Alemanha: Resistência da base ecoa no congresso do Partido Social-Democrata

Posição contra a abertura de negociação para coalizão com Merkel tem grande apoio

O congresso extraordinário do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha, realizado em 21 de janeiro, desencadeou um terremoto. Na votação sobre a abertura de negociações para fechar uma coalizão de governo com Angela Merkel, 279 delegados (43,46%) se pronunciaram pelo não e 362 (56,39%) votaram sim.

Ainda que uma maioria formal tenha sido obtida, trata-se de uma derrota dramática para a direção do partido em torno de Martin Schulz, isto é, para a direção que, apesar de várias mudanças, representa a continuidade da política de contrarreformas da Agenda 2010, desenvolvida desde o governo Gerhard Schröder (SPD), de 1998 a 2005.

Tal rejeição à política da direção é, de certa forma, inédita num congresso do SPD depois da Segunda Guerra. E os números não correspondem à maioria real existente na base do partido. Em Colônia, por exemplo, às vésperas do congresso, mais de dois terços da direção local do SPD foram contra a abertura de negociações de coalizão. Em Dusseldorf, a subcomissão local havia votado o mesmo por ampla maioria. Em Dortmund, 90% dos delegados locais são contra a chamada grande coalizão (“GroKo”).

Quando Schulz tomou a palavra após a abertura do congresso, fez um discurso sem inspiração, longo e ruim. Sua incapacidade de “atingir os delegados” conforme os termos empregados mais tarde pela imprensa, demonstrou a defensiva e a insegurança da direção. Ficou claro que Schulz e os dirigentes do partido não poderiam ter obtido a maioria neste congresso sem o apoio da direção da DGB, central sindical alemã.

Combate continua
O congresso mostrou também que uma força amadurece no interior do partido. Vários oradores enfrentaram a direção. Muitos delegados vindos das fileiras dos jovens socialistas (Jusos) construíram essa resistência contra a linha da direção. O mesmo se aplica a Hilde Mattheis, a presidente da DL21 (corrente de esquerda do SPD).

Em um discurso inflamado, a delegada Gerlinde Schermer, de Berlim, lembrou que nem sempre, como se alega, é “o CSU” (partido bávaro aliado da CDU de Merkel) que impede o SPD de realizar uma política melhor, pois foi Sigmar Gabriel, membro do SPD e vice-chanceler no governo Merkel, quem introduziu a alteração constitucional que tornou possível mais uma etapa de privatização dos serviços públicos.

Em todo o país, os social-democratas acompanharam o desenrolar do congresso. Eles se sentem fortalecidos com a votação e encorajados a continuar o combate contra a “GroKo”.

Correspondente


Metalúrgicos em luta

Sem se deixar impressionar pelas brigas entre os negociadores da coalizão em torno de “correções de erros da Agenda”, os metalúrgicos alemães foram à luta. A direção do poderoso IG Metall, o sindicato dos metalúrgicos, tem dificuldades para conter esse movimento. Nas últimas semanas, mais de 900 mil metalúrgicos participaram de curtas greves de advertência. A direção do IG Metall convocou, então, pela primeira vez no país, greves de advertência de 24 horas na indústria metalúrgica e elétrica.

Os trabalhadores não aceitam correção de seus salários apenas pela inflação – reivindicam aumento real de salários para os três milhões de metalúrgicos. Querem também romper com o princípio patronal de que a redução da jornada de trabalho seja acompanhada da redução de salários. Há ainda uma retomada do combate contra a precarização dos contratos de trabalho e pela reconquista das convenções coletivas.

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