachia, no último dia 28, um requerimento em defesa da consulta ampla e direta sobre o pedido de impeachment da presidente. No pedido, os advogados lembram a postura da Ordem em 1964, quando louvou a “derrocada das forças subversivas” e ressaltam que “trata-se de um erro brutal e cujas consequências dramáticas em termos de perda da respeitabilidade da Ordem perante a história e sociedade brasileira sobreviverão em décadas o mandato dos atuais conselheiros da entidade. Essa decisão, por sua gravidade e consequências, que lembra o erro cometido pela Ordem em 1964, jamais poderia haver sido tomada sem uma ampla consulta aos advogados brasileiros (…)”.

Confirmando a disposição de que a OAB repeta a postura de 1964, Claudio Lamachia ignorou o requerimento e, no mesmo dia em que ele lhe  foi entregue, a OAB, sob protestos de centenas de advogados no Congresso Nacional, depositou nas mãos de Eduardo Cunha o novo pedido de impeachment.

Sindicalistas

Em ato realizado com a presença de Lula na capital paulista no último dia 23, cerca de mil sindicalistas presentes, lançaram um manifesto onde afirmam: “a ameaça de golpe daqueles que querem rasgar a Constituição está aprofundando a recessão econômica e o aumento do desemprego no Brasil. Com isso, a democracia, os direitos da classe trabalhadora e a soberania nacional correm sério risco.  Para fazer frente a esta conjuntura, nós, sindicalistas de diferentes tendências sindicais, reunidos neste ato, manifestamos total solidariedade à presidente Dilma Rousseff, legitimamente eleita pela maioria do povo brasileiro, e ao companheiro e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e exigimos a imediata efetivação de sua posse como ministro chefe da Casa Civil”.

Artigos publicados na edição nº 783 do jornal O TRABALHO de 31 de março de 2016.

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas